sexta-feira, 31 de julho de 2015

Curtinhas

Na nossa rua tem uma Kombi "lava-jato", que para todos os fins-de-semana pra tirar um troco limpando essa poeira vermelha que invariavelmente se acumula nos carros em Brasília. Passo em frente todos os sábados e domingos, quando levo a Lorena no parquinho da Dona de Casa, um supermercado que tem a umas 3 quadras.
De primeira a Lorena tinha um pouco de receio de passar perto daquela Kombi. "Barulho", ela dizia, referindo-se ao aspirador. Mas ela foi se acostumando.
Confesso que acho aquilo meio errado: aquela água suja de terra e sabão descendo pela rua, e ainda utilizando um espaço público. Mas o cara tem que ir atrás do pão dele, então a gente sempre acaba relevando. Juro que nunca manifestei em voz alta nenhuma contrariedade com aquilo.
Mas no domingo passado, passamos por ali, e bem na frente dos dois "proprietários" do lava-jato, ela me sai com essa:
"Não faz meleca, titio!"

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Acho que a Lorena não se encantou muito pelo nome da irmã que vai chegar. Ela foi junto na ecografia pra ver o sexo. Ficou um pouco preocupada com aquele tio passando gel na barriga da mamãe ("é hidratante, filhinha" - aí ela se acalmou).
Na saída do consultório, perguntamos ela sobre a preferência do nome. Estávamos em dúvida entre Aurora e Beatriz.
"e aí Lorena, qual vai ser o nome da sua maninha?"
"o nome?"
"é, qual você prefere: Aurora? Ou Beatriz?"
pensou um pouquinho...
"qual mais??"

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Nessa idade que a Lorena está, praticamente todo dia tem uma frase, uma expressão nova que nos deixa boquiabertos, ou totalmente derretidos. São coisinhas simples, que não renderiam por si só uma postagem completa.
Agora, por exemplo, ela está com uma estratégia de terminar todos os pedidos com um "tá bom?", ou "tá legal?" ou então a melhor de todas: "combinado?". Como por exemplo: "papai, agora nós vamos no parquinho, tá legal? Combinado?". Isso aliado a um olhar, assim, misturado de inocência, autoconfiança e doçura.
Acho que ela percebeu que isso é totalmente irresistível. Eu, pelo menos, já vou chamando o elevador pra descer pro parquinho, toda vez que ela me vem com essa. É automático, como hipnose.



blogs de pai

Andei lendo uns blogs de pais e outros textos que me indicaram. Tem o Paizinho, vírgula, que é muito rico em detalhes sobre educação positiva, algo que eu eu (da minha forma atrapalhada) tenho tentado pôr em prática, mesmo sem saber que o nome era esse. Depois que minha prima Rosvita me deu a dica, percebi que muita gente que eu conheço lê esse blog com frequência.
Gostei muito do Eu com elas, que foi indicação da Helene. É uma espécie de diário no facebook, de um pai de duas filhas que é separado da mãe. É bem emocionante o relato de quando ele fica sabendo que as meninas vão morar nos EUA com a mãe, de como ele vai sofrer com a distância.
 Fiquei positivamente surpreso com o livro do Marcos Piangers, "Papai é pop". Surpreso porque eu sempre associei o cara àquele programa "pretinho básico", que, convenhamos, é algo meio descartável (ri na hora, logo depois já esqueceu). O livro de crônicas, que foi recentemente lançado, não se lê, se devora: eu li o meu em meia hora. É bem-humorado, bem-sacado. Ele consegue captar muito bem a espontaneidade e franqueza que toda criança tem.
Tem esse texto da Martha Medeiros, que fala sobre os pais, que confesso que não consigo mais descobrir quem me mandou. A Lidi concordou 100% com o texto (ela volta e meia diz que já tem dois filhos pra criar), já eu nem tanto.
Essa semana li outro texto, também bacana: Minha pessoa favorita.
Curioso que quase todos os pais que escrevem blogs e textos têm meninas. Dos que eu mencionei, só o Paizinho, Vírgula tem um guri. Porque será? Será mesmo que os pais têm uma conexão diferente com as filhas, e ficam tão encantados com suas princesas que não conseguem guardar essas alegrias só pra si, tendo a necessidade de expressar isso em texto? Ou será que os pais de meninos estão tão cansados de conter aquela testosterona toda e correr atrás de seus moleques, que não conseguem parar pra escrever a respeito da paternidade?
Mas voltando ao Piangers: o real motivo de estar escrevendo sobre o livro dele é que uma das filhinhas dele, a mais nova, chama-se Aurora.
Bonito nome, não? Sim, é um lindo nome.




