Como disse, li alguns livros sobre gravidez, criação de filhos, rotina, etc durante a gestação da Lorena. Pensei o seguinte: como não temos família por perto pra dar (permanentemente) aquele apoio pra gente aprender na prática, vou tentar estar o mais preparado possível, pelo menos na teoria. Sou um tipo mais racional, por isso não acredito que somente o "instinto materno" possa dar, repentinamente, onisciência pra resolver todos os impasses que surgem quando passamos a ter um recém-nascido em casa.
Abre parênteses:
O que não quer dizer que instinto materno não seja fascinante e muito útil em alguns casos. Pra mim, por mais envolvido que um pai (homem) seja, ele nunca vai ter a compreensão orgânica que a mãe tem do filho. Trocar fralda, por exemplo: acho que o homem aprende aquilo de forma mais mecânica, como uma sequência de procedimentos a ser seguidos pra se atingir o sucesso (um bebê limpo). Com a mãe é diferente: quando a Lidi troca a Lorena, observa se ela tem alguma marca, algum machucadinho, inspeciona cada centímetro quadrado do corpinho dela. Parece que a mãe tem uma visão mais... completa, mais abrangente.
A Lidi sempre percebe as coisas que se passam com a Lorena muito antes de qualquer outro. Já teve vezes em que ela olhou pra ela e disse: "tem algo errado com a minha filha". E quando ia ver, dito e feito, tinha alguma ferida na boca (sapinho) que irritava na hora de se alimentar, ou alguma gripe chegando.
Fecha parênteses
Por outro lado, também não adianta ler demais, porque tem muitas "correntes" sobre o assunto, principalmente sobre o estabelecimento (ou não) de uma rotina pro bebê, e às vezes o excesso pode confundir. Lá pelas tantas, os pais têm que abraçar uma estratégia com convicção e segui-la até funcionar.
Como falei, um dos livros que lemos foi "A encantadora de bebês", que no nosso caso ajudou muito a estabelecer uma rotina bem clara pra Lorena. Acho que a colocação em prática dessa rotina foi um dos fatores que ajudou ela a "cumprir as noites" (dormir a noite toda) desde muito cedo, desde os 2 meses. Devo voltar a esse assunto no futuro.
Gostei muito do "Crianças francesas não fazem manha". Além de ser bem divertido de ler, ele também dá boas dicas sobre como fazer a criança "cumprir as noites", sobre alimentação...
Mas achei que o livro generaliza um pouco. Estou certo que existem bons exemplos de criação nos EUA e no Brasil, assim como deve haver crianças birrentas na França (pelo que soube, até já escreveram o "Crianças francesas fazem manha, sim!").
Um livro que comprei e praticamente não li chama se "Why have kids?". Achei o argumento bem interessante: às vezes, pinta-se um quadro em que um bebê vai trazer toda a felicidade do mundo pros pais, e que tão logo ele vier à luz, haverá uma identificação imediata entre mãe e bebê, que se conectarão espiritualmente. Porém, a verdade é que nem sempre é assim: muitas vezes, os pais não se reconhecem de imediato naquela criança, ou a felicidade acaba sendo diminuída pelo cansaço em excesso. E a frustração é ainda maior por não corresponder àquela expectativa da sociedade por conexão e identificação.
Achei legal porque desmistifica e reduz a pressão sobre nós, pais. Mas a verdade é que o livro de resto é um pouco deprimente, e acabei não passando das primeiras páginas.
Durante a gestação, fiquei com essa dúvida na cabeça: e agora, quando ela nascer, será que vou me reconhecer de imediato naquela criança? Entre dezenas de bebês na maternidade, serei capaz de apontar pra Lorena e dizer "essa é minha filha, eu simplesmente sei que é"?
Ou será que vou ser como o pai de "Why have kids", que não reconhece e estranha seu filho?
No meu caso, não foi nenhuma coisa nem outra. Quando a Lorena nasceu, peguei ela no colo e pensei: "essa é minha filha, é a filha que a vida me deu. Não sei se ela se parece comigo, não estou sentindo uma conexão mágica. Mas é minha filha e vou dar o meu melhor pra cuidar dela".
Não sei se consigo me fazer entender, mas não foi uma coisa mágica, instintiva. Foi uma necessidade de cuidar da prole, algo mais pro lado da evolução, animal mesmo, como se estivesse na savana e as feras estivessem à espreita.
Talvez, no fim, seja tudo a mesma coisa.
sexta-feira, 26 de junho de 2015
terça-feira, 23 de junho de 2015
Gravidez
Quando a marquinha do exame de farmácia ficou azulzinha, há quase 3 anos atrás, minha cabeça ficou um turbilhão. Minha reação foi: "e agora? o que faço? vou fugir correndo!"
A Lidi disse que eu não fugiria de jeito nenhum. Eu devia ficar e ajudá-la com o bebê.
E isso que nós queríamos engravidar, estávamos tentando. Mas na hora em que vira realidade, sempre dá um friozinho na espinha.
Eu acompanhei a gravidez da Lorena assim: curtindo, me preparando, mas o tempo todo com aquela angústia: será que eu dou conta?
Minha maior dúvida sempre foi se teríamos a sabedoria de achar a dose certa, pra tudo. Até algumas gerações atrás, criar bebês era feito de forma autoritária, com uso da violência se necessário. Aparentemente isso não é mais bem-visto hoje em dia, e os pais dão bem mais liberdade pros filhos. Pelo que sei, porém, liberdade em excesso também não funciona, faz com que os pais sejam dominados pelos filhos, que, sem uma diretriz clara, acabam infelizes.
Tudo bem, sabemos o que não fazer. Na teoria, muito simples. Mas na prática, como isso funciona?? Como achar esse ponto ideal entre repressão e liberdade? Se pesar um pouco para um lado, vou criar um rebelde. Se relaxar demais, vou criar um ditadorzinho.
Esse dilema me angustiava.
Quando a Lorena nasceu, dormimos uma noite no hospital, eu meio improvisado no sofá do quarto. Claro, foi uma noite em que pouco dormimos, nossa filha estava aprendendo a viver fora da barriga, e nós aprendendo juntos.
Não tive exatamente um sonho, foi mais uma imagem que criei na minha mente, naquela mistura de adrenalina, alegria, tensão e cansaço: estava eu no Himalaia, com uma picareta na mão, e minha missão era britar todo o Monte Everest! À mão.
Assim me parecia a tarefa de criar um filho: uma tarefa enorme, pra vida toda, que exigiria paciência e perseverança dia após dia, e para a qual eu estava pobremente equipado.
Agora, depois de dois anos, me acalmei bastante. Cheguei à seguinte conclusão: dando atenção, dando carinho pro filho, uns 90% já estão resolvidos, e o resto vem quase que naturalmente. Não vou dizer que acertamos em cheio o ponto de equilíbrio, ou que a Lorena é um exemplo de boas maneiras (nesse exato momento enquanto escrevo, ela está fugindo da mãe no aeroporto de Campinas, em conexão de volta pra Brasília - antes disso ela deu piti pra amarrar o cinto na hora de pousar, e com a freada foi parar embaixo do assento da frente).
