sexta-feira, 7 de agosto de 2015

cromossomos

A genética é uma coisa curiosa.  Alguns traços, físicos ou comportamentais, herdamos do nosso pai. Outros da nossa mãe. Alguns traços não são transmitidos, se perdem ao longo das gerações. De acordo com Darwin, grosseiramente, se algum traço nos dá uma vantagem na competição pela sobrevivência, esse traço tende a prevalecer nas gerações seguintes. Talvez por razões que nem compreendamos no momento: somente no futuro, olhando em retrospectiva, os pesquisadores entenderão porque uma determinada característica "pegou" na espécie. É o caso do sorriso, por exemplo, um traço exclusivo da espécie humana. Quando, pela primeira vez, um bebê pré-histórico sorriu para seus pais, eles não devem ter entendido direito a razão daquilo, mesmo sentindo uma vontade inexplicável de afofar o pequeno. Só hoje entendemos que o sorriso é uma estratégia infalível de criar empatia e com isso, angariar atenção, alimento e proteção.

Digo isso porque eu tenho um traço que muitos acham engraçado: sempre que me concentro em alguma tarefa, ponho a língua pra fora e faço uma leve pressão com os lábios. Me lembro de uma audição musical na 1a série do fundamental, em que eu toquei um instrumento de percussão que só existe em Lajeado: o coco (na verdade são duas metades de um coco seco: batendo um hemisfério no outro, produz-se um som seco, próprio para acompanhamento de audições musicais).
Pois bem, esse acompanhamento exigia grande noção de ritmo, e que eu batesse o coco no momento exato de cada compasso. De modo que naturalmente pus a língua pra fora durante toda a execução da peça, na frente de boa parte da cidade.
Muitos vieram me cumprimentar, não tanto pela música em si, mas por toda a platéia ter, visivelmente, reconhecido minha concentração.
Pelo que soube, muitos dos meus parentes próximos, irmãos e sobrinhos, também têm o mesmo hábito.

Pois bem, na aula de natação que faço com a Lorena, tem dois tipos de atividades: uma mais preliminar, com músicas, pra criança ir se acostumando ao meio líquido, e depois alguns exercícios mais "radicais": pular da borda, engatinhar sobre um tapete de EVA sobre a água, mergulhar, pendurar-se sobre a água até cair, etc. A Lorena fica bem concentrada quando faz essas atividades mais intensas, e adivinhem? Coloca a língua pra fora e pressiona com os lábios, antes do tchibum apoteótico.
Resolvi observar as outras crianças fazendo a mesma atividade. Afinal, talvez seja uma coisa da idade, todos fazem o mesmo.
Mas não, nenhuma outra põe a língua pra fora e pressiona com os lábios quando está concentrada. Só a Lorena.
Todo pai fica orgulhoso de reconhecer em seus filhos características que lhe são comuns. Mesmo que aparentemente não tenham função nenhuma, ou até sejam um pouco pitorescos, como esse. Mas suspeito que, um dia, ainda vamos descobrir que pôr a língua pra fora e pressionar com os lábios quando concentrado propicia algum tipo de vantagem: libera alguma substância estimulante do cérebro, distrai as pessoas ao redor, emagrece, sei lá...

3 comentários:

  1. Muito verdade! Na hora de estar concentrada na cozinha tanto duas filhas minhas, como eu mesma, apresentamos o mesmo jeito de respirar, melhor dito, de inspirar. na Grossmutter Paula eu sempre observava este detalhe. Custei a descobrir que também o tinha.

    ResponderExcluir
  2. Feliz dia dos pais Bruno! Esse ano em dose dupla! Parabéns por seres esse papai tão dedicado e amoroso! Bjo gde

    ResponderExcluir
  3. Feliz dia dos pais Bruno! Esse ano em dose dupla! Parabéns por seres esse papai tão dedicado e amoroso! Bjo gde

    ResponderExcluir