terça-feira, 21 de julho de 2015

Curtinhas (3)

Da série "Coisas que se ouve quando sai com a filha no canguru":

"Ela não vai cair daí?"

"Não está arranhando o rostinho dela?"

"Ela não está sufocando??"

(Vontade de responder: "Sim dona, está sufocando. É um caso perdido, veja como a pele já está azulada").

E outro dia ouvi uma assim: "Olha lá filha, é assim que andam com os bebês nos Estados Unidos!"

kkkkkk


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A Lorena viu comigo um pedaço do jogo entre Brasil e Paraguai na última Copa América. Como o jogo não empolgava, contei pra ela aquela piada:
"Yo soy paraguayo, e vengo aca para matarte!"
 "Para que??"
"Paaara-guayo!!!"

Ela adorou!! Não a piada em si, claro, mas aquele "Paaaraguayo" no final, dito pausadamente, com um olhar cínico e um sotaque portunhol.
Depois disso ela soltava um "Paaaraguayo!!", de vez em quando, mas foi esquecendo da história. Era o que parecia, pelo menos.
Mas domingo passado fomos num restaurante mexicano na asa sul. Tinha um doce de leite de sobremesa que a Lorena chegou a revirar os olhinhos quando comeu. Lá pela terceira colherada, ensinei pra ela o clássico brinde mexicano (arriba, abajo, al centro e adentro), que ela devia fazer com a colher antes de pôr na boca.
"Vai lá Lorena: arriba, abajo, al centro e adentro!"
E ela, percebendo que a sonoridade era parecida, não teve dúvida:
"Paaaraguayo!!"



Dinheiro (3)

Finalizando as postagens sobre esse tópico, tem um outro aspecto que também tem relação com esse assunto: o trabalho. Acho que a nossa relação com o emprego muda depois de ter um filho. Eu, pelo menos, era mais empolgado com o meu antes da Lorena nascer. Mais do que isso, queria que as coisas saíssem do meu jeito. Tem um colega que diz que eu costumo "bater na mesa" quando meu ponto de vista não prevalece.
Atualmente, estou encarando o trabalho mais como uma fonte de financiar o pequeno conforto da minha família. Claro, não estou sendo negligente, mas a fase de achar que ia mudar o mundo com meu suor já passou há tempo. Hoje em dia, estou convicto de que, se meus filhos se tornarem cidadãos decentes, já vou ter dado uma baita contribuição pro planeta.

Outro dia, encontrei um ex-colega do mestrado que atualmente tem uma empresa em Campo Grande e dá aula na universidade. Ele tem uma filha mais velha, de seis anos, e tem um ponto de vista diferente sobre o assunto. Ele disse mais ou menos assim: "Bruno, as pessoas se angustiam muito com dinheiro quando vão ter filhos. Mas pelos filhos, a gente FAZ dinheiro, se precisar."

A Lidi tem um colega de serviço que disse pra ela: "filhos são prosperidade". Acho que é por aí mesmo.

