terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Zuckertüte

Na Alemanha, é costume que a criança receba, na saída do primeiro dia de aula do 1º ano, um cone de cartolina com doces, conhecido como Zuckertüte (Zucker=açúcar / tüte=cone, pacote). É ao mesmo tempo uma forma de estímulo, de encorajamento, e de marcar a passagem para o período de alfabetização. Também está relacionado com o valor que as famílias procuravam dar para a educação dos seus filhos.
Pra não exagerar no doce, vale encher com lápis coloridos e outros materiais escolares.
Hoje nossa mais velha recebeu sua Zuckertüte. Nos pais, fica aquele misto de emoção e angústia pelo crescimento do filho, parecido com o sentimento dos primeiros passos, das primeiras palavras... mas fica acima de tudo o desejo de ver sempre esse sorriso no rosto e essa alegria de retornar à escola.
Feliz Zuckertüte, Lorena. Te amamos!

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Casa nova

Nas postagens que escrevi até aqui, procurei achar um meio-termo entre minhas impressões sobre a paternidade e outras postagens mais leves e curtas, que contam um pouco como minhas filhas foram descobrindo como se expressar.
A partir de hoje (e depois de mais de um ano sem escrever) vou dedicar esse blog exclusivamente à sua essência, que são as chamadas "curtinhas": as frases mais engraçadas ou emocionantes que ouço das minhas filhas e os diálogos marcantes, que quero registrar pra não esquecer. Com isso, não corro o risco de me arrepender futuramente de opiniões que tenha expresso em público (o famoso "cuspir pra cima"), e além disso o blog fica mais focado.

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Há pouco mudamos para uma casa em um condomínio. O lugar é estilo Lajeado nos anos 1980: as crianças podem sair pra rua quase descuidadas, não passam carros (o barulho é zero) e a segurança é boa.
No primeiro fim-de-semana, a Lorena fez amizade com uma menina um pouco mais velha, que mora no fim da rua. Vamos chamá-la de Maria. Pois bem, ultimamente a Lorena acordava e ia dormir perguntando se podia brincar na Maria.
Essas meninas inventaram uma brincadeira de ladrão: tem um ladrão querendo entrar na nossa casa, temos que achar pistas pra investigar o ladrão, e por aí vai.
No domingo de noite, quem diz que a Lorena quer dormir? Aquele ladrão fictício ficou tão presente que ela não parava de chorar de medo da casa nova.
- Pai: Lorena, calma, aqui não tem ladrão, olha: tem muro em volta de todo condomínio, com arame por cima, tem muro na nossa casa, com cerca elétrica, tem portaria. Na portaria eles nunca deixam um ladrão entrar.
- Lorena: (Chorando) Mas se o ladrão se fantasiar?
...
- Pai: Lorena, olha só: agora a gente vai deitar na cama e fazer uma oração pra agradecer o Papai do Céu por essa casa nova, pelo pátio grande, pelas férias que passamos com as vós, por você ter conhecido a Maria, sua amiga...
- Lorena: (chorando mais) eu tô feliz com o Papai do Céu, pai. Eu só não queria que ele tivesse criado os ladrões!!


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Maria e Lorena brincando lá em casa.
- Lorena: Maria, sabia que eu quero ser professora quando crescer?
- Maria: é mesmo?
- Eu: e você Maria, o que quer ser quando crescer?
- Maria: eu quero ser MÃE!
- Eu: legal hein? de quantos filhos?
- Maria: uma menina e um menino.
- Eu: ah, um casalzinho então?

pausa pra pensar...

- Maria: não né tio, eles vão ser irmãos!

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No sábado de manhã tem um futebol com os colegas do trabalho. Embora o ambiente não tenha muita estrutura pra crianças, levei a Lorena algumas vezes, pois outros colegas levam os filhos e eles brincam durante o jogo.
Não tenho ido pois agora moramos mais longe, mas no último sábado fui prestigiar, pois depois do jogo ia ter um churrasco em comemoração ao aniversário de um amigo.
Indo pra lá, a Lorena assim:
-"papai, mas nesse churrasco você vai beber cerveja?"
-"não Lo, não posso"
-"porque não?"
-"porque vou dirigir depois, se beber eu fico tonto e posso bater o carro"

Pausa pra pensar no assunto. O dia seria quente.

