Como disse, li alguns livros sobre gravidez, criação de filhos, rotina, etc durante a gestação da Lorena. Pensei o seguinte: como não temos família por perto pra dar (permanentemente) aquele apoio pra gente aprender na prática, vou tentar estar o mais preparado possível, pelo menos na teoria. Sou um tipo mais racional, por isso não acredito que somente o "instinto materno" possa dar, repentinamente, onisciência pra resolver todos os impasses que surgem quando passamos a ter um recém-nascido em casa.
Abre parênteses:
O que não quer dizer que instinto materno não seja fascinante e muito útil em alguns casos. Pra mim, por mais envolvido que um pai (homem) seja, ele nunca vai ter a compreensão orgânica que a mãe tem do filho. Trocar fralda, por exemplo: acho que o homem aprende aquilo de forma mais mecânica, como uma sequência de procedimentos a ser seguidos pra se atingir o sucesso (um bebê limpo). Com a mãe é diferente: quando a Lidi troca a Lorena, observa se ela tem alguma marca, algum machucadinho, inspeciona cada centímetro quadrado do corpinho dela. Parece que a mãe tem uma visão mais... completa, mais abrangente.
A Lidi sempre percebe as coisas que se passam com a Lorena muito antes de qualquer outro. Já teve vezes em que ela olhou pra ela e disse: "tem algo errado com a minha filha". E quando ia ver, dito e feito, tinha alguma ferida na boca (sapinho) que irritava na hora de se alimentar, ou alguma gripe chegando.
Fecha parênteses
Por outro lado, também não adianta ler demais, porque tem muitas "correntes" sobre o assunto, principalmente sobre o estabelecimento (ou não) de uma rotina pro bebê, e às vezes o excesso pode confundir. Lá pelas tantas, os pais têm que abraçar uma estratégia com convicção e segui-la até funcionar.
Como falei, um dos livros que lemos foi "A encantadora de bebês", que no nosso caso ajudou muito a estabelecer uma rotina bem clara pra Lorena. Acho que a colocação em prática dessa rotina foi um dos fatores que ajudou ela a "cumprir as noites" (dormir a noite toda) desde muito cedo, desde os 2 meses. Devo voltar a esse assunto no futuro.
Gostei muito do "Crianças francesas não fazem manha". Além de ser bem divertido de ler, ele também dá boas dicas sobre como fazer a criança "cumprir as noites", sobre alimentação...
Mas achei que o livro generaliza um pouco. Estou certo que existem bons exemplos de criação nos EUA e no Brasil, assim como deve haver crianças birrentas na França (pelo que soube, até já escreveram o "Crianças francesas fazem manha, sim!").
Um livro que comprei e praticamente não li chama se "Why have kids?". Achei o argumento bem interessante: às vezes, pinta-se um quadro em que um bebê vai trazer toda a felicidade do mundo pros pais, e que tão logo ele vier à luz, haverá uma identificação imediata entre mãe e bebê, que se conectarão espiritualmente. Porém, a verdade é que nem sempre é assim: muitas vezes, os pais não se reconhecem de imediato naquela criança, ou a felicidade acaba sendo diminuída pelo cansaço em excesso. E a frustração é ainda maior por não corresponder àquela expectativa da sociedade por conexão e identificação.
Achei legal porque desmistifica e reduz a pressão sobre nós, pais. Mas a verdade é que o livro de resto é um pouco deprimente, e acabei não passando das primeiras páginas.
Durante a gestação, fiquei com essa dúvida na cabeça: e agora, quando ela nascer, será que vou me reconhecer de imediato naquela criança? Entre dezenas de bebês na maternidade, serei capaz de apontar pra Lorena e dizer "essa é minha filha, eu simplesmente sei que é"?
Ou será que vou ser como o pai de "Why have kids", que não reconhece e estranha seu filho?
No meu caso, não foi nenhuma coisa nem outra. Quando a Lorena nasceu, peguei ela no colo e pensei: "essa é minha filha, é a filha que a vida me deu. Não sei se ela se parece comigo, não estou sentindo uma conexão mágica. Mas é minha filha e vou dar o meu melhor pra cuidar dela".
Não sei se consigo me fazer entender, mas não foi uma coisa mágica, instintiva. Foi uma necessidade de cuidar da prole, algo mais pro lado da evolução, animal mesmo, como se estivesse na savana e as feras estivessem à espreita.
Talvez, no fim, seja tudo a mesma coisa.
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