Mas com paciência e carinho vamos achando o caminho certo.
A Lidi disse que eu não fugiria de jeito nenhum. Eu devia ficar e ajudá-la com o bebê.
E isso que nós queríamos engravidar, estávamos tentando. Mas na hora em que vira realidade, sempre dá um friozinho na espinha.
Eu acompanhei a gravidez da Lorena assim: curtindo, me preparando, mas o tempo todo com aquela angústia: será que eu dou conta?
Minha maior dúvida sempre foi se teríamos a sabedoria de achar a dose certa, pra tudo. Até algumas gerações atrás, criar bebês era feito de forma autoritária, com uso da violência se necessário. Aparentemente isso não é mais bem-visto hoje em dia, e os pais dão bem mais liberdade pros filhos. Pelo que sei, porém, liberdade em excesso também não funciona, faz com que os pais sejam dominados pelos filhos, que, sem uma diretriz clara, acabam infelizes.
Tudo bem, sabemos o que não fazer. Na teoria, muito simples. Mas na prática, como isso funciona?? Como achar esse ponto ideal entre repressão e liberdade? Se pesar um pouco para um lado, vou criar um rebelde. Se relaxar demais, vou criar um ditadorzinho.
Esse dilema me angustiava.
Quando a Lorena nasceu, dormimos uma noite no hospital, eu meio improvisado no sofá do quarto. Claro, foi uma noite em que pouco dormimos, nossa filha estava aprendendo a viver fora da barriga, e nós aprendendo juntos.
Não tive exatamente um sonho, foi mais uma imagem que criei na minha mente, naquela mistura de adrenalina, alegria, tensão e cansaço: estava eu no Himalaia, com uma picareta na mão, e minha missão era britar todo o Monte Everest! À mão.
Assim me parecia a tarefa de criar um filho: uma tarefa enorme, pra vida toda, que exigiria paciência e perseverança dia após dia, e para a qual eu estava pobremente equipado.
Agora, depois de dois anos, me acalmei bastante. Cheguei à seguinte conclusão: dando atenção, dando carinho pro filho, uns 90% já estão resolvidos, e o resto vem quase que naturalmente. Não vou dizer que acertamos em cheio o ponto de equilíbrio, ou que a Lorena é um exemplo de boas maneiras (nesse exato momento enquanto escrevo, ela está fugindo da mãe no aeroporto de Campinas, em conexão de volta pra Brasília - antes disso ela deu piti pra amarrar o cinto na hora de pousar, e com a freada foi parar embaixo do assento da frente).
Mas com paciência e carinho vamos achando o caminho certo.
segunda-feira, 22 de junho de 2015
A descoberta do pudor
Todo mundo sabe que bebês não têm vergonha da própria nudez. Afinal, vêm ao mundo pelados, assistidos por um monte de adultos, muitas vezes fotografados, filmados... quando são pequenos, tomam banho de mar peladinhos, numa boa.
Mas em algum momento ao longo do crescimento, eles devem se dar conta de que ficar nu é algo para poucos momentos e poucos olhares. Afinal, todo mundo anda sempre vestido, isso deve ter alguma razão de ser.
No feriado de 1º maio, nossos amigos Petry e Teresa (tia Teteresa, como diz a Lorena) vieram almoçar lá em casa com o filhinho deles, o Vinícius.
Temos que fazer uma pausa aqui, pra que vocês entendam o que o Vini representa pra Lorena. Imagine que você é uma menininha de 2 anos de idade.
Pois bem, o Vini é um MENINO.
Ele é mais velho, tem 3 anos e meio. TRÊS anos e meio!
Ele imita animais legais, como tigres e leões.
Ele sabe tudo sobre dinossauros.
Ele é carinhoso com a Lorena: quando ambos vão no pula-pula, ele toma todo cuidado pra não radicalizar demais.
A Lorena suspira por ele, juro. Dá pra ver como ela suspira.
Pois bem, depois do almoço, os dois estavam brincando juntos no tapete, quando a Lorena parou e veio me falar, baixinho, que estava cocô.
Creio que não percebi, naquele momento, o desejo dela por discrição. Falei: "tá bom, o pai vai trocar a fralda".
O Vini, que já tinha estranhado a interrupção repentina da brincadeira, logo entendeu o que se passava. Mas a Lorena cortou ele: "fica aí, Vini".
Não teve jeito: ele nos seguiu até o quarto, e ficou analisando a anatomia da Lorena enquanto eu limpava o cocô. E a Lorena, muito constrangida: "vai pra sala Vini, vai pra sala!".
Tadinha. Claramente, ela sentiu sua intimidade invadida. E logo em um momento não tão favorável. E logo por quem: pelo VINI! Desde então, tenho tomado mais cuidado. Se tem gente em casa, fecho a porta, ou se estou em público, sempre trato de achar um lugar mais sossegado pra trocar.
Mas em algum momento ao longo do crescimento, eles devem se dar conta de que ficar nu é algo para poucos momentos e poucos olhares. Afinal, todo mundo anda sempre vestido, isso deve ter alguma razão de ser.
No feriado de 1º maio, nossos amigos Petry e Teresa (tia Teteresa, como diz a Lorena) vieram almoçar lá em casa com o filhinho deles, o Vinícius.
Temos que fazer uma pausa aqui, pra que vocês entendam o que o Vini representa pra Lorena. Imagine que você é uma menininha de 2 anos de idade.
Pois bem, o Vini é um MENINO.
Ele é mais velho, tem 3 anos e meio. TRÊS anos e meio!
Ele imita animais legais, como tigres e leões.
Ele sabe tudo sobre dinossauros.
Ele é carinhoso com a Lorena: quando ambos vão no pula-pula, ele toma todo cuidado pra não radicalizar demais.
A Lorena suspira por ele, juro. Dá pra ver como ela suspira.
Pois bem, depois do almoço, os dois estavam brincando juntos no tapete, quando a Lorena parou e veio me falar, baixinho, que estava cocô.
Creio que não percebi, naquele momento, o desejo dela por discrição. Falei: "tá bom, o pai vai trocar a fralda".
O Vini, que já tinha estranhado a interrupção repentina da brincadeira, logo entendeu o que se passava. Mas a Lorena cortou ele: "fica aí, Vini".
Não teve jeito: ele nos seguiu até o quarto, e ficou analisando a anatomia da Lorena enquanto eu limpava o cocô. E a Lorena, muito constrangida: "vai pra sala Vini, vai pra sala!".
Tadinha. Claramente, ela sentiu sua intimidade invadida. E logo em um momento não tão favorável. E logo por quem: pelo VINI! Desde então, tenho tomado mais cuidado. Se tem gente em casa, fecho a porta, ou se estou em público, sempre trato de achar um lugar mais sossegado pra trocar.
domingo, 21 de junho de 2015
Saudades
Faz alguns dias que não vejo a Lorena. Apareceu uma viagem a trabalho pra Lidi na terra dos pais dela, e ela resolveu levar a guria junto, pra rever os avós. Vão ser 8 dias no total. Durante a semana, foi mais fácil, pois estava trabalhando e não senti tanto. Mas ontem e hoje ficou mais melancólico por aqui.