Dinheiro (2)

Bem, voltando ao tema, acho que é normal os pais (homens) ficarem mais angustiados com o custo de um filho. E é correto isso, acho que alguém tem que fazer esse papel mesmo. Não que as mulheres não saibam administrar dinheiro, não é isso. Mas a verdade é que durante a gravidez, a mãe fica muito envolvida emocionalmente com aquele bebê e acaba achando todo resto, inclusive o preço, um pouco irrelevante. Com a Lidi, tive algumas vezes o seguinte diálogo:
"Bruno, temos que comprar um (carrinho? bercinho? bebê-conforto? babá eletrônica? ...). Tem a marca "A", que é boa e custa X, mas tem essa marca aqui "Top das galáxias" que custa 3X. Que achas?"
hmm. A marca é boa e custa 3 vezes menos? Não tem nem dúvida né?
 "Melhor a marca "A", é mais barata né?" - respondo eu


"Mas Alemão, tu não quer o bem da tua filha???"

Quem pode com um argumento desses? Fiquei desconcertado e até acho que cedi uma vez a essa chantagem. Mas depois de algumas vezes, decidi que, sempre que alguém usasse o "tu não quer o bem da tua filha?", perderia a discussão.

Mas, fora essas coisinhas, acho essa coisa do custo meio exagerada, como já disse. No meu caso, depois que a Lorena nasceu, em muitos aspectos passei a economizar, e não gastar mais. Primeiro que, durante a licença-maternidade da Lidi, almoçávamos em casa todo dia (e comer na rua está caro!). Além disso, de modo geral, deixamos de ir em barzinhos e reduzimos muito as idas no cinema. Nos fins-de-semana temos almoçado quase sempre em casa, que é mais tranquilo pra Lorena comer o papá dela. O resultado é que por um bom tempo minha fatura do cartão de crédito ficou 20% menor do que antes.

 Pra completar, outro dia a Lorena não queria dormir e fui dar uma volta com o carrinho (sonífero infalível!). Não é que achei uma nota de 20 reais na rua enquanto passeava? Essa guria só me traz coisa boa!




quinta-feira, 16 de julho de 2015

Curtinhas (2)

Pelo que aprendi sobre crianças, até uns dois anos de idade os bebês não interagem muito com outras crianças. Dificilmente fazem alguma brincadeira mais coordenada, como esconde-esconde (ou pique-esconde, como chamam aqui no DF). Eu percebo que só agora a Lorena está começando a brincar de forma mais interativa com os colegas.
Mas mesmo sem essa interação mais forte, dá pra ver que as crianças curtem estar no "meio do tumulto", com outras crianças em volta. Outro dia fomos no parque de Águas Claras. Ali o piso dos parquinhos é de areia, então dá pra balançar, brincar na areia, escorregar, tudo no mesmo local... é bem gostoso. No dia, tinha bastante crianças, aquele burburinho, e a Lorena lá, escorregando e mexendo na areia.
De repente ela olha pra mim e suspira, com aquele brilho no olhar: "Ahhh, paquinho..."



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Tem aqueles fins-de-semana em que estamos mais relaxados em casa, sem visitas, e acaba que deixamos a porta aberta na hora de fazer xixi. Numa dessas, a Lorena vem observar o que o pai dela faz ali no banheiro, saber a razão daquele barulhinho de água correndo.
"que é isso, papai?"
"é o tico do papai, minha filha"
"papai tem tico??"
"tem, meu filhote"

 Observa mais um pouco, olha para o próprio púbis. Hm, por aqui tudo ainda é igualzinho.
 Pelo que soube, da última vez que visitou os avós dela em Rio Grande, também foi dar um conferes enquanto o vovô fazia xixi.

No outro dia, invade o banheiro enquanto a mãe está saindo do banho.
"que é isso, mamãe?"
"é a perereca da mamãe"

Coloca a mãozinha em cima da dita cuja, e diz "hmmm, perereca fofinha".
Agora, volta e meia ela começa a recitar a genitália da família toda. Pra nosso constrangimento, às vezes na frente de estranhos: "Lorena tem perereca, papai tem tico, tia Lou tem perereca, vovô João tem tico. E a mamãe tem perereca fofinha!!"

 



Dinheiro!

