quarta-feira, 23 de março de 2016

Curtinhas

Algumas coisas engraçadas que eu ouvi nessas últimas semanas:


Interessante como a fala da Lorena vai ficando mais sofisticada, incorporando sentimentos abstratos. Mesmo que ela não saiba exatamente a palavra certa pra descrever.
Outro dia ela resolveu fazer uma "contação de história", uma atividade que tem toda semana na escola, por uma tia que traz livros e fantoches.
Na contação da Lorena, ela sentou todas as bonecas na parede, pegou um livro e "leu" uma história que ela conhecia bem. Achei o máximo e disse pra ela fazer de novo, só que dessa vez tendo os pais como platéia.
Ela gostou da idéia, mas quando sentamos na frente dela no tapetinho, vendo a repercussão daquela brincadeira, ela ficou envergonhada.

"E aí Lorena, você vai contar a história?"
"Hmmm.... não, eu tenho medo"

*****************************************************************************

Usando o futuro do pretérito:
Brincando na areia com os potinhos, de repente começa a ventar e fecha o tempo.
"Lorena,vamos embora rápido, vai chover"

Joga todos os potes numa sacola, na pressa um deles amassa

"Papai, você matou o potinho!"
"Lorena, eu não matei, eu só amassei"
"Mas papai, você não deveria!"

*****************************************************************************

Verbos incomuns:
No hortifruti de Águas Claras, eles sempre oferecem frutas cortadas pra ir petiscando com um palito de dente enquanto escolhe as compras.
"papai, eu quero mais manga"
"tá, deixa que o pai espeta com o palito"
"não papai, deixa que eu cravo"


*****************************************************************************
A observadora:
No supermercado, ela resolve se pendurar no cesto e apoiar os pés na estrutura do carrinho.
Vou empurrando e fazendo barulho de carro, a Lorena achando o máximo.
"Olha papai, igual ao tio no caminhão de lixo".

 ****************************************************

Outro lugar pra fazer observações sociológicas (de botequim) é o parquinho, como já mencionei outras vezes.
Acompanhando a Lorena enquanto balança, um outro pai vem e me aborda:
"- nossa, que linda sua filha, parece a minha quando era pequena"
eu: "- ah é? que idade ela tem?"
ele: "-já tem 29 anos. É de um outro casamento. Esse menino está com dois anos. É meu quinto filho."

uh, cinco filhos nos dias de hoje. Respeito.


e mais: "- mas é linda mesmo. Você é descendente de alemães?"
eu: "Sou, do Rio Grande do Sul"
ele: "ah, legal, eu também, meu avô foi pro Rio de Janeiro depois da 2a guerra"
eu: "é mesmo? Qual é o sobrenome dele?" (pergunta que todo descendente de alemão faz, por sinal)

e ele: "ah, eu não sei direito, a história se perdeu. Mas parece que era... Lothar Matthäus, Littbarski, uma coisa assim"


hein? Lothar Matthäus e Littbarski? O meio-de-campo da seleção alemã da copa de 1990? Não seria Beckenbauer ou Klinsmann não??  Ou Thomas Müller?
Ah, com essa ele perdeu a credibilidade.

Cinco filhos, sei.

****************************************************************

Preocupações:
No carro, enquanto dirijo ela pra escola, de onde sigo pro trabalho.
"Papai, eu não consigo dirigir"
"não, filha, só o pai e a mãe podem dirigir"
pensa um pouco...
"quando eu sou grande, eu também vou dirigir"

e depois de mais um tempinho...

"papai, eu não sabe trabalhar"

****************************************************************

Lembrei de outra história da época do desfralde:
Nossa estratégia no início foi tentar não demonstrar decepção quando ela fazia xixi nas calças (confesso que nem sempre conseguíamos), e em compensação, elogiar fartamente quando ela fazia no vaso ou penico. Nesse caso, sempre reafirmávamos nosso orgulho em como ela estava grande.
Aos poucos foi funcionando, e em uma das vezes o elogio variou:
"Muito bem Lorena, você fez xixi no vaso, a mamãe tá muito feliz com você!"
"Feliz não mamãe; Or-gu-lho-sa"

três mais uma

Novamente retorno após um período mais longo sem escrever. Desta vez por um bom motivo: a chegada da Aurora e a adaptação a uma nova família. Apesar de algum cansaço, foram dois meses ótimos, espero em breve estar contando histórias da caçulinha também.
Na verdade, acho que as semanas anteriores ao nascimento da Aurora foram mais cansativas do que o período posterior: como ela não queria nascer (acabou vindo de cesariana com quase 42 semanas), estávamos todos ansiosos, e isso inclui, naturalmente, a Lorena. Dá pra imaginar a cabecinha dela: estava todo mundo (vós, tios) por perto, esperando; minha mãe está sempre cansada, não consegue brincar muito comigo; e porque raios essa tal de irmãzinha não quer sair da barriga?? O que será que vai acontecer com o mundo que eu conheço e no qual me sinto segura?
Também não ajudou o fato da Lidi ter que ficar três noites no hospital. Como a Aurora nasceu de noite, e a alta só é dada durante o dia, após no mínimo 48 horas, a volta pra casa demorou mais do que tínhamos prometido pra Lorena. Também dá pra imaginar o que passou na cabeça dela: "pronto, essa irmãzinha me roubou minha mãe".
Mas depois, ficou claro que essa irmãzinha é inofensiva, e até dá pra brincar de boneca com ela de vez em quando: ajudar a trocar fralda, passar pomada, pegar no colo eventualmente... fico feliz vendo como elas têm um convívio tranquilo: a Aurora deitadinha na cadeirinha dela, vendo o mundo passar, ou simplesmente dormindo, e a Lorena brincando numa boa com as coisinhas dela. As cenas de ciúme foram raras, e nunca se voltaram contra a Aurora em si. Em geral a revolta era com o pai e a mãe, ou consigo mesma: muitas vezes a Lorena teve que sentar e chorar no chão, sem explicação aparente, simplesmente por frustração de não conseguir expressar o que deixava ela chateada.

Esse bom convívio me deixou aliviado, pois tudo que havia lido e ouvido é que em nenhuma hipótese se poderia deixar os dois (irmão mais velho e bebê) sozinhos. Essa necessidade de vigilância permanente me irrita muito. Porém, no caso das duas, desde cedo vimos que não é necessário: dá pra deixar as duas na sala tranquilamente enquanto cozinhamos ou vamos no banheiro. Agressão física nunca houve.
Em resumo: tudo bem por aqui, só tenho escrito um pouco menos. Mas à medida que a(s) menina(s) for(em) soltando as pérolas, volto a registrar por aqui.


***************************************************************


A manifestação mais evidente do ciúme da Lorena é fazer alguma arte pra chamar atenção. E ela tem fixação por cosméticos, perfumes, pomadas, pasta de dente.
Um dia de manhã bem cedo, enquanto ainda dormíamos, ela levantou bem quietinha da cama, empurrou o pufe pra perto do trocador da Aurora, abriu o pote de pomada e encheu a mão. Desceu do pufe e "caiou" a parede azul do quarto dela de pomada branca.
Quando levantamos, tivemos que ralhar com ela, claro. Depois do xingão, trocamos a roupa e arrumamos a mochila pra ir pra escola.
Antes de sair de casa, a mãe ainda fazendo cara de poucos amigos, a Lorena solta essa:
"-Papai, bebezinho não pode ir pra escola né?"

Como que dizendo: podem brigar comigo, podem dar atenção pra ela, mas isso eu tenho que ela não tem!