Sempre gostei de viajar a trabalho, principalmente quando tem trabalho de campo. É uma oportunidade pra conversar com as pessoas, entender suas motivações, ver a realidade do país.
Mas desde que a Lorena nasceu, não tenho mais a mesma pilha. Viajei algumas vezes, pra vários estados, até pra Roraima eu fui nesse meio tempo. Mas muitas vezes, fico com uma ansiedade, querendo voltar logo, várias vezes acabei fazendo as coisas correndo, pra antecipar a volta.
A 1ª viagem foi quando ela tinha uns 2 meses, pro norte de MG, fiquei uns 4 dias fora. Me lembro bem da saudade que senti então: era uma coisa física, uma vontade de pegá-la no colo, como se estivesse faltando algum membro do corpo. Uma saudade diferente. Acho que isso tem a ver com o fato de que os bebês ficam muito no colo nessa idade, a gente acaba acostumando.
Agora, a saudade é de outro tipo. Tudo está tão silencioso, a casa está tão arrumada... Sinto falta do barulho, do blablabla dela mexendo nos brinquedos, das músicas que ela canta, até do choro eventual. Saudade dela chamando às 6h de domingo, daquele cansaço bom que dá no fim do dia, depois de correr atrás dela e levá-la na garupa o dia todo.
Hoje de manhã conversei com a ela no Whatsapp. A Lidi me contou que comprou uma massinha de modelar pra ela se ocupar no carro. Mas era meio dura e farelenta, a Lorena não conseguiu brincar de primeira com aquilo. Ela começou a reclamar, e disse: "A Lorena não funciona, mamãe, a Lorena não funciona".
Ela se comunica, essa guria. Do jeito dela, mas se comunica.
Sempre gostei de viajar a trabalho, principalmente quando tem trabalho de campo. É uma oportunidade pra conversar com as pessoas, entender suas motivações, ver a realidade do país.
Mas desde que a Lorena nasceu, não tenho mais a mesma pilha. Viajei algumas vezes, pra vários estados, até pra Roraima eu fui nesse meio tempo. Mas muitas vezes, fico com uma ansiedade, querendo voltar logo, várias vezes acabei fazendo as coisas correndo, pra antecipar a volta.
A 1ª viagem foi quando ela tinha uns 2 meses, pro norte de MG, fiquei uns 4 dias fora. Me lembro bem da saudade que senti então: era uma coisa física, uma vontade de pegá-la no colo, como se estivesse faltando algum membro do corpo. Uma saudade diferente. Acho que isso tem a ver com o fato de que os bebês ficam muito no colo nessa idade, a gente acaba acostumando.
Agora, a saudade é de outro tipo. Tudo está tão silencioso, a casa está tão arrumada... Sinto falta do barulho, do blablabla dela mexendo nos brinquedos, das músicas que ela canta, até do choro eventual. Saudade dela chamando às 6h de domingo, daquele cansaço bom que dá no fim do dia, depois de correr atrás dela e levá-la na garupa o dia todo.
Hoje de manhã conversei com a ela no Whatsapp. A Lidi me contou que comprou uma massinha de modelar pra ela se ocupar no carro. Mas era meio dura e farelenta, a Lorena não conseguiu brincar de primeira com aquilo. Ela começou a reclamar, e disse: "A Lorena não funciona, mamãe, a Lorena não funciona".
Ela se comunica, essa guria. Do jeito dela, mas se comunica.
sexta-feira, 19 de junho de 2015
escrever um blog
Ufa! parece que "quebrei o gelo" e consegui começar de verdade a escrever um blog.
Principalmente a primeira postagem foi mais difícil de escrever. Além de ser mais emocional, fiquei o tempo todo me perguntando se essa decisão é certa, se não estou expondo em excesso minha família... escrevia uma frase, voltava atrás, apagava, lia, relia...
Aos poucos, parece que vai ficando mais natural. Depois das primeiras duas postagens, já fiquei cheio de idéias, tive que anotar todas pra não esquecer. Outro dia custei a dormir, lembrando das peripécias daquela guria sapeca e pensando em como registrá-las de uma forma atraente.
Além disso, escrever um blog é uma experiência diferente pra mim, não pelo fato de escrever em si, mas pelo estilo. No meio acadêmico, há um certo rigor na estrutura que o texto deve seguir: introdução, revisão bibliográfica, metodologia, resultados e conclusões. No meu trabalho, também escrevemos muito. Nossas decisões são documentadas e justificadas em pareceres, que também têm uma lógica parecida: se A é maior que B, então sugiro que se tome a decisão C.
Um blog tem um ritmo diferente, a escrita é mais livre, dá pra abrir uns parênteses mais longos. A gente vai se lembrando das coisas e escrevendo. Nesses dias escrevendo, lembrei da minha preparação pro vestibular, em que o pecado mais fatal que alguém poderia cometer na redação era "fugir do tema". Pois bem, ao escrever um blog, dá pra fugir do tema de vez em quando, voltar mais na frente (foi o que aconteceu comigo nas postagens do canguru - aquilo não foi planejado), escrever de forma não-linear, indo e voltando no tempo. Também não há a necessidade de se chegar a uma conclusão no final do texto. Além da possibilidade de usar elementos que são raros na escrita mais formal, como diálogos e humor.
O site que hospeda o blog tem um bocado de estatísticas sobre quem acessou. Com um total de 187 visualizações, o blog já é de longe o meu texto mais lido de todos os tempos, ganhando de longe da minha tese (4 leitores), dos meus artigos (uns 10 leitores, talvez) e dos meus pareceres (nenhum leitor). Dá pra saber um bocado de coisa a mais, como o browser usado pra acessar o blog, o link de onde partiu o acesso, e o país em que foi lido. Tem várias visualizações dos EUA, além de duas na Grécia e uma na Polônia! Será que não foi por engano?? Quem será? Prezado amigo grego, gostaria de se identificar?
Bom, mas esse blog é pra falar da Lorena, e não sobre escrever blogs. Então aí vai uma tirada recente dela: procurando o nosso carro no estacionamento (uma Duster verde), ela vai passando de carro em carro dizendo "esse não é o caho do papai, esse não é o caho do papai". Até chegar no nosso carro: "tá aqui, o caho do papai!". E a Lidi pergunta: "que cor é o carro do papai? É verde?".
E ela: "é verde não! é mahom!"
hmmm. Talvez seja hora de lavar o caho. Um abraço
Principalmente a primeira postagem foi mais difícil de escrever. Além de ser mais emocional, fiquei o tempo todo me perguntando se essa decisão é certa, se não estou expondo em excesso minha família... escrevia uma frase, voltava atrás, apagava, lia, relia...
Aos poucos, parece que vai ficando mais natural. Depois das primeiras duas postagens, já fiquei cheio de idéias, tive que anotar todas pra não esquecer. Outro dia custei a dormir, lembrando das peripécias daquela guria sapeca e pensando em como registrá-las de uma forma atraente.