Um dos motivos pelos quais as pessoas têm cada vez menos filhos é o custo. Antes da Lorena nascer, lembro de ter lido uma vez uma estimativa de que criar um filho até os 18 anos custaria mais de um milhão de reais. Naturalmente, esses números assustam um pouco. Mas eu não gosto de valorizar em demasia esse aspecto. Nem antes da Lorena nascer eu ficava muito noiado com isso. Claro, o fato de ter um emprego estável ajuda. Mas de um jeito ou de outro, sempre se coloca um cidadão no mundo. Nossos antepassados deram à luz um número muito maior de descendentes, geralmente com menos recursos do que nós temos hoje.
"Ah ", alguém há de dizer, "mas hoje as coisas são diferentes". E de fato são. Antigamente, principalmente no interior do RS, de onde venho, o fato de ter muitos filhos ajudava a família a ter um número maior de braços pra trabalhar. Hoje, o trabalho braçal não tem mais tanto peso, e o diferencial de uma prole passa a ser a educação. E investir em educação custa caro.
Outro fator é o seguinte: embora algumas pessoas acreditem no contrário, há algumas gerações atrás, o risco de um filho não chegar à vida adulta era bem maior do que hoje. Assim, tenho a suspeita de que as pessoas tinham um número maior de filhos pra não correr o risco de ficar sozinhas: garantir que pelo menos alguns filhos lhes desses netos, "perpetuassem a espécie" e, se possível, ainda dessem um suporte na maior idade.
Hoje, como esse risco é menor, é possível investir mais em um único filho, com alguma segurança de que esse retorno vai se pagar.
Essa é uma visão "darwiniana", claro, e tem um paralelo interessante disso com o mundo animal e as estratégias evolutivas de diferentes espécies. Eu tenho um colega que é biólogo com doutorado em ictiologia, o estudo dos peixes. Ele me explicou que na amazônia tem dois tipos de peixes: os de água "branca", com muita argila (nutriente) em suspensão e portanto pouco transparente, e os de água "clara", com pouco nutriente e muito transparente. No primeiro caso, a estratégia predominante é colocar o maior número de ovos possível, mesmo que cada ovo tenha recebido pouca energia (e consequentemente uma menor chance de sobrevivência). Os filhotes são deixados mais à própria sorte, e o peixe aposta na grande quantidade de alimento disponível e no fato de que os predadores terão dificuldade em enxergar a prole. Já no segundo caso, predominam peixes cuja estratégia é colocar um número reduzido de ovos, cada ovo com uma grande quantidade de energia alocada. Nesse caso, os pais também cuidam das larvas por mais tempo.

Nesse paralelo, nossa geração seria a dos peixes de água clara, enquanto nossos avós e bisavós eram os peixes de água branca. E nisso não quero deixar nenhuma crítica, pelo contrário, gosto muito da abordagem dos peixes de água branca, de fomentar a independência dos filhos. E todo mundo sabe que o excesso de cuidado e mimos com a prole traz sérios problemas.

Bom, com mais essa pérola da série "Sociologia de botequim", acabei me alongando e novamente fugi um pouco do tema. Vou continuar na próxima postagem.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Curtinhas

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A Lorena continua com as experimentações verbais. 
Outro dia, na mesa do café, pegou aquela colher cata mel de madeira e deu umas lambidas no mel que tinha restado nos frisos da madeira.
Olhou pra mim e disse: "Quer lambar, papai? Eu já lambei!"

A 1ª conjugação ela já domina.


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Sou um pai desnaturado. Marquei uma viagem a trabalho na semana em que a Lorena estava de aniversário. Como íamos fazer uma festinha no fim-de-semana, não me antenei que a viagem cairia no dia 19 de maio, uma terça-feira.
Quando me dei conta, fiquei me achando o pior pai do mundo. Mas paciência, já tinha marcado; além disso me convenceram de que ela não ficaria traumatizada, pela pouca idade e também pelo fato de que eu certamente estaria presente no dia da festinha.
Na noite do 19, a Lidi fez um happy lá em casa, pros dindos e alguns amigos que não estariam no dia da festa. O pessoal foi chegando em casa e sentando na sala.
Como a Lidi ainda tava terminando as coisas na cozinha, não podendo dar muita atenção pras visitas, a Lorena resolveu assumir o papel de anfitriã e puxa um assunto:
"Meu papai tá viajando!"
Pronto, quebrou o gelo da festinha.

