Quando comecei a escrever esse blog, em junho do ano passado, vivíamos uma fase relativamente tranquila do desenvolvimento da Lorena, com 2 anos na época. Ela dormia a noite toda, estava acostumada na escola, já estava fortinha (raramente adoecia), se ocupava relativamente bem sozinha. Assim, consegui ter tempo pra relatar quase tudo o que de engraçado acontecia com ela.
Naquele momento já sabíamos da gravidez da Aurora, que viria a nascer em janeiro desse ano. Mas como é tão comum, a gente parece que se esquece do envolvimento necessário durante o primeiro ano de vida de um novo bebê. Agora com 9 meses, passamos nossos fins-de-semana cozinhando, dando de comer, lavando mamadeira, lavando babador, trocando fralda, botando pra dormir. Como optamos por ter uma rotina mais ou menos bem definida, com horários, a coisa vira quase como serviço militar. E nessa idade, ainda mais recém ingressando na escolinha, é comum a Aurora ter uma febre ou outra.
E a Lorena, pra completar, está muito arteira. Quando me perguntam se vou postar, tenho dito que vou escrever um B.O. e não mais um blog.
Nada de mal, e segue muito carinhosa com a irmãzinha. Mas com muita energia armazenada, vamos dizer assim.
Desnecessário dizer que, nessas condições, o blog acabou ficando em segundo plano (ou terceiro ou quarto).
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Adicionalmente, minha família passou por uma grande perda nesse período: a Gisela, que nos deixou em junho, depois de um processo doloroso de doença. Muitas pessoas escreveram depoimentos belíssimos sobre ela, que, embora de diferentes pontos de vista, acabavam por ressaltar as mesmas características: perspicácia, generosidade, senso de humor, curiosidade, uma preocupação genuína com o ser humano...
Vou dar meu breve e humilde contribuição para esses testemunhos, tentando trazer o ponto de vista da Lorena sempre que possível.
De uns tempos pra cá, começamos a fazer uma oração antes de dormir, pra agradecer as coisas boas do dia e eventualmente pedir pela saúde dos parentes. Certa noite, quando não pedi especificamente por ela, a Lorena me completou "... e pela tia Gisela, que está um pouco dodói".
Quando comentei com a Gisela a respeito, ela disse com seu humor habitual: "pois é, a Lorena praticamente já me conheceu dodói". Verdade. Ficamos sabendo do câncer em junho de 2013, quando a Lorena tinha um
mês. A Gisela fez uma conexão em Brasília voltando de um congresso em
Portugal. Ficamos preocupados com a notícia, claro, mas de alguma forma
não me alarmei: tinha uma convicção ingênua de que aquilo não faria mal a
ela, tão positiva. Naturalmente, subestimei o perigo que representa um
câncer de mama.
Quando a saúde dela piorou, expliquei de novo pra Lorena que a tia Gisela estava no hospital, de cama, e não estava podendo fazer várias coisas, como caminhar.
E ela completou, criando pra si, com as próprias palavras, uma imagem da gravidade da doença: "também não pode ir no parquinho, não pode andar de balanço, ir no pula-pula, né pai?"
Agora, frequentemente me dou conta que a Gisela previu determinados comportamentos das minhas filhas. Quando, há alguns anos, me gabei de como a Lorena comia bem, ela me alertou que o fato de oferecermos vegetais pra ela provar naquela idade não era garantia nenhuma de que ela seguiria comendo de tudo quando fosse maior. E dito e feito: a alimentação dela está cada vez mais restrita.
A Gisela quando pequena também era famosa por papear muito durante as refeições, que por isso demoravam muito mais do que o necessário. Dessa espécie também tenho uma em casa.
Tinha ainda um olho especial para literatura infantil. Lembramos com carinho dela quando lemos os livros infantis que ela deu, alguns dos quais estão entre os preferidos da Lorena.
Agora com a primavera, lembrei de novo dela quando parei com a Lorena na beira da rua pra catar amoras do pé. A profª Drª Gisela era famosa no campus da UFRGS por estar sempre puxando os galhos das amoreiras e pitangueiras atrás de uma sobremesa.
Assim como vamos lembrar dela tomando aquele banho de mar em Rondinha, no próximo e em muitos outros verões. Ou saboreando aquele peixe na brasa, comendo direto do espinhaço.
Nem sei como terminar um texto desses, senão dizer das minhas saudades. E como lamento que minhas filhas não poderão conhecer essa tia.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirah, meu irmão, tuas palavras traduzem nossa saudade...
ResponderExcluirNão faz isso comigo numa quarta feira maninho. 4 meses de saudade.
ResponderExcluirOntem com a amiga Adriana, que está dando um curso aqui em Pelotas, também achamos uma amoreira e nos atracamos.