Além disso, escrever um blog é uma experiência diferente pra mim, não pelo fato de escrever em si, mas pelo estilo. No meio acadêmico, há um certo rigor na estrutura que o texto deve seguir: introdução, revisão bibliográfica, metodologia, resultados e conclusões. No meu trabalho, também escrevemos muito. Nossas decisões são documentadas e justificadas em pareceres, que também têm uma lógica parecida: se A é maior que B, então sugiro que se tome a decisão C.
Um blog tem um ritmo diferente, a escrita é mais livre, dá pra abrir uns parênteses mais longos. A gente vai se lembrando das coisas e escrevendo. Nesses dias escrevendo, lembrei da minha preparação pro vestibular, em que o pecado mais fatal que alguém poderia cometer na redação era "fugir do tema". Pois bem, ao escrever um blog, dá pra fugir do tema de vez em quando, voltar mais na frente (foi o que aconteceu comigo nas postagens do canguru - aquilo não foi planejado), escrever de forma não-linear, indo e voltando no tempo. Também não há a necessidade de se chegar a uma conclusão no final do texto. Além da possibilidade de usar elementos que são raros na escrita mais formal, como diálogos e humor.
O site que hospeda o blog tem um bocado de estatísticas sobre quem acessou. Com um total de 187 visualizações, o blog já é de longe o meu texto mais lido de todos os tempos, ganhando de longe da minha tese (4 leitores), dos meus artigos (uns 10 leitores, talvez) e dos meus pareceres (nenhum leitor). Dá pra saber um bocado de coisa a mais, como o browser usado pra acessar o blog, o link de onde partiu o acesso, e o país em que foi lido. Tem várias visualizações dos EUA, além de duas na Grécia e uma na Polônia! Será que não foi por engano?? Quem será? Prezado amigo grego, gostaria de se identificar?
Bom, mas esse blog é pra falar da Lorena, e não sobre escrever blogs. Então aí vai uma tirada recente dela: procurando o nosso carro no estacionamento (uma Duster verde), ela vai passando de carro em carro dizendo "esse não é o caho do papai, esse não é o caho do papai". Até chegar no nosso carro: "tá aqui, o caho do papai!". E a Lidi pergunta: "que cor é o carro do papai? É verde?".
E ela: "é verde não! é mahom!"
hmmm. Talvez seja hora de lavar o caho. Um abraço
Papai, o gatinho tá dormindo?
No fim de abril desse ano, minha irmã Erika e o Renato, marido dela, vieram do RS passar um fim-de-semana conosco. A Erikinha tem muito jeito com crianças (foi uma das minhas "mãezinhas", conforme postagem anterior). A Lorena sempre vai fácil no colo dela, mesmo sem vê-la tão frequentemente.
Ainda era o fim do período de chuvas em Brasília, não deu pra fazer muita coisa fora de casa. Mas no domingo de tarde deu uma estiada e fomos de bicicleta no Parque de Águas Claras, eu com a Lorena na cadeirinha e a Erika na bike da Lidi.
A Lorena se amarra em andar de bicicleta (devo voltar a esse assunto no futuro).
Já o Renato ficou em casa vendo o Gre-Nal (sobre esse assunto não gostaria de falar mais, obrigado).
Bem, o fato é que íamos pela avenida do Parque, e pouco antes da entrada, passei um gato branco atropelado na rua. O pobre bicho tinha virado um tapete, coitado.
Apesar de ter sido rápido, a Lorena não deixou de perceber e reconhecer naquilo um gato, apesar do estado.
Seguimos pedalando, e ela disse "um gatinho, papai?".
Respondi que sim.
Mais um tempinho, e ela: "o gatinho tá dormindo, papai?".
hmmm, menina esperta. E agora, o que responder?
"Está, minha filha... pode-se dizer que sim"
Mais umas pedadaladas, e ela solta essa:
"o gatinho não vai acordar, né papai?"
Quase parei de pedalar com essa! Minha filhinha de menos de dois anos tinha acabado de compreender algo totalmente abstrato: a morte. Mesmo sem saber a palavra pra isso.
I-m-p-r-e-s-s-i-o-n-a-n-t-e.
Respondi que sim, que ele não ia acordar mais.
Que momento. Essa história acho que nem precisaria registrar no blog, pois provavelmente nunca vou esquecê-la.
A Erika ficou bem impressionada também, tanto com a cena do gato quanto com o insight da Lorena.
No outro dia, fomos levar os dois no aeroporto, e tentando botar pilha na Lorena pra dar tchau pros tios, conversar alguma coisa, mas ela, meio sonolenta ainda, não tava muito pra falar.
E a Lidi: "fala alguma coisa, minha filha! O que foi, o gato comeu sua língua?"
E ela: "o gatinho tá dormindo!"
Ainda era o fim do período de chuvas em Brasília, não deu pra fazer muita coisa fora de casa. Mas no domingo de tarde deu uma estiada e fomos de bicicleta no Parque de Águas Claras, eu com a Lorena na cadeirinha e a Erika na bike da Lidi.
A Lorena se amarra em andar de bicicleta (devo voltar a esse assunto no futuro).
Já o Renato ficou em casa vendo o Gre-Nal (sobre esse assunto não gostaria de falar mais, obrigado).
Bem, o fato é que íamos pela avenida do Parque, e pouco antes da entrada, passei um gato branco atropelado na rua. O pobre bicho tinha virado um tapete, coitado.
Apesar de ter sido rápido, a Lorena não deixou de perceber e reconhecer naquilo um gato, apesar do estado.
Seguimos pedalando, e ela disse "um gatinho, papai?".
Respondi que sim.
Mais um tempinho, e ela: "o gatinho tá dormindo, papai?".
hmmm, menina esperta. E agora, o que responder?
"Está, minha filha... pode-se dizer que sim"
Mais umas pedadaladas, e ela solta essa:
"o gatinho não vai acordar, né papai?"
Quase parei de pedalar com essa! Minha filhinha de menos de dois anos tinha acabado de compreender algo totalmente abstrato: a morte. Mesmo sem saber a palavra pra isso.
I-m-p-r-e-s-s-i-o-n-a-n-t-e.
Respondi que sim, que ele não ia acordar mais.
Que momento. Essa história acho que nem precisaria registrar no blog, pois provavelmente nunca vou esquecê-la.
A Erika ficou bem impressionada também, tanto com a cena do gato quanto com o insight da Lorena.
No outro dia, fomos levar os dois no aeroporto, e tentando botar pilha na Lorena pra dar tchau pros tios, conversar alguma coisa, mas ela, meio sonolenta ainda, não tava muito pra falar.
E a Lidi: "fala alguma coisa, minha filha! O que foi, o gato comeu sua língua?"
E ela: "o gatinho tá dormindo!"
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Canguru! (3)
Agora sim! Nesse post hei de falar do canguru!
Como pai envolvido, me propus a cuidar da Lorena após o fim da licença da Lidi. Em comparação com a maioria das mães de Águas Claras, que em geral são servidoras públicas (6 meses de licença) ou não trabalham, a Lidi teve menos tempo pra se dedicar exclusivamente à filha. Quatro meses de licença, é a regra pra celetista. Mais alguns dias de férias, e chegaria o dia dela voltar ao trabalho.
