Seis da manhã, eu ainda dormindo. Um vulto se para ao meu lado na cama, coloca a mão nas minhas costas e sussurra:
-"Papaaai"
- "hmfblff"
- "papaaaaaaai"
- "... que foi Lorena? Não quer dormir mais um pouco?"
- "tinha um dragão.. e ele jogava fogo..."
Hmm, sonhos ruins.
- "tudo bem filhote, o pai tá aqui, não deixa o dragão te pegar"
- "mas papai, você não estava no quarto, só nós duas, meninas pequenas"
E agora?
- "tudo bem filha, mas se ele viesse te pegar eu estava aqui pra proteger"
Não sei se fui muito convincente. Pelo jeito o sonho foi "assustadô".
***********************************************************
Piada pronta.
Levando ela pra escola de manhã: "-papai, porque você trabalha?"
Boa pergunta, também me questiono isso com frequência.
"-A gente trabalha pra ganhar dinheiro. Pra poder comprar comida, pagar a escola, comprar roupa..."
Pausa pra refletir.
"-Eu não sei trabalhar ainda"
Outra pausa
"- e onde é que você trabalha, papai?"
"- eu trabalho na ANA"
"Na ANNA? Igual à Frozen??"
******************************************
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Retornando...
Quando comecei a escrever esse blog, em junho do ano passado, vivíamos uma fase relativamente tranquila do desenvolvimento da Lorena, com 2 anos na época. Ela dormia a noite toda, estava acostumada na escola, já estava fortinha (raramente adoecia), se ocupava relativamente bem sozinha. Assim, consegui ter tempo pra relatar quase tudo o que de engraçado acontecia com ela.
Naquele momento já sabíamos da gravidez da Aurora, que viria a nascer em janeiro desse ano. Mas como é tão comum, a gente parece que se esquece do envolvimento necessário durante o primeiro ano de vida de um novo bebê. Agora com 9 meses, passamos nossos fins-de-semana cozinhando, dando de comer, lavando mamadeira, lavando babador, trocando fralda, botando pra dormir. Como optamos por ter uma rotina mais ou menos bem definida, com horários, a coisa vira quase como serviço militar. E nessa idade, ainda mais recém ingressando na escolinha, é comum a Aurora ter uma febre ou outra.
E a Lorena, pra completar, está muito arteira. Quando me perguntam se vou postar, tenho dito que vou escrever um B.O. e não mais um blog.
Nada de mal, e segue muito carinhosa com a irmãzinha. Mas com muita energia armazenada, vamos dizer assim.
Desnecessário dizer que, nessas condições, o blog acabou ficando em segundo plano (ou terceiro ou quarto).
*******************************************
Adicionalmente, minha família passou por uma grande perda nesse período: a Gisela, que nos deixou em junho, depois de um processo doloroso de doença. Muitas pessoas escreveram depoimentos belíssimos sobre ela, que, embora de diferentes pontos de vista, acabavam por ressaltar as mesmas características: perspicácia, generosidade, senso de humor, curiosidade, uma preocupação genuína com o ser humano...
Vou dar meu breve e humilde contribuição para esses testemunhos, tentando trazer o ponto de vista da Lorena sempre que possível.
De uns tempos pra cá, começamos a fazer uma oração antes de dormir, pra agradecer as coisas boas do dia e eventualmente pedir pela saúde dos parentes. Certa noite, quando não pedi especificamente por ela, a Lorena me completou "... e pela tia Gisela, que está um pouco dodói".
Quando comentei com a Gisela a respeito, ela disse com seu humor habitual: "pois é, a Lorena praticamente já me conheceu dodói". Verdade. Ficamos sabendo do câncer em junho de 2013, quando a Lorena tinha um mês. A Gisela fez uma conexão em Brasília voltando de um congresso em Portugal. Ficamos preocupados com a notícia, claro, mas de alguma forma não me alarmei: tinha uma convicção ingênua de que aquilo não faria mal a ela, tão positiva. Naturalmente, subestimei o perigo que representa um câncer de mama.
Quando a saúde dela piorou, expliquei de novo pra Lorena que a tia Gisela estava no hospital, de cama, e não estava podendo fazer várias coisas, como caminhar.
E ela completou, criando pra si, com as próprias palavras, uma imagem da gravidade da doença: "também não pode ir no parquinho, não pode andar de balanço, ir no pula-pula, né pai?"