- "pensando bem, vou tomar só um copinho, tá bom Lorena? Um copo não dá tontura."
- "mas pai, se você tomar um copo, não vai dar vontade de tomar mais?"

Guriazinha danada. Como é que ela conhece essa propriedade da cerveja??

-"não, Lorena, não vou não. Se eu tomar mais de um copo você me avisa pra eu parar"
-"tá bom pai. Mas eu vou falar no seu ouvido, porque tenho vergonha, tudo bem?"





quinta-feira, 30 de março de 2017

Pacote dos últimos meses

À medida em que as pérolas vão sendo produzidas, vou anotando aqui no blogger, e quando junto bastante material, eu publico. Assim vou tendo o registro pra não esquecer. Aqui vão algumas frases dos últimos meses.

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 Em uma postagem anterior, falei sobre como a Lorena dormia rapidinho ao andar no canguru, ou no carrinho, enfim, sempre que estava em movimento. Teorizei sobre a origem nômade do ser humano, e sobre os bebês só encontrando a verdadeira paz quando estão em movimento. Grande balela.

A Aurora é o contrário. Verdade que andei bem menos no canguru com ela, mas ela simplesmente prefere comentar os arredores a pegar no sono.
Acho que o segundo filho vem também pra quebrar nossas convicções sobre como funcionam os bebês.

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 A Lidi contou de uma amiga cuja filhinha de um ano derramou uma lata de tinta no chão do apartamento novinho.
- "eu não faço isso né mãe?"
- "é, que bom né minha filha..."
- "é, aqui em casa não tem lata de tinta..."

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Tem um dia na semana que as crianças fazem cozinha experimental na escola. Numa dessas, assaram biscoitos. A Lorena deu um biscoito pra tia e disse que estava recheado de veneno - para matá-la.
Nem a tia nem eu valorizamos muito a história. Os contos de fadas tradicionais realmente mexem com a cabecinha deles.

De qualquer forma, mais tarde no carro resolvi dar um alerta:


"-Mas Lorena, matar não é legal. A polícia te prende e você vai pra cadeia."
....
"- Papai, na cadeia tem lobo?"
"- Não"
"- Então qual é o problema?"

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"Meu Deus do céu"
"Lorena, pra que chamar assim à toa? Você sabe que quando você chama Ele te escuta.
Você sabe quem é Meu Deus? é o Papai do Céu."

Reflete um pouco... e começa a divagar...

"Pai, o Papai do Céu e o Papai Noel são pessoas diferentes.
Por exemplo, algumas pessoas têm cabelo loiro, algumas pessoas têm olho azul..."

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Fomos no parquinho, que estava cheio de crianças. Daqui a pouco:
"Pai, fiz amizade"
Se deu bem com uma menina, a Luisa. Brincou até.

De repente vejo ela se rebolando e botando a mão nas bermudas.
"-Lorena, vamos ali fazer xixi!"
"-mas pai, eu não quero."

Criança nunca quer ir no banheiro quando a brincadeira está boa.
"-quer sim, vamos ali rapidinho e já voltamos pra você brincar mais"

Peguei ela no colo pra ir mais rápido e evitar a tragédia.

"Mas papai, e se a Luisa for embora?"
pensou um pouco e serenou: "ah, eu posso fazer amizade com toodo mundo".

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Nesses tempos em que o noticiário só fala em crise:

Chuva às 6h da manhã = Dia de trânsito em águas Claras.
Vamos ligar o Waze pra ver o melhor caminho até a escola.
"-Papai, porque você ligou o fgts?"

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

curtinhas

Seis da manhã, eu ainda dormindo. Um vulto se para ao meu lado na cama, coloca a mão nas minhas costas e sussurra:
-"Papaaai"
-  "hmfblff"
- "papaaaaaaai"
- "... que foi Lorena? Não quer dormir mais um pouco?"
- "tinha um dragão.. e ele jogava fogo..."
 Hmm, sonhos ruins.


- "tudo bem filhote, o pai tá aqui, não deixa o dragão te pegar"
- "mas papai, você não estava no quarto, só nós duas, meninas pequenas"

E agora?
- "tudo bem filha, mas se ele viesse te pegar eu estava aqui pra proteger"
Não sei se fui muito convincente. Pelo jeito o sonho foi "assustadô".