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XX ou XY?

A notícia de uma nova gravidez sempre traz à tona a questão da eventual preferência dos pais pelo sexo do bebê. Hoje em dia, em que a maioria dos casais têm no máximo 2 filhos, é quase um clichê querer um casalzinho. Ou seja, se o primeiro foi menino, é comum desejar uma menina na 2ª gravidez, e vice-versa.
Mas de modo geral, ainda existe um certo viés de expectativa por meninos, secreta ou explicitamente. Acho que aqui em Brasília isso é mais forte do que no RS. Quando saio com a Lorena e digo pras pessoas que estamos esperando outro bebê, muitas pessoas me dizem "ah, mas agora você deve estar querendo um menino, né?"
Acho que também é comum não revelar um eventual desejo, mesmo que ele exista lá no fundo, pra não criar expectativa e pressão. Mas eu me fiz essa pergunta algumas vezes e vou falar com toda franqueza: não tenho preferência, o que vier será muito bem-vindo!
Confesso que na 1ª gravidez eu imaginava que seria mais fácil pra mim ter um menino primeiro. Não chegava a ser uma preferência, somente algo que eu conseguia ver o processo com mais clareza, digamos.
Mas logo que soubemos que era uma Lorena, já me apaixonei pela idéia de ser pai de uma menina. E está sendo muito bom. Tão bom que às vezes fico inclinado a desejar outra menina, pelo carinho que recebo daquela guriazinha e pela delícia de imaginar como seria se fosse tudo em dobro. Também acho que outra menina faria uma companhia melhor pra Lorena. Em muitos aspectos ela é o estereótipo de uma menininha: gosta de roupas, de hidratantes, de dar atenção pros bebês dela (não me entendam mal: claro que ela é muito mais do que isso; mas essa parte, digamos, feminina, ela também tem). Se fosse outra menina, acho que elas brincariam melhor juntas. Talvez um menino, com aquela energia toda, sei lá... poderia dar conflito.

Por outro lado, claro que a gente fica curioso pra saber como é ser pai de um guri. E tem "ene" casos de casais de irmãos que se dão muito bem (e irmãs que não se dão). Então é difícil tentar ter essa "bola de cristal".
Pensando em tudo isso, descobri que realmente não tenho preferência.

Tem outra coisa interessante sobre as meninas: na gravidez da Lorena, quando contei ao meu antigo chefe que teria uma menina, ele me falou uma coisa que nunca me esqueci: "Bruno, meus parabéns, ter filha mulher é muito bom: você ganha filhos". Fiquei sem entender num primeiro momento, até porque esse chefe, apesar de ser meu amigo, era uma figura pra lá de machista.
Mas depois, observando os casais que conheço, vejo que esse é um fenômeno real: depois de casar e, principalmente, de ter filhos, os casais se voltam com mais frequência aos avós maternos, em busca de apoio, do que aos paternos. Caricaturando, o marido é "perdido" pela sua família de sangue, e passa a ser "incorporado" pela família da mulher.

Acho que é natural: por melhor que uma mãe se dê com a sogra, sempre vai ter mais facilidade de entendimento com a sua própria mãe.

