sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Comida

Li alguma vez que os bebês a partir de 3 meses já são capazes de manipular os pais. Talvez a palavra manipular seja meio forte. Mas o fato é que eles logo percebem oportunidades de barganha e usam o irresistível charme que possuem pra conseguir o que querem. Não sei se é tão cedo assim; em todo o caso, acho que é na alimentação que os bebês mais exercem esse poder. Rapidinho eles percebem o valor que os pais colocam em uma alimentação regular e saudável, e de vez em quando jogam com isso: se fazem de difíceis, fecham a boca, viram pro lado oposto do prato... é uma regra prática: a pior técnica de negociação é demonstrar muito que se quer algo.
No caso dos bebês, o que eles ganham com isso? Mais do que tudo, atenção: ter um pai e uma mãe na volta, falando babababababbabababa aaaaaaabre a boquinhaaaaaa e outras macaquices. E eventualmente ganham outras coisas: algum brinquedinho ou o direito de ver televisão enquanto come. Maus hábitos, mas que às vezes entram na barganha.
Não quero me gabar, mas a Lorena nesse quesito vai relativamente bem. Raramente deu trabalho pra comer. A creche ajuda bastante nisso: ver os colegas comendo é um estímulo muito maior do que ter o seu pai chato dizendo pra comer mais um pouco.
Até o brócolis, que pro Marcos Piangers é um símbolo da "comida que eu gostaria que meu filho comesse" (e da dificuldade de ver isso acontecer), é um dos favoritos da Lorena. Tão favorito que não pode ir pra mesa junto com o resto da comida, senão ela não come mais nada. Brócolis é sobremesa!
Tem outras comidas que eu e a Lidi em um determinado período nos habituamos a mencionar em código, pois se citadas em voz alta, na língua portuguesa, poderiam desencadear uma obsessão incontrolável, só contida quando o tal alimento aparecesse: melancia, milho, batata-doce, uva passa, bergamota e chocolate.


Outra coisa que ajudaria seria ver de onde vêm os alimentos, ter uma hortinha e tal. Mas isso é difícil, morando em um apartamento em Águas Claras. Então o que tenho feito é ir a cada dois sábados na feira do Vicente Pires com a Lorena. Já virou hábito: ela no canguru, eu abro a sacola e ela vai escolhendo as laranjas, o feirante dá um abacaxi pra provar, tá docinho? Na outra banca tem uma prova de queijo minas, um palitinho com um pedaço de manga, e assim vai. A Lorena já está conhecida por lá: outro dia fui sozinho e um feirante me perguntou "cadê a menina?".
Ultimamente temos colocado uma cesta de frutas na mesa, com banana, bergamota e maçã, ou alguma outra fruta que tenha em casa. Isso funciona que é uma beleza: lá pelas tantas a guria passa por ali, dá um jeito de subir na mesa, cata uma fruta, descasca e sai comendo. Acho que é mais fácil se é a criança que toma a iniciativa.
Agora, o que mais ajuda mesmo é dar o exemplo: acho que dificilmente uma criança vai comer frutas e vegetais se os próprios pais não gostam. Eu gosto de chegar em casa do trabalho e limpar uma cenoura, ou uma maçã, ou até um pimentão, e ficar roendo aquilo antes da janta/lanche. De tanto ver aquilo, a Lorena já pede: "que tá comendo, papai?" - e acaba provando (e gostando) dessas coisas. O pimentão mesmo foi uma febre recente.
Mas como disse, não dá pra se gabar muito, até porque já me alertaram que essas coisas mudam: o fato de ter experimentado o máximo de alimentos quando pequeno não garante que esses gostos não mudam depois.

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