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Piada pronta.
Levando ela pra escola de manhã: "-papai, porque você trabalha?"

Boa pergunta, também me questiono isso com frequência.
"-A gente trabalha pra ganhar dinheiro. Pra poder comprar comida, pagar a escola, comprar roupa..."
Pausa pra refletir.
"-Eu não sei trabalhar ainda"
 Outra pausa
"- e onde é que você trabalha, papai?"
"- eu trabalho na ANA"
"Na ANNA? Igual à Frozen??"


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Retornando...

Quando comecei a escrever esse blog, em junho do ano passado, vivíamos uma fase relativamente tranquila do desenvolvimento da Lorena, com 2 anos na época. Ela dormia a noite toda, estava acostumada na escola, já estava fortinha (raramente adoecia), se ocupava relativamente bem sozinha. Assim, consegui ter tempo pra relatar quase tudo o que de engraçado acontecia com ela.
Naquele momento já sabíamos da gravidez da Aurora, que viria a nascer em janeiro desse ano. Mas como é tão comum, a gente parece que se esquece do envolvimento necessário durante o primeiro ano de vida de um novo bebê. Agora com 9 meses, passamos nossos fins-de-semana cozinhando, dando de comer, lavando mamadeira, lavando babador, trocando fralda, botando pra dormir. Como optamos por ter uma rotina mais ou menos bem definida, com horários, a coisa vira quase como serviço militar. E nessa idade, ainda mais recém ingressando na escolinha, é comum a Aurora ter uma febre ou outra.
E a Lorena, pra completar, está muito arteira. Quando me perguntam se vou postar, tenho dito que vou escrever um B.O. e não mais um blog.

Nada de mal, e segue muito carinhosa com a irmãzinha. Mas com muita energia armazenada, vamos dizer assim.
Desnecessário dizer que, nessas condições, o blog acabou ficando em segundo plano (ou terceiro ou quarto).

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Adicionalmente, minha família passou por uma grande perda nesse período: a Gisela, que nos deixou em junho, depois de um processo doloroso de doença. Muitas pessoas escreveram depoimentos belíssimos sobre ela, que, embora de diferentes pontos de vista, acabavam por ressaltar as mesmas características: perspicácia, generosidade, senso de humor, curiosidade, uma preocupação genuína com o ser humano...
Vou dar meu breve e humilde contribuição para esses testemunhos, tentando trazer o ponto de vista da Lorena sempre que possível.

De uns tempos pra cá, começamos a fazer uma oração antes de dormir, pra agradecer as coisas boas do dia e eventualmente pedir pela saúde dos parentes. Certa noite, quando não pedi especificamente por ela, a Lorena me completou "... e pela tia Gisela, que está um pouco dodói".
Quando comentei com a Gisela a respeito, ela disse com seu humor habitual: "pois é, a Lorena praticamente já me conheceu dodói". Verdade. Ficamos sabendo do câncer em junho de 2013, quando a Lorena tinha um mês. A Gisela fez uma conexão em Brasília voltando de um congresso em Portugal. Ficamos preocupados com a notícia, claro, mas de alguma forma não me alarmei: tinha uma convicção ingênua de que aquilo não faria mal a ela, tão positiva. Naturalmente, subestimei o perigo que representa um câncer de mama.
Quando a saúde dela piorou, expliquei de novo pra Lorena que a tia Gisela estava no hospital, de cama, e não estava podendo fazer várias coisas, como caminhar.
E ela completou, criando pra si, com as próprias palavras, uma imagem da gravidade da doença: "também não pode ir no parquinho, não pode andar de balanço, ir no pula-pula, né pai?"

Agora, frequentemente me dou conta que a Gisela previu determinados comportamentos das minhas filhas. Quando, há alguns anos, me gabei de como a Lorena comia bem, ela me alertou que o fato de oferecermos vegetais pra ela provar naquela idade não era garantia nenhuma de que ela seguiria comendo de tudo quando fosse maior. E dito e feito: a alimentação dela está cada vez mais restrita.