Não é uma regra, claro. Até acho que no caso da Lorena não dá pra fazer essa distinção muito claramente. Mas achei a idéia interessante.
Li um pouco sobre isso em um livro chamado "O banqueiro do sertão", que conta sobre a fundação da cidade de São Paulo, tomando como ponto de partida a miscigenação dos espanhóis e portugueses com os índios no interior da América do Sul. Nas sociedades guaranis, ao casar o marido passava a morar com a família da esposa, responsável por abrir roças pro sogro, etc.
Não lembro de ter constatado esse fenômeno quando morei na Alemanha durante a faculdade (provavelmente, meu olhar sociológico estava direcionado pra outras coisas, como as vizinhas do Wohnheim*). Mas na minha sociologia de botequim, talvez a herança índia do Brasil explique a frase do meu chefe.



* casa do estudante

quarta-feira, 1 de julho de 2015

dois ponto zero

E em breve vai começar tudo de novo... sim, porque em janeiro nossa família vai aumentar e a Lorena vai se tornar irmã mais velha!! Tivemos a confirmação da gravidez no dia 6 de maio. Gozado, sempre ouvi falar que a emoção com o 2º filho é mais contida, que já não é mais tanta novidade... no meu caso, acho que a alegria foi a mesma ou até maior. Talvez porque, ao contrário da gravidez da Lorena, dessa vez demorou alguns meses de tentativa pra engravidar. Ou talvez porque um filho, independente de ser o primeiro ou o sétimo, seja um presentão de Deus mesmo!
Inicialmente, pensávamos em engravidar novamente quando a Lorena tivesse lá por uns 3 anos. Na verdade, antes da Lorena nascer tínhamos até dúvida se teríamos mais de um filho. O combinado era que, se ela fosse boazinha e não desse muito trabalho, pensaríamos em ter mais um. Bem, ela se comportou bem, e aí está!
Abre parênteses: já me alertaram que a vida prega desses truques, e que provavelmente o 2º filho vai ser um foguetinho e nos dar baile todas as noites, pra compensar a relativa tranquilidade que tivemos com a Lorena;
Abre parênteses 2: por outro lado, se levarmos esse raciocínio do "se não der muito trabalho, teremos mais um" ao pé da letra, poderíamos ter o 3º, o 4º...

Enquanto esperávamos o resultado do exame de gravidez no hospital, ficamos de papo com duas irmãs, de uns 4 e 2 anos, que estavam com o pai na sala de espera, enquanto a mãe estava na sala de parto, tendo o irmãozinho mais novo. A família era de Barreiras (BA) e morava em Águas Claras, em um apto de 2 quartos, desde o início do ano. Dava pra ver que tinham saído meio às pressas de casa e que o pai as tinha arrumado, pois estavam de chinelinho em uma manhã fresquinha de outono. Mas foi um momento tão legal, aquelas crianças eram bem espontâneas. Perguntei onde o irmãozinho ia ficar, e a mais velha respondeu, com um sotaque característico: "vai dormir mais eu e minha irmã no quarto", como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Apesar do descuido nos calçados, o pai era paciente e carinhoso com as meninas. Aquela família fez o tempo de espera passar leve, agradável. Pareceu mesmo um presságio da notícia boa que logo iríamos receber.

Na semana passada, fomos consultar com o obstetra, o mesmo que fez o parto da Lorena. Ele é um mineiro gente boa, sossegadíssimo, e às vezes faz piada de gaúcho pra cima de mim.
Durante a gestação da Lorena, falando do RS, ele mencionou que gostava de salame e produtos coloniais. Pensei pra mim: hmm, a vida da minha família inteirinha tá nas mãos desse cara, melhor agradar. E não tive dúvida, numa das idas a Lajeado, passei na feira do produtor e comprei lombo defumado, salame e outras iguarias. Ah, ganhei o cara né... na consulta seguinte, perguntei se ele tinha gostado. Ele respondeu que tinha convidado um amigo pra casa dele e comido tudo de uma vez só!

Pois bem, nessa consulta da semana passada, conversa vai, conversa vem, a Lidi mencionou da viagem dela ao RS, pra cidade dela, Rio Grande.
E o médico: "é na sua região do Rio Grande do Sul que tem aqueles salames, aqueles produtos coloniais?"

Ok, Doutor. Entendi seu recado.