Agora, frequentemente me dou conta que a Gisela previu determinados comportamentos das minhas filhas. Quando, há alguns anos, me gabei de como a Lorena comia bem, ela me alertou que o fato de oferecermos vegetais pra ela provar naquela idade não era garantia nenhuma de que ela seguiria comendo de tudo quando fosse maior. E dito e feito: a alimentação dela está cada vez mais restrita.
A Gisela quando pequena também era famosa por papear muito durante as refeições, que por isso demoravam muito mais do que o necessário. Dessa espécie também tenho uma em casa.
Tinha ainda um olho especial para literatura infantil. Lembramos com carinho dela quando lemos os livros infantis que ela deu, alguns dos quais estão entre os preferidos da Lorena.
Agora com a primavera, lembrei de novo dela quando parei com a Lorena na beira da rua pra catar amoras do pé. A profª Drª Gisela era famosa no campus da UFRGS por estar sempre puxando os galhos das amoreiras e pitangueiras atrás de uma sobremesa.
Assim como vamos lembrar dela tomando aquele banho de mar em Rondinha, no próximo e em muitos outros verões. Ou saboreando aquele peixe na brasa, comendo direto do espinhaço.
Nem sei como terminar um texto desses, senão dizer das minhas saudades. E como lamento que minhas filhas não poderão conhecer essa tia.
Naquele momento já sabíamos da gravidez da Aurora, que viria a nascer em janeiro desse ano. Mas como é tão comum, a gente parece que se esquece do envolvimento necessário durante o primeiro ano de vida de um novo bebê. Agora com 9 meses, passamos nossos fins-de-semana cozinhando, dando de comer, lavando mamadeira, lavando babador, trocando fralda, botando pra dormir. Como optamos por ter uma rotina mais ou menos bem definida, com horários, a coisa vira quase como serviço militar. E nessa idade, ainda mais recém ingressando na escolinha, é comum a Aurora ter uma febre ou outra.
E a Lorena, pra completar, está muito arteira. Quando me perguntam se vou postar, tenho dito que vou escrever um B.O. e não mais um blog.
Nada de mal, e segue muito carinhosa com a irmãzinha. Mas com muita energia armazenada, vamos dizer assim.
Desnecessário dizer que, nessas condições, o blog acabou ficando em segundo plano (ou terceiro ou quarto).
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Adicionalmente, minha família passou por uma grande perda nesse período: a Gisela, que nos deixou em junho, depois de um processo doloroso de doença. Muitas pessoas escreveram depoimentos belíssimos sobre ela, que, embora de diferentes pontos de vista, acabavam por ressaltar as mesmas características: perspicácia, generosidade, senso de humor, curiosidade, uma preocupação genuína com o ser humano...
Vou dar meu breve e humilde contribuição para esses testemunhos, tentando trazer o ponto de vista da Lorena sempre que possível.
De uns tempos pra cá, começamos a fazer uma oração antes de dormir, pra agradecer as coisas boas do dia e eventualmente pedir pela saúde dos parentes. Certa noite, quando não pedi especificamente por ela, a Lorena me completou "... e pela tia Gisela, que está um pouco dodói".
Quando comentei com a Gisela a respeito, ela disse com seu humor habitual: "pois é, a Lorena praticamente já me conheceu dodói". Verdade. Ficamos sabendo do câncer em junho de 2013, quando a Lorena tinha um mês. A Gisela fez uma conexão em Brasília voltando de um congresso em Portugal. Ficamos preocupados com a notícia, claro, mas de alguma forma não me alarmei: tinha uma convicção ingênua de que aquilo não faria mal a ela, tão positiva. Naturalmente, subestimei o perigo que representa um câncer de mama.
Quando a saúde dela piorou, expliquei de novo pra Lorena que a tia Gisela estava no hospital, de cama, e não estava podendo fazer várias coisas, como caminhar.
E ela completou, criando pra si, com as próprias palavras, uma imagem da gravidade da doença: "também não pode ir no parquinho, não pode andar de balanço, ir no pula-pula, né pai?"
Agora, frequentemente me dou conta que a Gisela previu determinados comportamentos das minhas filhas. Quando, há alguns anos, me gabei de como a Lorena comia bem, ela me alertou que o fato de oferecermos vegetais pra ela provar naquela idade não era garantia nenhuma de que ela seguiria comendo de tudo quando fosse maior. E dito e feito: a alimentação dela está cada vez mais restrita.
A Gisela quando pequena também era famosa por papear muito durante as refeições, que por isso demoravam muito mais do que o necessário. Dessa espécie também tenho uma em casa.
Tinha ainda um olho especial para literatura infantil. Lembramos com carinho dela quando lemos os livros infantis que ela deu, alguns dos quais estão entre os preferidos da Lorena.