A Gisela quando pequena também era famosa por papear muito durante as refeições, que por isso demoravam muito mais do que o necessário. Dessa espécie também tenho uma em casa.

Tinha ainda um olho especial para literatura infantil. Lembramos com carinho dela quando lemos os livros infantis que ela deu, alguns dos quais estão entre os preferidos da Lorena.

Agora com a primavera, lembrei de novo dela quando parei com a Lorena na beira da rua pra catar amoras do pé. A profª Drª Gisela era famosa no campus da UFRGS por estar sempre puxando os galhos das amoreiras e pitangueiras atrás de uma sobremesa.

Assim como vamos lembrar dela tomando aquele banho de mar em Rondinha, no próximo e em muitos outros verões. Ou saboreando aquele peixe na brasa, comendo direto do espinhaço.

Nem sei como terminar um texto desses, senão dizer das minhas saudades. E como lamento que minhas filhas não poderão conhecer essa tia.








quarta-feira, 23 de março de 2016

Curtinhas

Algumas coisas engraçadas que eu ouvi nessas últimas semanas:


Interessante como a fala da Lorena vai ficando mais sofisticada, incorporando sentimentos abstratos. Mesmo que ela não saiba exatamente a palavra certa pra descrever.
Outro dia ela resolveu fazer uma "contação de história", uma atividade que tem toda semana na escola, por uma tia que traz livros e fantoches.
Na contação da Lorena, ela sentou todas as bonecas na parede, pegou um livro e "leu" uma história que ela conhecia bem. Achei o máximo e disse pra ela fazer de novo, só que dessa vez tendo os pais como platéia.
Ela gostou da idéia, mas quando sentamos na frente dela no tapetinho, vendo a repercussão daquela brincadeira, ela ficou envergonhada.

"E aí Lorena, você vai contar a história?"
"Hmmm.... não, eu tenho medo"

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Usando o futuro do pretérito:
Brincando na areia com os potinhos, de repente começa a ventar e fecha o tempo.
"Lorena,vamos embora rápido, vai chover"

Joga todos os potes numa sacola, na pressa um deles amassa

"Papai, você matou o potinho!"
"Lorena, eu não matei, eu só amassei"
"Mas papai, você não deveria!"

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Verbos incomuns:
No hortifruti de Águas Claras, eles sempre oferecem frutas cortadas pra ir petiscando com um palito de dente enquanto escolhe as compras.
"papai, eu quero mais manga"
"tá, deixa que o pai espeta com o palito"
"não papai, deixa que eu cravo"


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A observadora:
No supermercado, ela resolve se pendurar no cesto e apoiar os pés na estrutura do carrinho.
Vou empurrando e fazendo barulho de carro, a Lorena achando o máximo.
"Olha papai, igual ao tio no caminhão de lixo".

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Outro lugar pra fazer observações sociológicas (de botequim) é o parquinho, como já mencionei outras vezes.
Acompanhando a Lorena enquanto balança, um outro pai vem e me aborda:
"- nossa, que linda sua filha, parece a minha quando era pequena"
eu: "- ah é? que idade ela tem?"
ele: "-já tem 29 anos. É de um outro casamento. Esse menino está com dois anos. É meu quinto filho."

uh, cinco filhos nos dias de hoje. Respeito.


e mais: "- mas é linda mesmo. Você é descendente de alemães?"
eu: "Sou, do Rio Grande do Sul"
ele: "ah, legal, eu também, meu avô foi pro Rio de Janeiro depois da 2a guerra"
eu: "é mesmo? Qual é o sobrenome dele?" (pergunta que todo descendente de alemão faz, por sinal)

e ele: "ah, eu não sei direito, a história se perdeu. Mas parece que era... Lothar Matthäus, Littbarski, uma coisa assim"


hein? Lothar Matthäus e Littbarski? O meio-de-campo da seleção alemã da copa de 1990? Não seria Beckenbauer ou Klinsmann não??  Ou Thomas Müller?
Ah, com essa ele perdeu a credibilidade.

Cinco filhos, sei.

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Preocupações:
No carro, enquanto dirijo ela pra escola, de onde sigo pro trabalho.
"Papai, eu não consigo dirigir"
"não, filha, só o pai e a mãe podem dirigir"
pensa um pouco...
"quando eu sou grande, eu também vou dirigir"

e depois de mais um tempinho...