Desde o início nossa idéia a longo prazo era colocar a Lorena em uma creche, e não com uma babá (volto ao assunto no futuro). Mas colocar na creche com 4 meses é de apertar o coração, né? Eu não tinha noção, mas nessa idade, um mês ou dois fazem uma baita diferença. A Lorena, com quatro meses, ainda nem sentava sozinha! E olha que sentar, por incrível que pareça, é uma tremenda conquista, representa uma baita independência, tanto para o bebê quanto pra quem cuida dele.
Assim, nossa idéia era ficar com ela em casa por mais um tempo, até uns 7-8 meses, e só então colocá-la na escolinha. Pra isso, fizemos um super cronograma de revezamento, que consistia basicamente em "importar" as avós do RS pra cuidar dela, cada uma por um período. E eu acabei pegando um mês de férias também, pra ficar com ela, quando ela tinha por volta dos 5 meses.
Será que dou conta?? Ficar o dia inteiro sozinho com a guria, tentando entender as necessidades dela, a razão do seu choro, botando pra dormir, etc etc??
(na realidade não era beeem o dia inteiro, pois a Lidi voltava pra almoçar em casa quase todos os dias, e aproveitava pra dar de mamar. Mas ainda assim, o normal era sair às 8h30 e chegar umas 19h).
Deu tudo certo. No fim da primeira semana cuidando dela, minha mãe me ligou toda orgulhosa, dizendo que eu era o primeiro Haussmann ("dono-de-casa") na família.
Mas depois de um tempo (e acredito que isso seja verdade pra outros pais e até mães), o grande desafio de cuidar de um bebê pequeno passa a ser vencer o tédio, que uma hora ou outra acaba tomando conta. Principalmente morando em apartamento. Principalmente quando se tem "bicho-carpinteiro", como é o meu caso.
(acho que não preciso pintar um mundo cor-de-rosa e posso ser bem franco aqui: o tédio também faz parte de criar um filho)
Aí é que entra o canguru. Como gosto de caminhar, pensei que seria legal preencher o tempo entre uma mamadeira e outra com uma boa volta pela cidade. E assim fizemos. Caminhávamos pelo parque, a Lorena no canguru. Íamos no hortifruti, a Lorena no canguru. Fomos em uma exposição de origami, no minizôo do La Salle, na exposição da renascença que teve no CCBB... Todos os dias, saía pra caminhar de manhã e de tarde, caminhadas de uma ou até duas horas.
A Lorena normalmente dormia nesses passeios, às vezes até duas sonecas por caminhada. Mas ela nunca reclamava: quando estava acordada, ficava olhando o mundo à volta, balbuciava algo, estava sempre em paz. No livro "O rastro dos cantos", em que documentou suas andanças entre os aborígenes australianos (que já li duas ou três vezes), o escritor Bruce Chatwin veio com uma teoria que gostei muito: por mais urbanos e sedentários (no sentido de não migrar) que sejamos, bem lá no fundo dos nossos genes ainda existe algo do nosso antepassado nômade, caçador-coletor, que nos impele a estar em movimento, e isso explica porque os bebês em geral ficam relaxados com um leve balanço, ou andando no carro. Acho que isso também explica a tranquilidade da Lorena nesses momentos.
Enfim, foi nesse período que me apaixonei por esse utensílio. Minha dica para os pais: usem muito o canguru, é uma forma excelente de criar um vínculo com seu filho.
(será que essa satisfação tem a ver com alguma frustração mal resolvida dos pais, decorrente do fato de que somente as mães carregam o filho no ventre? psicólogos, entrem em cena!)
Na época, tinha um canguru de uma conhecida marca italiana. Depois, quando a Lorena ficou mais pesada, as alças começaram a ralar minhas costas e troquei para um ergobaby, seguindo a dica da minha prima Rosvita. Já meu amigo Tiago Ruschel, pelo que sei, é fã dos slings, que eu nunca usei. Acho que todos são válidos.
Um abraço
Como pai envolvido, me propus a cuidar da Lorena após o fim da licença da Lidi. Em comparação com a maioria das mães de Águas Claras, que em geral são servidoras públicas (6 meses de licença) ou não trabalham, a Lidi teve menos tempo pra se dedicar exclusivamente à filha. Quatro meses de licença, é a regra pra celetista. Mais alguns dias de férias, e chegaria o dia dela voltar ao trabalho.
Desde o início nossa idéia a longo prazo era colocar a Lorena em uma creche, e não com uma babá (volto ao assunto no futuro). Mas colocar na creche com 4 meses é de apertar o coração, né? Eu não tinha noção, mas nessa idade, um mês ou dois fazem uma baita diferença. A Lorena, com quatro meses, ainda nem sentava sozinha! E olha que sentar, por incrível que pareça, é uma tremenda conquista, representa uma baita independência, tanto para o bebê quanto pra quem cuida dele.
Assim, nossa idéia era ficar com ela em casa por mais um tempo, até uns 7-8 meses, e só então colocá-la na escolinha. Pra isso, fizemos um super cronograma de revezamento, que consistia basicamente em "importar" as avós do RS pra cuidar dela, cada uma por um período. E eu acabei pegando um mês de férias também, pra ficar com ela, quando ela tinha por volta dos 5 meses.
Será que dou conta?? Ficar o dia inteiro sozinho com a guria, tentando entender as necessidades dela, a razão do seu choro, botando pra dormir, etc etc??
(na realidade não era beeem o dia inteiro, pois a Lidi voltava pra almoçar em casa quase todos os dias, e aproveitava pra dar de mamar. Mas ainda assim, o normal era sair às 8h30 e chegar umas 19h).
Deu tudo certo. No fim da primeira semana cuidando dela, minha mãe me ligou toda orgulhosa, dizendo que eu era o primeiro Haussmann ("dono-de-casa") na família.
Mas depois de um tempo (e acredito que isso seja verdade pra outros pais e até mães), o grande desafio de cuidar de um bebê pequeno passa a ser vencer o tédio, que uma hora ou outra acaba tomando conta. Principalmente morando em apartamento. Principalmente quando se tem "bicho-carpinteiro", como é o meu caso.
(acho que não preciso pintar um mundo cor-de-rosa e posso ser bem franco aqui: o tédio também faz parte de criar um filho)
Aí é que entra o canguru. Como gosto de caminhar, pensei que seria legal preencher o tempo entre uma mamadeira e outra com uma boa volta pela cidade. E assim fizemos. Caminhávamos pelo parque, a Lorena no canguru. Íamos no hortifruti, a Lorena no canguru. Fomos em uma exposição de origami, no minizôo do La Salle, na exposição da renascença que teve no CCBB... Todos os dias, saía pra caminhar de manhã e de tarde, caminhadas de uma ou até duas horas.