Agora com a primavera, lembrei de novo dela quando parei com a Lorena na beira da rua pra catar amoras do pé. A profª Drª Gisela era famosa no campus da UFRGS por estar sempre puxando os galhos das amoreiras e pitangueiras atrás de uma sobremesa.
Assim como vamos lembrar dela tomando aquele banho de mar em Rondinha, no próximo e em muitos outros verões. Ou saboreando aquele peixe na brasa, comendo direto do espinhaço.
Nem sei como terminar um texto desses, senão dizer das minhas saudades. E como lamento que minhas filhas não poderão conhecer essa tia.
quarta-feira, 23 de março de 2016
Curtinhas
Algumas coisas engraçadas que eu ouvi nessas últimas semanas:
Interessante como a fala da Lorena vai ficando mais sofisticada, incorporando sentimentos abstratos. Mesmo que ela não saiba exatamente a palavra certa pra descrever.
Outro dia ela resolveu fazer uma "contação de história", uma atividade que tem toda semana na escola, por uma tia que traz livros e fantoches.
Na contação da Lorena, ela sentou todas as bonecas na parede, pegou um livro e "leu" uma história que ela conhecia bem. Achei o máximo e disse pra ela fazer de novo, só que dessa vez tendo os pais como platéia.
Ela gostou da idéia, mas quando sentamos na frente dela no tapetinho, vendo a repercussão daquela brincadeira, ela ficou envergonhada.
"E aí Lorena, você vai contar a história?"
"Hmmm.... não, eu tenho medo"
*****************************************************************************
Usando o futuro do pretérito:
Brincando na areia com os potinhos, de repente começa a ventar e fecha o tempo.
"Lorena,vamos embora rápido, vai chover"
Joga todos os potes numa sacola, na pressa um deles amassa
"Papai, você matou o potinho!"
"Lorena, eu não matei, eu só amassei"
"Mas papai, você não deveria!"
*****************************************************************************
Verbos incomuns:
No hortifruti de Águas Claras, eles sempre oferecem frutas cortadas pra ir petiscando com um palito de dente enquanto escolhe as compras.
"papai, eu quero mais manga"
"tá, deixa que o pai espeta com o palito"
"não papai, deixa que eu cravo"
*****************************************************************************
A observadora:
No supermercado, ela resolve se pendurar no cesto e apoiar os pés na estrutura do carrinho.
Vou empurrando e fazendo barulho de carro, a Lorena achando o máximo.
"Olha papai, igual ao tio no caminhão de lixo".
****************************************************
Outro lugar pra fazer observações sociológicas (de botequim) é o parquinho, como já mencionei outras vezes.
Acompanhando a Lorena enquanto balança, um outro pai vem e me aborda:
"- nossa, que linda sua filha, parece a minha quando era pequena"
eu: "- ah é? que idade ela tem?"
ele: "-já tem 29 anos. É de um outro casamento. Esse menino está com dois anos. É meu quinto filho."
uh, cinco filhos nos dias de hoje. Respeito.
e mais: "- mas é linda mesmo. Você é descendente de alemães?"
eu: "Sou, do Rio Grande do Sul"
ele: "ah, legal, eu também, meu avô foi pro Rio de Janeiro depois da 2a guerra"
eu: "é mesmo? Qual é o sobrenome dele?" (pergunta que todo descendente de alemão faz, por sinal)
e ele: "ah, eu não sei direito, a história se perdeu. Mas parece que era... Lothar Matthäus, Littbarski, uma coisa assim"
hein? Lothar Matthäus e Littbarski? O meio-de-campo da seleção alemã da copa de 1990? Não seria Beckenbauer ou Klinsmann não?? Ou Thomas Müller?
Ah, com essa ele perdeu a credibilidade.
Cinco filhos, sei.
****************************************************************
Preocupações:
No carro, enquanto dirijo ela pra escola, de onde sigo pro trabalho.
"Papai, eu não consigo dirigir"
"não, filha, só o pai e a mãe podem dirigir"
pensa um pouco...
"quando eu sou grande, eu também vou dirigir"
e depois de mais um tempinho...
"papai, eu não sabe trabalhar"
****************************************************************
Lembrei de outra história da época do desfralde:
Nossa estratégia no início foi tentar não demonstrar decepção quando ela fazia xixi nas calças (confesso que nem sempre conseguíamos), e em compensação, elogiar fartamente quando ela fazia no vaso ou penico. Nesse caso, sempre reafirmávamos nosso orgulho em como ela estava grande.
