Esse é um assunto sobre o qual eu nem deveria estar escrevendo. Minha opinião é que a escolha do tipo de parto é uma decisão extremamente íntima da mãe, e nosso papel como pai/companheiro é apoiar irrestritamente o caminho que for tomado¹. Até porque o pessoal que estuda neurociência descobriu que a preferência por um ou outro parto tem a ver com a quantidade de hormônios (testosterona) no organismo da mulher. E, bom, todo marido sabe que hormônios em uma mulher são uma coisa muito perigosa de se enfrentar. Portanto, melhor concordar mesmo.
E outra: o corpo é da mulher, ela tem que saber se quer se sujeitar a uma cirurgia (que sempre causa um certo calafrio) ou a correr o risco de ficar um tempo maior em trabalho de parto, com possibilidade de dor (além dos vários outros dilemas que essa escolha coloca).
Por isso, tudo o que eu escrever daqui pra frente deve ser solenemente ignorado, pois é a opinião de um homem, que nunca passará pelo processo e não tem autoridade no assunto. Já tem muita gente escrevendo sobre isso e acho que as mulheres ficam pressionadas e culpadas nessa guerra de opinião.
Bom, já que você se dispôs a continuar lendo, vou colocar minhas impressões sobre o assunto.
Primeiro, eu acho que a escolha do parto é um aspecto meio supervalorizado no processo de se ter um filho. Às vezes eu leio uns textos em que parece que o tipo de parto vai determinar se o seu filho vai ser o futuro prêmio Nobel ou um delinquente em potencial. O parto tem um caráter simbólico muito grande, mas ele é somente um instante. Muitos cuidados diários posteriores, de caráter continuado e permanente, têm menos glamour. Procure, por exemplo, por "musicalização infantil", ou "natação infantil" no google; o número de resultados é muito inferior ao de uma busca por "parto normal", que só perde para campeões como "amamentação" e "alimentação infantil".
Existe uma certa crítica, velada ou não, à cesariana, sob o argumento de que não é a maneira que a natureza quer. Acho que isso coloca uma pressão muito grande sobre a mãe, que muitas vezes fica frustrada se o bebê não vem de parto normal. Como se isso fizesse dela "menos mãe", ou uma mãe pior, o que absolutamente não é verdade.
Eu, pessoalmente, não me uno aos que condenam o parto cesáreo. A cesariana é um procedimento seguro, que já salvou milhões de vidas. Não se pode ser contra o desenvolvimento da medicina.
"Ah, Bruno, mas as estatísticas mostram que mais crianças morrem em partos cesáreos do que em partos normais".
Hmm, eu desconfio que esse é um caso típico de mau uso de estatísticas: a escolha equivocada do grupo de controle, e a confusão entre correlação e causalidade. Ora, para comparar estatísticas de dois grupos (crianças nascidas em parto normal e crianças nascidas por cesariana), é necessário que todas as demais características dos dois grupos (peso, renda dos pais, ocorrência de doenças, bebê prematuro ou não) sejam as mesmas. E essa condição não é atendida nesse caso, visto que mulheres com gravidez de risco quase sempre precisam de cesariana. Mesmo aceitando que muitos bebês nascem por cesariana por opção dos pais, é seguro afirmar que uma boa parte deles requer o procedimento por conta de algum problema real. A cesariana não é a causa do risco, e sim uma consequência.
"Ah Bruno, mas então porque nos outros países do 1º mundo a taxa de cesarianas é muito menor?"
A razão disso é que o Brasil tem um número muito menor de médicos per capita, e quase todos estão sobrecarregados. Todo pai que acompanha sua mulher ao obstetra sabe disso, os consultórios estão cheios. Então, feliz ou infelizmente, esses caras têm que otimizar o tempo deles. Fazer um parto normal significa cancelar um dia inteiro (ou mais) de consultas. Alguns acham essa forma de encarar excessivamente comercial, ou desumana; eu acho racional.
E outra: quando se mora longe dos avós e demais familiares, que dão um baita apoio no início, a gente precisa se organizar. Nesse caso, saber a data do nascimento é uma mão na roda: dá pra comprar passagem com antecedência, organizar uma escala, se planejar direitinho. Isso é importante!
Outra coisa interessante que li, que também depõe a favor da cesariana: os bebês da atual geração estão nascendo significativamente maiores do que as gerações anteriores, devido à melhor assistência pré-natal, alimentação da mãe, etc. Uma boa notícia, mas que tem um lado menos positivo: como o diâmetro do canal continua mais ou menos o mesmo, isso significa que a passagem é mais apertada.
Por outro lado, crianças nascidas por cesariana têm cólicas com mais frequência. Ninguém ainda conseguiu explicar por quê, mas parece que estatisticamente já foi demonstrado.
E outra vantagem: a recuperação mais rápida da mãe. Essa sim é uma vantagem indiscutível: justo na hora em que a criança mais precisa da mãe, ela está inteira, sem dores de cirurgia, sem pontos pra tirar...
Em resumo, acho que existe muito maniqueísmo nesse assunto. No fim, o tipo de parto não importa tanto assim. O principal é que a mulher tenha o direito de escolha - com a devida orientação.
¹A menos de eventuais exageros, como mulheres que insistem em um determinado procedimento mesmo contra a recomendação médica. Mas vou supor que se tratem de mães racionais, por isso a premissa é válida.
Então eu posso dizer que eu tive um parto normal-anormal, pois foi induzido, eu fui cortada (episiotomia) e levei pontos (mesmo meu bb sendo pequeno). Meu filho tem 3 anos e ainda não dorme a noite inteira e sofre de cólicas a noite.
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