A Lorena normalmente dormia nesses passeios, às vezes até duas sonecas por caminhada. Mas ela nunca reclamava: quando estava acordada, ficava olhando o mundo à volta, balbuciava algo, estava sempre em paz. No livro "O rastro dos cantos", em que documentou suas andanças entre os aborígenes australianos (que já li duas ou três vezes), o escritor Bruce Chatwin veio com uma teoria que gostei muito: por mais urbanos e sedentários (no sentido de não migrar) que sejamos, bem lá no fundo dos nossos genes ainda existe algo do nosso antepassado nômade, caçador-coletor, que nos impele a estar em movimento, e isso explica porque os bebês em geral ficam relaxados com um leve balanço, ou andando no carro. Acho que isso também explica a tranquilidade da Lorena nesses momentos.
Enfim, foi nesse período que me apaixonei por esse utensílio. Minha dica para os pais: usem muito o canguru, é uma forma excelente de criar um vínculo com seu filho.
(será que essa satisfação tem a ver com alguma frustração mal resolvida dos pais, decorrente do fato de que somente as mães carregam o filho no ventre? psicólogos, entrem em cena!)
Na época, tinha um canguru de uma conhecida marca italiana. Depois, quando a Lorena ficou mais pesada, as alças começaram a ralar minhas costas e troquei para um ergobaby, seguindo a dica da minha prima Rosvita. Já meu amigo Tiago Ruschel, pelo que sei, é fã dos slings, que eu nunca usei. Acho que todos são válidos.
Um abraço
Canguru! (2)
Como disse no post anterior, me considero um pai envolvido. Troco fralda, botava pra arrotar, boto pra dormir, dou comida, troco de roupa, levo no parquinho, lavo a louça, cozinho... confesso que uma pessoa que me motivou muito a agir dessa forma foi meu colega e amigo Luciano Meneses, que tem uma filha pouco mais de um ano mais velha do que a Lorena. O Luciano é um cara tão empolgado, mas tão empolgado com a paternidade, que cativa sabe? E pense num baiano que fala, viu... quando ele começa a falar da Helena, pode procurar um assento pois certamente virão boas histórias. Ele pode falar uma tarde inteira da pequena dele.
O fato é que, quando a Helena nasceu, o Luciano contava das primeiras noitadas com ela, e explicou como eles faziam quando ela acordava de noite: a esposa dele ficava na cama, enquanto ele levantava, trocava a fralda e levava pra mãe na cama pra dar de mamar. Depois da refeição, ele pegava novamente a menina, botava pra arrotar (pelo menos 10 minutos de pezinho, batendo suavemente nas costas) e depois botava pra dormir, enquanto a mãe voltava pro seu merecido e necessário descanso. A única coisa que ele não fazia, naturalmente, era amamentar. Luciano, meu ídolo!
Eu mesmo nunca cheguei a esse ponto, pelo menos não regularmente. É certo que fiz de tudo um pouco, e na maioria das vezes acordava junto com a Lidi pra ajudar de alguma forma. Muitas vezes também fiquei botando a Lorena pra arrotar enquanto a Lidi voltava pra cama, mas o fato é que no nosso caso isso nunca foi muito sistemático.
De qualquer forma, eu me envolvia em tudo. E, pra mim, o motivo pra termos adotado esse arranjo sempre foi muito claro: é o mais justo. Pois ambos trabalhamos, temos mais ou menos a mesma qualificação, temos salários parecidos, pegamos a EPTG congestionada todo dia... é absolutamente justo que dividamos também as tarefas de casa e os cuidados dos filhos, em todos os aspectos em que isso é possível.
Porém, por mais justo que seja, será que esse arranjo é o melhor para os filhos? Será que um sistema onde os dois pais fazem de tudo, sem uma divisão clara de tarefas, não pode criar confusão na cabeça da criança? Será que o bebê precisa de referências bem distintas do papel de cada pai?
Acho que esse tipo de questionamento é típico de quem passou um tempo na pesquisa científica, como eu. É natural que gastemos algum esforço testando nossas hipóteses, questionando nossas verdades. Talvez se minha formação fosse outra, mergulharia com mais convicção no caminho escolhido, sem ficar constantemente avaliando seus prós e contras.
Minha mãe, que como falei anteriormente, criou os filhos em outro esquema, e nunca reclamou dele, disse uma vez que esse o meu envolvimento é um pouco uma coisa de "moda". Achei divertido, não me importo com o comentário dela, acho que criar filhos é uma coisa tão complexa que temos que considerar todo tipo de experiências e conhecimentos dos outros, principalmente dos pais, pra compor nossa própria "colcha de retalhos".
Minha opinião? Estou muito satisfeito com os resultados até aqui. Participei intensamente da vida da minha filha, acredito que conheço ela muito bem, e sinto que ela retribui com muito carinho a minha dedicação.
P.S. O preâmbulo continua e ainda não entrei no assunto "canguru". Vamos chegar lá!
O fato é que, quando a Helena nasceu, o Luciano contava das primeiras noitadas com ela, e explicou como eles faziam quando ela acordava de noite: a esposa dele ficava na cama, enquanto ele levantava, trocava a fralda e levava pra mãe na cama pra dar de mamar. Depois da refeição, ele pegava novamente a menina, botava pra arrotar (pelo menos 10 minutos de pezinho, batendo suavemente nas costas) e depois botava pra dormir, enquanto a mãe voltava pro seu merecido e necessário descanso. A única coisa que ele não fazia, naturalmente, era amamentar. Luciano, meu ídolo!
Eu mesmo nunca cheguei a esse ponto, pelo menos não regularmente. É certo que fiz de tudo um pouco, e na maioria das vezes acordava junto com a Lidi pra ajudar de alguma forma. Muitas vezes também fiquei botando a Lorena pra arrotar enquanto a Lidi voltava pra cama, mas o fato é que no nosso caso isso nunca foi muito sistemático.
De qualquer forma, eu me envolvia em tudo. E, pra mim, o motivo pra termos adotado esse arranjo sempre foi muito claro: é o mais justo. Pois ambos trabalhamos, temos mais ou menos a mesma qualificação, temos salários parecidos, pegamos a EPTG congestionada todo dia... é absolutamente justo que dividamos também as tarefas de casa e os cuidados dos filhos, em todos os aspectos em que isso é possível.
Porém, por mais justo que seja, será que esse arranjo é o melhor para os filhos? Será que um sistema onde os dois pais fazem de tudo, sem uma divisão clara de tarefas, não pode criar confusão na cabeça da criança? Será que o bebê precisa de referências bem distintas do papel de cada pai?
Acho que esse tipo de questionamento é típico de quem passou um tempo na pesquisa científica, como eu. É natural que gastemos algum esforço testando nossas hipóteses, questionando nossas verdades. Talvez se minha formação fosse outra, mergulharia com mais convicção no caminho escolhido, sem ficar constantemente avaliando seus prós e contras.
Minha mãe, que como falei anteriormente, criou os filhos em outro esquema, e nunca reclamou dele, disse uma vez que esse o meu envolvimento é um pouco uma coisa de "moda". Achei divertido, não me importo com o comentário dela, acho que criar filhos é uma coisa tão complexa que temos que considerar todo tipo de experiências e conhecimentos dos outros, principalmente dos pais, pra compor nossa própria "colcha de retalhos".
Minha opinião? Estou muito satisfeito com os resultados até aqui. Participei intensamente da vida da minha filha, acredito que conheço ela muito bem, e sinto que ela retribui com muito carinho a minha dedicação.