Aos poucos foi funcionando, e em uma das vezes o elogio variou:
"Muito bem Lorena, você fez xixi no vaso, a mamãe tá muito feliz com você!"
"Feliz não mamãe; Or-gu-lho-sa"
Interessante como a fala da Lorena vai ficando mais sofisticada, incorporando sentimentos abstratos. Mesmo que ela não saiba exatamente a palavra certa pra descrever.
Outro dia ela resolveu fazer uma "contação de história", uma atividade que tem toda semana na escola, por uma tia que traz livros e fantoches.
Na contação da Lorena, ela sentou todas as bonecas na parede, pegou um livro e "leu" uma história que ela conhecia bem. Achei o máximo e disse pra ela fazer de novo, só que dessa vez tendo os pais como platéia.
Ela gostou da idéia, mas quando sentamos na frente dela no tapetinho, vendo a repercussão daquela brincadeira, ela ficou envergonhada.
"E aí Lorena, você vai contar a história?"
"Hmmm.... não, eu tenho medo"
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Usando o futuro do pretérito:
Brincando na areia com os potinhos, de repente começa a ventar e fecha o tempo.
"Lorena,vamos embora rápido, vai chover"
Joga todos os potes numa sacola, na pressa um deles amassa
"Papai, você matou o potinho!"
"Lorena, eu não matei, eu só amassei"
"Mas papai, você não deveria!"
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Verbos incomuns:
No hortifruti de Águas Claras, eles sempre oferecem frutas cortadas pra ir petiscando com um palito de dente enquanto escolhe as compras.
"papai, eu quero mais manga"
"tá, deixa que o pai espeta com o palito"
"não papai, deixa que eu cravo"
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A observadora:
No supermercado, ela resolve se pendurar no cesto e apoiar os pés na estrutura do carrinho.
Vou empurrando e fazendo barulho de carro, a Lorena achando o máximo.
"Olha papai, igual ao tio no caminhão de lixo".
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Outro lugar pra fazer observações sociológicas (de botequim) é o parquinho, como já mencionei outras vezes.
Acompanhando a Lorena enquanto balança, um outro pai vem e me aborda:
"- nossa, que linda sua filha, parece a minha quando era pequena"
eu: "- ah é? que idade ela tem?"
ele: "-já tem 29 anos. É de um outro casamento. Esse menino está com dois anos. É meu quinto filho."
uh, cinco filhos nos dias de hoje. Respeito.
e mais: "- mas é linda mesmo. Você é descendente de alemães?"
eu: "Sou, do Rio Grande do Sul"
ele: "ah, legal, eu também, meu avô foi pro Rio de Janeiro depois da 2a guerra"
eu: "é mesmo? Qual é o sobrenome dele?" (pergunta que todo descendente de alemão faz, por sinal)
e ele: "ah, eu não sei direito, a história se perdeu. Mas parece que era... Lothar Matthäus, Littbarski, uma coisa assim"
hein? Lothar Matthäus e Littbarski? O meio-de-campo da seleção alemã da copa de 1990? Não seria Beckenbauer ou Klinsmann não?? Ou Thomas Müller?
Ah, com essa ele perdeu a credibilidade.
Cinco filhos, sei.
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Preocupações:
No carro, enquanto dirijo ela pra escola, de onde sigo pro trabalho.
"Papai, eu não consigo dirigir"
"não, filha, só o pai e a mãe podem dirigir"
pensa um pouco...
"quando eu sou grande, eu também vou dirigir"
e depois de mais um tempinho...
"papai, eu não sabe trabalhar"
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Lembrei de outra história da época do desfralde:
Nossa estratégia no início foi tentar não demonstrar decepção quando ela fazia xixi nas calças (confesso que nem sempre conseguíamos), e em compensação, elogiar fartamente quando ela fazia no vaso ou penico. Nesse caso, sempre reafirmávamos nosso orgulho em como ela estava grande.
Aos poucos foi funcionando, e em uma das vezes o elogio variou:
"Muito bem Lorena, você fez xixi no vaso, a mamãe tá muito feliz com você!"
"Feliz não mamãe; Or-gu-lho-sa"
três mais uma
Novamente retorno após um período mais longo sem escrever. Desta vez por um bom motivo: a chegada da Aurora e a adaptação a uma nova família. Apesar de algum cansaço, foram dois meses ótimos, espero em breve estar contando histórias da caçulinha também.
