Um dos motivos pelos quais as pessoas têm cada vez menos filhos é o custo. Antes da Lorena nascer, lembro de ter lido uma vez uma estimativa de que criar um filho até os 18 anos custaria mais de um milhão de reais. Naturalmente, esses números assustam um pouco. Mas eu não gosto de valorizar em demasia esse aspecto. Nem antes da Lorena nascer eu ficava muito noiado com isso. Claro, o fato de ter um emprego estável ajuda. Mas de um jeito ou de outro, sempre se coloca um cidadão no mundo. Nossos antepassados deram à luz um número muito maior de descendentes, geralmente com menos recursos do que nós temos hoje.
"Ah ", alguém há de dizer, "mas hoje as coisas são diferentes". E de fato são. Antigamente, principalmente no interior do RS, de onde venho, o fato de ter muitos filhos ajudava a família a ter um número maior de braços pra trabalhar. Hoje, o trabalho braçal não tem mais tanto peso, e o diferencial de uma prole passa a ser a educação. E investir em educação custa caro.
Outro fator é o seguinte: embora algumas pessoas acreditem no contrário, há algumas gerações atrás, o risco de um filho não chegar à vida adulta era bem maior do que hoje. Assim, tenho a suspeita de que as pessoas tinham um número maior de filhos pra não correr o risco de ficar sozinhas: garantir que pelo menos alguns filhos lhes desses netos, "perpetuassem a espécie" e, se possível, ainda dessem um suporte na maior idade.
Hoje, como esse risco é menor, é possível investir mais em um único filho, com alguma segurança de que esse retorno vai se pagar.
Essa é uma visão "darwiniana", claro, e tem um paralelo interessante disso com o mundo animal e as estratégias evolutivas de diferentes espécies. Eu tenho um colega que é biólogo com doutorado em ictiologia, o estudo dos peixes. Ele me explicou que na amazônia tem dois tipos de peixes: os de água "branca", com muita argila (nutriente) em suspensão e portanto pouco transparente, e os de água "clara", com pouco nutriente e muito transparente. No primeiro caso, a estratégia predominante é colocar o maior número de ovos possível, mesmo que cada ovo tenha recebido pouca energia (e consequentemente uma menor chance de sobrevivência). Os filhotes são deixados mais à própria sorte, e o peixe aposta na grande quantidade de alimento disponível e no fato de que os predadores terão dificuldade em enxergar a prole. Já no segundo caso, predominam peixes cuja estratégia é colocar um número reduzido de ovos, cada ovo com uma grande quantidade de energia alocada. Nesse caso, os pais também cuidam das larvas por mais tempo.
Nesse paralelo, nossa geração seria a dos peixes de água clara, enquanto nossos avós e bisavós eram os peixes de água branca. E nisso não quero deixar nenhuma crítica, pelo contrário, gosto muito da abordagem dos peixes de água branca, de fomentar a independência dos filhos. E todo mundo sabe que o excesso de cuidado e mimos com a prole traz sérios problemas.
Bom, com mais essa pérola da série "Sociologia de botequim", acabei me alongando e novamente fugi um pouco do tema. Vou continuar na próxima postagem.
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