P.S. O preâmbulo continua e ainda não entrei no assunto "canguru". Vamos chegar lá!
Canguru!
Como disse na postagem anterior, nada contra os múltiplos arranjos que um casal faz pra "dar água pros seus passarinhos" nem contra o estilo de cada pai. Meu pai mesmo foi um pai mais "tradicional", que focou muito no trabalho e delegou o dia-a-dia com os 7 filhos (isso mesmo!) para a minha mãe (ufa) e para minhas irmãs mais velhas, que lá pelas tantas já estavam ajudando a cuidar dos moleques mais novos. E nem por isso minha admiração pelo meu pai é menor (volto a falar disso no futuro).
Mas a verdade é que eu me considero um pai "que participa". Desde a gravidez tentei me envolver com a vinda da Lorena. Pintei o quarto dela, ajudei a escolher utensílios, li a bibliografia no assunto* e fiz o curso de gestante junto com a Lidi.
Decidi que ia ajudar a trocar fraldas. Aliás, esse parece ser um divisor de águas: muitas pessoas perguntam se o pai também troca fraldas, e olham com respeito se a resposta for positiva. Aparentemente algumas pessoas acham essa uma tarefa repugnante.
Pois bem, depois de aproximadamente 2600 trocas de fraldas (sim, pois a Lorena tem uns 750 dias de vida, com uma média de 7 fraldas por dia, sendo que eu devo ter trocado metade das vezes), minha conclusão é que há um exagero nisso. Em primeiro lugar, não é tão repugnante assim: quando o bebê é bem pequeno, o cocô não tem cheiro nenhum, e só à medida em que alimentos sólidos são introduzidos (uns 6 meses, digamos) é que ele passa a ter o cheirinho característico. Assim, a gente vai se acostumando gradativamente ao processo.
Em segundo lugar, não é trabalhoso: trocar fraldas é algo mecânico, se aprende muito facilmente. Existem diversos outros cuidados do bebê que dão bem mais trabalho e exigem um conjunto maior de habilidades. Colocar pra dormir, por exemplo, requer paciência, delicadeza e autocontrole, pois os bebês têm uma "anteninha" pra captar tensões no ar, e um eventual nervosismo dos pais nessa hora pode ser fatal.
Dar de comer, cuidar quando está doente, ter uma rotina disciplinada, todas essas também são atividades mais difíceis do que trocar fraldas, na minha opinião. Volto a elas no futuro.
Porém, essa conclusão eu obtive agora, do alto da minha vaaaasta experiência como pai**. Antes da Lorena nascer (influenciado pelo mito da troca de fraldas), eu tinha sérias dúvidas se teria capacidade de realizar essa tarefa.
Foi por isso que compramos a Lorenilda.
A Lorenilda é uma boneca do tamanho de um bebê de meio ano, mais ou menos (ver foto). A idéia era treinar a troca de fraldas com ela durante a gestação, para estarmos plenamente capacitados quando fosse pra valer.
Claro que isso se revelou uma ideia de jerico, ou como dizem em Lajeado, uma "ideia de girino". A Lorenilda não tem nada a ver com um bebê de verdade: as pernas dela são pouco flexíveis, não há necessidade de amparar a cabeça, a sujeira que ela faz é de "faz-de-conta", ela não faz nenhum movimento imprevisível...
Trocamos a fralda dela uma vez, mas eu logo senti que aquilo tinha me ajudado pouco. Era como tomar cerveja sem álcool, ou leite de soja, como se aquilo não fosse genuíno.
Foi com as boas orientações da Lidi e com a prática que aprendi a trocar fraldas de verdade.
Mas a Lorenilda não foi em vão. Hoje ela é um dos bebês favoritos da Lorena, que chama ela de "Lalaluda".
Bem, vocês devem estar se perguntando a relação do texto dessa postagem com o seu título. Na verdade, ia falar sobre canguru (o utensílio de transporte de bebês, não o animal), mas o preâmbulo do texto acabou ficando longo e criou vida própria. Falo do canguru na próxima.
*What to expect when you are expecting
*Crianças francesas não fazem manha
*A encantadora de bebês
** isso foi uma ironia viu? resolvi avisar pois, como sou considerado "um cara sério", às vezes as pessoas não entendem quando faço ironia.
Mas a verdade é que eu me considero um pai "que participa". Desde a gravidez tentei me envolver com a vinda da Lorena. Pintei o quarto dela, ajudei a escolher utensílios, li a bibliografia no assunto* e fiz o curso de gestante junto com a Lidi.
Decidi que ia ajudar a trocar fraldas. Aliás, esse parece ser um divisor de águas: muitas pessoas perguntam se o pai também troca fraldas, e olham com respeito se a resposta for positiva. Aparentemente algumas pessoas acham essa uma tarefa repugnante.
Pois bem, depois de aproximadamente 2600 trocas de fraldas (sim, pois a Lorena tem uns 750 dias de vida, com uma média de 7 fraldas por dia, sendo que eu devo ter trocado metade das vezes), minha conclusão é que há um exagero nisso. Em primeiro lugar, não é tão repugnante assim: quando o bebê é bem pequeno, o cocô não tem cheiro nenhum, e só à medida em que alimentos sólidos são introduzidos (uns 6 meses, digamos) é que ele passa a ter o cheirinho característico. Assim, a gente vai se acostumando gradativamente ao processo.
Em segundo lugar, não é trabalhoso: trocar fraldas é algo mecânico, se aprende muito facilmente. Existem diversos outros cuidados do bebê que dão bem mais trabalho e exigem um conjunto maior de habilidades. Colocar pra dormir, por exemplo, requer paciência, delicadeza e autocontrole, pois os bebês têm uma "anteninha" pra captar tensões no ar, e um eventual nervosismo dos pais nessa hora pode ser fatal.
Dar de comer, cuidar quando está doente, ter uma rotina disciplinada, todas essas também são atividades mais difíceis do que trocar fraldas, na minha opinião. Volto a elas no futuro.
Porém, essa conclusão eu obtive agora, do alto da minha vaaaasta experiência como pai**. Antes da Lorena nascer (influenciado pelo mito da troca de fraldas), eu tinha sérias dúvidas se teria capacidade de realizar essa tarefa.
Foi por isso que compramos a Lorenilda.
A Lorenilda é uma boneca do tamanho de um bebê de meio ano, mais ou menos (ver foto). A idéia era treinar a troca de fraldas com ela durante a gestação, para estarmos plenamente capacitados quando fosse pra valer.
Claro que isso se revelou uma ideia de jerico, ou como dizem em Lajeado, uma "ideia de girino". A Lorenilda não tem nada a ver com um bebê de verdade: as pernas dela são pouco flexíveis, não há necessidade de amparar a cabeça, a sujeira que ela faz é de "faz-de-conta", ela não faz nenhum movimento imprevisível...
Trocamos a fralda dela uma vez, mas eu logo senti que aquilo tinha me ajudado pouco. Era como tomar cerveja sem álcool, ou leite de soja, como se aquilo não fosse genuíno.