Na verdade, acho que as semanas anteriores ao nascimento da Aurora foram mais cansativas do que o período posterior: como ela não queria nascer (acabou vindo de cesariana com quase 42 semanas), estávamos todos ansiosos, e isso inclui, naturalmente, a Lorena. Dá pra imaginar a cabecinha dela: estava todo mundo (vós, tios) por perto, esperando; minha mãe está sempre cansada, não consegue brincar muito comigo; e porque raios essa tal de irmãzinha não quer sair da barriga?? O que será que vai acontecer com o mundo que eu conheço e no qual me sinto segura?
Também não ajudou o fato da Lidi ter que ficar três noites no hospital. Como a Aurora nasceu de noite, e a alta só é dada durante o dia, após no mínimo 48 horas, a volta pra casa demorou mais do que tínhamos prometido pra Lorena. Também dá pra imaginar o que passou na cabeça dela: "pronto, essa irmãzinha me roubou minha mãe".
Mas depois, ficou claro que essa irmãzinha é inofensiva, e até dá pra brincar de boneca com ela de vez em quando: ajudar a trocar fralda, passar pomada, pegar no colo eventualmente... fico feliz vendo como elas têm um convívio tranquilo: a Aurora deitadinha na cadeirinha dela, vendo o mundo passar, ou simplesmente dormindo, e a Lorena brincando numa boa com as coisinhas dela. As cenas de ciúme foram raras, e nunca se voltaram contra a Aurora em si. Em geral a revolta era com o pai e a mãe, ou consigo mesma: muitas vezes a Lorena teve que sentar e chorar no chão, sem explicação aparente, simplesmente por frustração de não conseguir expressar o que deixava ela chateada.
Esse bom convívio me deixou aliviado, pois tudo que havia lido e ouvido é que em nenhuma hipótese se poderia deixar os dois (irmão mais velho e bebê) sozinhos. Essa necessidade de vigilância permanente me irrita muito. Porém, no caso das duas, desde cedo vimos que não é necessário: dá pra deixar as duas na sala tranquilamente enquanto cozinhamos ou vamos no banheiro. Agressão física nunca houve.
Em resumo: tudo bem por aqui, só tenho escrito um pouco menos. Mas à medida que a(s) menina(s) for(em) soltando as pérolas, volto a registrar por aqui.
***************************************************************
A manifestação mais evidente do ciúme da Lorena é fazer alguma arte pra chamar atenção. E ela tem fixação por cosméticos, perfumes, pomadas, pasta de dente.
Um dia de manhã bem cedo, enquanto ainda dormíamos, ela levantou bem quietinha da cama, empurrou o pufe pra perto do trocador da Aurora, abriu o pote de pomada e encheu a mão. Desceu do pufe e "caiou" a parede azul do quarto dela de pomada branca.
Quando levantamos, tivemos que ralhar com ela, claro. Depois do xingão, trocamos a roupa e arrumamos a mochila pra ir pra escola.
Antes de sair de casa, a mãe ainda fazendo cara de poucos amigos, a Lorena solta essa:
"-Papai, bebezinho não pode ir pra escola né?"
Como que dizendo: podem brigar comigo, podem dar atenção pra ela, mas isso eu tenho que ela não tem!
Na verdade, acho que as semanas anteriores ao nascimento da Aurora foram mais cansativas do que o período posterior: como ela não queria nascer (acabou vindo de cesariana com quase 42 semanas), estávamos todos ansiosos, e isso inclui, naturalmente, a Lorena. Dá pra imaginar a cabecinha dela: estava todo mundo (vós, tios) por perto, esperando; minha mãe está sempre cansada, não consegue brincar muito comigo; e porque raios essa tal de irmãzinha não quer sair da barriga?? O que será que vai acontecer com o mundo que eu conheço e no qual me sinto segura?
Também não ajudou o fato da Lidi ter que ficar três noites no hospital. Como a Aurora nasceu de noite, e a alta só é dada durante o dia, após no mínimo 48 horas, a volta pra casa demorou mais do que tínhamos prometido pra Lorena. Também dá pra imaginar o que passou na cabeça dela: "pronto, essa irmãzinha me roubou minha mãe".
Mas depois, ficou claro que essa irmãzinha é inofensiva, e até dá pra brincar de boneca com ela de vez em quando: ajudar a trocar fralda, passar pomada, pegar no colo eventualmente... fico feliz vendo como elas têm um convívio tranquilo: a Aurora deitadinha na cadeirinha dela, vendo o mundo passar, ou simplesmente dormindo, e a Lorena brincando numa boa com as coisinhas dela. As cenas de ciúme foram raras, e nunca se voltaram contra a Aurora em si. Em geral a revolta era com o pai e a mãe, ou consigo mesma: muitas vezes a Lorena teve que sentar e chorar no chão, sem explicação aparente, simplesmente por frustração de não conseguir expressar o que deixava ela chateada.