"papai, eu não sabe trabalhar"

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Lembrei de outra história da época do desfralde:
Nossa estratégia no início foi tentar não demonstrar decepção quando ela fazia xixi nas calças (confesso que nem sempre conseguíamos), e em compensação, elogiar fartamente quando ela fazia no vaso ou penico. Nesse caso, sempre reafirmávamos nosso orgulho em como ela estava grande.
Aos poucos foi funcionando, e em uma das vezes o elogio variou:
"Muito bem Lorena, você fez xixi no vaso, a mamãe tá muito feliz com você!"
"Feliz não mamãe; Or-gu-lho-sa"

três mais uma

Novamente retorno após um período mais longo sem escrever. Desta vez por um bom motivo: a chegada da Aurora e a adaptação a uma nova família. Apesar de algum cansaço, foram dois meses ótimos, espero em breve estar contando histórias da caçulinha também.
Na verdade, acho que as semanas anteriores ao nascimento da Aurora foram mais cansativas do que o período posterior: como ela não queria nascer (acabou vindo de cesariana com quase 42 semanas), estávamos todos ansiosos, e isso inclui, naturalmente, a Lorena. Dá pra imaginar a cabecinha dela: estava todo mundo (vós, tios) por perto, esperando; minha mãe está sempre cansada, não consegue brincar muito comigo; e porque raios essa tal de irmãzinha não quer sair da barriga?? O que será que vai acontecer com o mundo que eu conheço e no qual me sinto segura?
Também não ajudou o fato da Lidi ter que ficar três noites no hospital. Como a Aurora nasceu de noite, e a alta só é dada durante o dia, após no mínimo 48 horas, a volta pra casa demorou mais do que tínhamos prometido pra Lorena. Também dá pra imaginar o que passou na cabeça dela: "pronto, essa irmãzinha me roubou minha mãe".
Mas depois, ficou claro que essa irmãzinha é inofensiva, e até dá pra brincar de boneca com ela de vez em quando: ajudar a trocar fralda, passar pomada, pegar no colo eventualmente... fico feliz vendo como elas têm um convívio tranquilo: a Aurora deitadinha na cadeirinha dela, vendo o mundo passar, ou simplesmente dormindo, e a Lorena brincando numa boa com as coisinhas dela. As cenas de ciúme foram raras, e nunca se voltaram contra a Aurora em si. Em geral a revolta era com o pai e a mãe, ou consigo mesma: muitas vezes a Lorena teve que sentar e chorar no chão, sem explicação aparente, simplesmente por frustração de não conseguir expressar o que deixava ela chateada.

Esse bom convívio me deixou aliviado, pois tudo que havia lido e ouvido é que em nenhuma hipótese se poderia deixar os dois (irmão mais velho e bebê) sozinhos. Essa necessidade de vigilância permanente me irrita muito. Porém, no caso das duas, desde cedo vimos que não é necessário: dá pra deixar as duas na sala tranquilamente enquanto cozinhamos ou vamos no banheiro. Agressão física nunca houve.
Em resumo: tudo bem por aqui, só tenho escrito um pouco menos. Mas à medida que a(s) menina(s) for(em) soltando as pérolas, volto a registrar por aqui.


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A manifestação mais evidente do ciúme da Lorena é fazer alguma arte pra chamar atenção. E ela tem fixação por cosméticos, perfumes, pomadas, pasta de dente.
Um dia de manhã bem cedo, enquanto ainda dormíamos, ela levantou bem quietinha da cama, empurrou o pufe pra perto do trocador da Aurora, abriu o pote de pomada e encheu a mão. Desceu do pufe e "caiou" a parede azul do quarto dela de pomada branca.
Quando levantamos, tivemos que ralhar com ela, claro. Depois do xingão, trocamos a roupa e arrumamos a mochila pra ir pra escola.
Antes de sair de casa, a mãe ainda fazendo cara de poucos amigos, a Lorena solta essa:
"-Papai, bebezinho não pode ir pra escola né?"

Como que dizendo: podem brigar comigo, podem dar atenção pra ela, mas isso eu tenho que ela não tem!