Foi com as boas orientações da Lidi e com a prática que aprendi a trocar fraldas de verdade.
Mas a Lorenilda não foi em vão. Hoje ela é um dos bebês favoritos da Lorena, que chama ela de "Lalaluda".
Bem, vocês devem estar se perguntando a relação do texto dessa postagem com o seu título. Na verdade, ia falar sobre canguru (o utensílio de transporte de bebês, não o animal), mas o preâmbulo do texto acabou ficando longo e criou vida própria. Falo do canguru na próxima.
*What to expect when you are expecting
*Crianças francesas não fazem manha
*A encantadora de bebês
** isso foi uma ironia viu? resolvi avisar pois, como sou considerado "um cara sério", às vezes as pessoas não entendem quando faço ironia.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Papai, quero quebrar!
O nome desse blog, que também intitula a 1a postagem, é uma frase que minha filhinha Lorena, atualmente com 2 anos, soltou há uns 3 meses atrás.
Antes que pensem que ela é um pequeno capeta (não é!), deixem-me explicar: a Lorena ganhou um quebra-cabeça de 24 peças da turma do ursinho Puff, bem colorido, que ela ADORA! No início ela não montava muito, apenas colocava uns ovinhos com pequenos elementos da imagem por cima do quebra-cabeça já montado (ver foto). Mas rapidamente isso ficou aborrecido pra ela, e hoje ela monta super bem! Ultimamente a primeira atividade ao acordar era montar o tal quebra-cabeça.
Pois bem, numa dessas manhãs, ela sentou na mesinha, olhou para as peças soltas, e disse: "Papai, eu quero... ", pensou um pouco e completou: "Papai, eu quero quebrar!".
Achei fantástico o raciocínio dela. De alguma forma, ela entendeu a estrutura da nossa língua e percebeu que, pra expressar o que ela desejava, precisaria de um verbo. Mas qual é o verbo que se aplica à brincadeira de quebra-cabeça? Quebrar, oras! Se o verbo do pula-pula é pular, e do escorregador é escorregar, é lógico que o do quebra-cabeça é... quebrar!
Desde então, assim como a Lorena achou um jeito de transmitir suas vontades, tenho pensado em escrever esse blog, para expressar um pouco das minhas experiências e opiniões sobre a paternidade, relatar essas pequenas descobertas que fazemos diariamente quando temos um filho pequeno.
E escrever do ponto de vista do pai, que é um personagem com um papel às vezes confuso, cujo envolvimento pode variar desde o "intenso" (trocar fraldas/dar comida/brincar de boneca/limpar a casa/trabalhar) até um estilo mais "provedor" ou "estratégico", com uma divisão clara de tarefas (com diversas gradações entre esses dois estilos).
(quero deixar claro que nessa rotulação não tem nenhuma crítica, velada ou explícita, a um "estilo" ou outro. Cada lar é uma realidade e cada casal tem um arranjo ideal pra criar seus filhos)
Além disso, acho que não é muito comum os pais escreverem sobre sua condição. Certamente que há blogs de pais (e vou achar um tempo para lê-los também), mas aqui em Águas Claras onde moramos (e onde tem muitos casais jovens com crianças pequenas), vejo que a maioria dos relatos na internet é escrita pelas mães.
Pelo que minha esposa Lidiane me disse, um blog pode até virar coisa séria! Aparentemente, tem até gente que ganha $$ pra fazer blog (com merchandising, algo como "as assaduras do bebê estavam me deixando louco, até que usei a Fralda XXXX e meus problemas acabaram"). Não pretendo ir assim tão longe: não tenho a expectativa de grande audiência, provavelmente vou enviar o link para alguns parentes e amigos verem o que acham, mas a principal razão é mesmo relatar as pequenas descobertas da minha pequena. Até para registrar esses momentos, marcar as datas em que determinados "pontos notáveis" foram atingidos, etc, e quem sabe um dia, daqui a uns 15 anos, a sentar com a Lorena e ler todas as postagens (provavelmente ela vai achar que isso é "mó mico", mas tudo bem).
Volto em breve. Um abraço
Antes que pensem que ela é um pequeno capeta (não é!), deixem-me explicar: a Lorena ganhou um quebra-cabeça de 24 peças da turma do ursinho Puff, bem colorido, que ela ADORA! No início ela não montava muito, apenas colocava uns ovinhos com pequenos elementos da imagem por cima do quebra-cabeça já montado (ver foto). Mas rapidamente isso ficou aborrecido pra ela, e hoje ela monta super bem! Ultimamente a primeira atividade ao acordar era montar o tal quebra-cabeça.
Pois bem, numa dessas manhãs, ela sentou na mesinha, olhou para as peças soltas, e disse: "Papai, eu quero... ", pensou um pouco e completou: "Papai, eu quero quebrar!".
Achei fantástico o raciocínio dela. De alguma forma, ela entendeu a estrutura da nossa língua e percebeu que, pra expressar o que ela desejava, precisaria de um verbo. Mas qual é o verbo que se aplica à brincadeira de quebra-cabeça? Quebrar, oras! Se o verbo do pula-pula é pular, e do escorregador é escorregar, é lógico que o do quebra-cabeça é... quebrar!
Desde então, assim como a Lorena achou um jeito de transmitir suas vontades, tenho pensado em escrever esse blog, para expressar um pouco das minhas experiências e opiniões sobre a paternidade, relatar essas pequenas descobertas que fazemos diariamente quando temos um filho pequeno.
E escrever do ponto de vista do pai, que é um personagem com um papel às vezes confuso, cujo envolvimento pode variar desde o "intenso" (trocar fraldas/dar comida/brincar de boneca/limpar a casa/trabalhar) até um estilo mais "provedor" ou "estratégico", com uma divisão clara de tarefas (com diversas gradações entre esses dois estilos).
(quero deixar claro que nessa rotulação não tem nenhuma crítica, velada ou explícita, a um "estilo" ou outro. Cada lar é uma realidade e cada casal tem um arranjo ideal pra criar seus filhos)
Além disso, acho que não é muito comum os pais escreverem sobre sua condição. Certamente que há blogs de pais (e vou achar um tempo para lê-los também), mas aqui em Águas Claras onde moramos (e onde tem muitos casais jovens com crianças pequenas), vejo que a maioria dos relatos na internet é escrita pelas mães.
Pelo que minha esposa Lidiane me disse, um blog pode até virar coisa séria! Aparentemente, tem até gente que ganha $$ pra fazer blog (com merchandising, algo como "as assaduras do bebê estavam me deixando louco, até que usei a Fralda XXXX e meus problemas acabaram"). Não pretendo ir assim tão longe: não tenho a expectativa de grande audiência, provavelmente vou enviar o link para alguns parentes e amigos verem o que acham, mas a principal razão é mesmo relatar as pequenas descobertas da minha pequena. Até para registrar esses momentos, marcar as datas em que determinados "pontos notáveis" foram atingidos, etc, e quem sabe um dia, daqui a uns 15 anos, a sentar com a Lorena e ler todas as postagens (provavelmente ela vai achar que isso é "mó mico", mas tudo bem).
Volto em breve. Um abraço
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