Esse bom convívio me deixou aliviado, pois tudo que havia lido e ouvido é que em nenhuma hipótese se poderia deixar os dois (irmão mais velho e bebê) sozinhos. Essa necessidade de vigilância permanente me irrita muito. Porém, no caso das duas, desde cedo vimos que não é necessário: dá pra deixar as duas na sala tranquilamente enquanto cozinhamos ou vamos no banheiro. Agressão física nunca houve.
Em resumo: tudo bem por aqui, só tenho escrito um pouco menos. Mas à medida que a(s) menina(s) for(em) soltando as pérolas, volto a registrar por aqui.
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A manifestação mais evidente do ciúme da Lorena é fazer alguma arte pra chamar atenção. E ela tem fixação por cosméticos, perfumes, pomadas, pasta de dente.
Um dia de manhã bem cedo, enquanto ainda dormíamos, ela levantou bem quietinha da cama, empurrou o pufe pra perto do trocador da Aurora, abriu o pote de pomada e encheu a mão. Desceu do pufe e "caiou" a parede azul do quarto dela de pomada branca.
Quando levantamos, tivemos que ralhar com ela, claro. Depois do xingão, trocamos a roupa e arrumamos a mochila pra ir pra escola.
Antes de sair de casa, a mãe ainda fazendo cara de poucos amigos, a Lorena solta essa:
"-Papai, bebezinho não pode ir pra escola né?"
Como que dizendo: podem brigar comigo, podem dar atenção pra ela, mas isso eu tenho que ela não tem!
domingo, 17 de janeiro de 2016
O que não é certo
Não me considero um pai melhor do que nenhum outro. Não tenho filhos criados pra saber exatamente o que dá certo e o que não dá. Mas algumas atitudes de outros pais não entram na minha cabeça.
Outro dia, novamente no parque de Águas Claras, a Lorena começou a brincar perto de um menino mais novo, que perambulava na areia de fralda e com um pirulito na mão. O pai estava a uns 10m de distância e fuçava no celular.
Nada contra o pirulito, era fim-de-semana e talvez fosse só um agrado eventual pro guri.
E nada contra ficar mexendo no celular também, embora eu ache que levar o filho no parquinho seja uma oportunidade boa pra se desconectar um pouco, fugir da presença constante da TV e outros gadgets. Seguidamente vejo pais balançando os filhos e, simultaneamente, vendo as últimas e imperdíveis atualizações dos amigos no Facebook. Eu particularmente gosto de ficar observando a Lorena no parquinho, pois nessa idade, as habilidades se desenvolvem quase semanalmente.
(No último mês, por exemplo, a Lorena começou a escalar uma rampa com uns boulders, apoios que imitam pedra. Antes ela não conseguia, pois acabava ficando com o pé errado na pedra e não conseguia seguir. Mas agora dá pra ver claramente que ela planeja a escalada, só erguendo a perna quando ela tem clareza de qual será o passo seguinte. Fascinante!)
Mas voltando: o guri andava pra lá e pra cá com aquele pirulito, que já melava a mão e o rosto. Lá pelas tantas, aconteceu o que era previsível: ele tropeçou e o pirulito encheu de areia. Ele olhou pro pirulito com uma certa decepção, e deu pra ver que ele pensou seriamente em ignorar a areia e seguir lambendo.
O que o pai fez?
"Não lambe não, bebê. Tá sujo, joga fora"
Dito e feito, o pirulito foi arremessado e caiu na grama ao lado do parquinho. E o pai voltou pro seu smartphone.
Ou seja, além de ficar que nem um dois de paus e não dar uma mão pro guri, ainda ensina ele que jogar lixo no chão é aceitável.
Não aguentei. Falei algo como "assim não!", catei o pirulito e levei até a lixeira que estava a poucos metros de distância.
Se serviu pra alguma coisa, não sei. Mas o engraçado é que depois o cara ainda ficou puxando assunto comigo.
****************************************************************
Outra cena pior eu assisti há mais tempo, enquanto a Lorena e eu esperávamos a Lidi em frente à farmácia aqui perto. Um carro estacionou ao lado e desceu uma mulher bem apressada. Alguns instantes depois, saiu do carro a filha pré-adolescente, um pouco desajeitada. Nisso a mãe já tinha apertado o botão do alarme, sem que a menina tivesse saído completamente do carro. O alarme disparou espalhafatosamente. A mãe saiu da farmácia e, pro meu espanto, deu um sermão humilhante na guria:
"Sua lerda, sua lesa. A culpa é sua!"
