Algumas coisas engraçadas que eu ouvi nessas últimas semanas:
Interessante como a fala da Lorena vai ficando mais sofisticada, incorporando sentimentos abstratos. Mesmo que ela não saiba exatamente a palavra certa pra descrever.
Outro dia ela resolveu fazer uma "contação de história", uma atividade que tem toda semana na escola, por uma tia que traz livros e fantoches.
Na contação da Lorena, ela sentou todas as bonecas na parede, pegou um livro e "leu" uma história que ela conhecia bem. Achei o máximo e disse pra ela fazer de novo, só que dessa vez tendo os pais como platéia.
Ela gostou da idéia, mas quando sentamos na frente dela no tapetinho, vendo a repercussão daquela brincadeira, ela ficou envergonhada.
"E aí Lorena, você vai contar a história?"
"Hmmm.... não, eu tenho
medo"
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Usando o futuro do pretérito:
Brincando na areia com os potinhos, de repente começa a ventar e fecha o tempo.
"Lorena,vamos embora rápido, vai chover"
Joga todos os potes numa sacola, na pressa um deles amassa
"Papai, você matou o potinho!"
"Lorena, eu não matei, eu só amassei"
"Mas papai, você não deveria!"
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Verbos incomuns:
No hortifruti de Águas Claras, eles sempre oferecem frutas cortadas pra ir petiscando com um palito de dente enquanto escolhe as compras.
"papai, eu quero mais manga"
"tá, deixa que o pai espeta com o palito"
"não papai, deixa que eu cravo"
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A observadora:
No supermercado, ela resolve se pendurar no cesto e apoiar os pés na estrutura do carrinho.
Vou empurrando e fazendo barulho de carro, a Lorena achando o máximo.
"Olha papai, igual ao tio no caminhão de lixo".
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Outro lugar pra fazer observações sociológicas (de botequim) é o parquinho, como já mencionei outras vezes.
Acompanhando a Lorena enquanto balança, um outro pai vem e me aborda:
"- nossa, que linda sua filha, parece a minha quando era pequena"
eu: "- ah é? que idade ela tem?"
ele: "-já tem 29 anos. É de um outro casamento. Esse menino está com dois anos. É meu quinto filho."
uh, cinco filhos nos dias de hoje. Respeito.
e mais: "- mas é linda mesmo. Você é descendente de alemães?"
eu: "Sou, do Rio Grande do Sul"
ele: "ah, legal, eu também, meu avô foi pro Rio de Janeiro depois da 2a guerra"
eu: "é mesmo? Qual é o sobrenome dele?" (pergunta que todo descendente de alemão faz, por sinal)
e ele: "ah, eu não sei direito, a história se perdeu. Mas parece que era... Lothar Matthäus, Littbarski, uma coisa assim"
hein? Lothar Matthäus e Littbarski? O meio-de-campo da seleção alemã da copa de 1990? Não seria Beckenbauer ou Klinsmann não?? Ou Thomas Müller?
Ah, com essa ele perdeu a credibilidade.
Cinco filhos, sei.
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Preocupações:
No carro, enquanto dirijo ela pra escola, de onde sigo pro trabalho.
"Papai, eu não consigo dirigir"
"não, filha, só o pai e a mãe podem dirigir"
pensa um pouco...
"quando eu
sou grande, eu também vou dirigir"
e depois de mais um tempinho...
"papai, eu não
sabe trabalhar"
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Lembrei de outra história da época do desfralde:
Nossa estratégia no início foi tentar não demonstrar decepção quando ela fazia xixi nas calças (confesso que nem sempre conseguíamos), e em compensação, elogiar fartamente quando ela fazia no vaso ou penico. Nesse caso, sempre reafirmávamos nosso orgulho em como ela estava grande.
Aos poucos foi funcionando, e em uma das vezes o elogio variou:
"Muito bem Lorena, você fez xixi no vaso, a mamãe tá muito feliz com você!"
"Feliz não mamãe; Or-gu-lho-sa"