Nessa eu não consegui intervir. Nunca espero tamanha estupidez das pessoas, então esse tipo de coisa me pega de surpresa. Também não sei se seria certo intervir.
Mas por quê tanto desamor? Todo adolescente é meio desajeitado, será que essa mulher não lembra disso? Humilhar um filho assim em público... E pra quê tanta pressa? O que aconteceu com essa mãe, será que ela cansou da filha?
Fiquei sinceramente chateado e pensando naquela cena por alguns dias. Prometi que jamais faria algo assim.
Outro dia, novamente no parque de Águas Claras, a Lorena começou a brincar perto de um menino mais novo, que perambulava na areia de fralda e com um pirulito na mão. O pai estava a uns 10m de distância e fuçava no celular.
Nada contra o pirulito, era fim-de-semana e talvez fosse só um agrado eventual pro guri.
E nada contra ficar mexendo no celular também, embora eu ache que levar o filho no parquinho seja uma oportunidade boa pra se desconectar um pouco, fugir da presença constante da TV e outros gadgets. Seguidamente vejo pais balançando os filhos e, simultaneamente, vendo as últimas e imperdíveis atualizações dos amigos no Facebook. Eu particularmente gosto de ficar observando a Lorena no parquinho, pois nessa idade, as habilidades se desenvolvem quase semanalmente.
(No último mês, por exemplo, a Lorena começou a escalar uma rampa com uns boulders, apoios que imitam pedra. Antes ela não conseguia, pois acabava ficando com o pé errado na pedra e não conseguia seguir. Mas agora dá pra ver claramente que ela planeja a escalada, só erguendo a perna quando ela tem clareza de qual será o passo seguinte. Fascinante!)
Mas voltando: o guri andava pra lá e pra cá com aquele pirulito, que já melava a mão e o rosto. Lá pelas tantas, aconteceu o que era previsível: ele tropeçou e o pirulito encheu de areia. Ele olhou pro pirulito com uma certa decepção, e deu pra ver que ele pensou seriamente em ignorar a areia e seguir lambendo.
O que o pai fez?
"Não lambe não, bebê. Tá sujo, joga fora"
Dito e feito, o pirulito foi arremessado e caiu na grama ao lado do parquinho. E o pai voltou pro seu smartphone.
Ou seja, além de ficar que nem um dois de paus e não dar uma mão pro guri, ainda ensina ele que jogar lixo no chão é aceitável.
Não aguentei. Falei algo como "assim não!", catei o pirulito e levei até a lixeira que estava a poucos metros de distância.
Se serviu pra alguma coisa, não sei. Mas o engraçado é que depois o cara ainda ficou puxando assunto comigo.
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Outra cena pior eu assisti há mais tempo, enquanto a Lorena e eu esperávamos a Lidi em frente à farmácia aqui perto. Um carro estacionou ao lado e desceu uma mulher bem apressada. Alguns instantes depois, saiu do carro a filha pré-adolescente, um pouco desajeitada. Nisso a mãe já tinha apertado o botão do alarme, sem que a menina tivesse saído completamente do carro. O alarme disparou espalhafatosamente. A mãe saiu da farmácia e, pro meu espanto, deu um sermão humilhante na guria:
"Sua lerda, sua lesa. A culpa é sua!"
Nessa eu não consegui intervir. Nunca espero tamanha estupidez das pessoas, então esse tipo de coisa me pega de surpresa. Também não sei se seria certo intervir.
Mas por quê tanto desamor? Todo adolescente é meio desajeitado, será que essa mulher não lembra disso? Humilhar um filho assim em público... E pra quê tanta pressa? O que aconteceu com essa mãe, será que ela cansou da filha?
Fiquei sinceramente chateado e pensando naquela cena por alguns dias. Prometi que jamais faria algo assim.
Coletânea de ano-novo
Bom, já que a Aurora decidiu esperar mais um pouco pra nascer, tenho tempo para atualizar o blog com coisas que eu pensei em escrever nas últimas semanas. E olha que a Lorena já teve todo tipo de "premonição" sobre o momento da chegada da irmã: primeiro ela disse que nasceria "dia tleis" (e não me pergunte por quê). Já mais recentemente, ela cravou a hora exata do nascimento: duas e qualenta!
"A Aulola não quer sair da sua barriga, mamãe?"
***********************************************
Lembrei de uma expressão que a Lorena criou no verão passado, quando passamos uma temporada no Cassino, que ela insistia em chamar de "piscina-praia".
Engraçado como o ser humano descreve o mundo a partir das suas experiências. Pra ela, uma guria de apartamento, a praia era essencialmente isso: um tipo específico de piscina.
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Sobre o processo de desfralde, não tenho grandes textos a escrever. Foi trabalhoso e em alguns momentos pareceu que nunca ia funcionar, mas um pouco de paciência e insistência lá pelas tantas começam a dar resultado. Agora fazemos até ao ar livre, na graminha entre a nossa rua e o metrô ou em outros locais públicos, mas discretamente escondidos dos olhares gerais. Outro dia estávamos no Parque de Águas Claras e ela pediu pra fazer xixi; fomos logo para trás de uma árvore e estava resolvido.
"Aqui não dá pra dar descarga, né papai?"
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Pros momentos em que a Lorena não quer se alimentar direito, inventei o Capitão Anemia. É um contraponto ao Capitão América, que aparentemente foi ressuscitado pela Marvel e faz muito sucesso na escolinha, junto com o Hulk e o Homem-Aranha. Mas o Capitão Anemia não come arroz com feijão, e com isso não tem força pra brincar no pula-pula e balançar.
**********************************************
Colocamos algumas luzinhas na janela pro fim-de-ano. Expliquei pra Lorena que isso ajudaria o Papai Noel a achar a nossa casa. Ela gostou da explicação, mas preferiu não se deparar com ele. Na noite do dia 24, fomos pro parquinho e só voltamos pra casa quando garanti de pés juntos que o dito cujo não estava mais em casa.
Já na noite do dia 31, levei ela pra janela pra ver os primeiros fogos. Eram 21h30 e ela fazia força pra ficar acordada.
"Vamos dormir Lorena?"
"Não, eu quero esperar o ano-novo entrar pela nossa janela"
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Já no dia 1º, a Lorena acordou às 6h da manhã. Tentei deitar com ela pra ver se pegava no sono novamente, mas ela tagarelou uma longa história que incluía o Ano-Novo, o Capitão Anemia, o Lobo Mau e outros personagens reais ou imaginários. Não teve jeito, não dormiu mais. Feliz 2016!
"A Aulola não quer sair da sua barriga, mamãe?"
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Lembrei de uma expressão que a Lorena criou no verão passado, quando passamos uma temporada no Cassino, que ela insistia em chamar de "piscina-praia".
Engraçado como o ser humano descreve o mundo a partir das suas experiências. Pra ela, uma guria de apartamento, a praia era essencialmente isso: um tipo específico de piscina.
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Sobre o processo de desfralde, não tenho grandes textos a escrever. Foi trabalhoso e em alguns momentos pareceu que nunca ia funcionar, mas um pouco de paciência e insistência lá pelas tantas começam a dar resultado. Agora fazemos até ao ar livre, na graminha entre a nossa rua e o metrô ou em outros locais públicos, mas discretamente escondidos dos olhares gerais. Outro dia estávamos no Parque de Águas Claras e ela pediu pra fazer xixi; fomos logo para trás de uma árvore e estava resolvido.
"Aqui não dá pra dar descarga, né papai?"
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Pros momentos em que a Lorena não quer se alimentar direito, inventei o Capitão Anemia. É um contraponto ao Capitão América, que aparentemente foi ressuscitado pela Marvel e faz muito sucesso na escolinha, junto com o Hulk e o Homem-Aranha. Mas o Capitão Anemia não come arroz com feijão, e com isso não tem força pra brincar no pula-pula e balançar.
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Colocamos algumas luzinhas na janela pro fim-de-ano. Expliquei pra Lorena que isso ajudaria o Papai Noel a achar a nossa casa. Ela gostou da explicação, mas preferiu não se deparar com ele. Na noite do dia 24, fomos pro parquinho e só voltamos pra casa quando garanti de pés juntos que o dito cujo não estava mais em casa.
Já na noite do dia 31, levei ela pra janela pra ver os primeiros fogos. Eram 21h30 e ela fazia força pra ficar acordada.
"Vamos dormir Lorena?"
"Não, eu quero esperar o ano-novo entrar pela nossa janela"
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Já no dia 1º, a Lorena acordou às 6h da manhã. Tentei deitar com ela pra ver se pegava no sono novamente, mas ela tagarelou uma longa história que incluía o Ano-Novo, o Capitão Anemia, o Lobo Mau e outros personagens reais ou imaginários. Não teve jeito, não dormiu mais. Feliz 2016!
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