sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Curtinhas

Um dia desses fomos buscar a Lorena na escola e ela estava com os dedos todos pretos.

"Que houve, minha filha? Esses dedos sujos?"

"eu fazei atividade!"

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No fim de semana passado, tivemos visitas que vieram pro simpósio de recursos hídricos que foi em Brasília.

A Lidi está com um barrigão de 8 meses e não está com muita, digamos, mobilidade, então ficamos bem baixados em casa.
Fins-de-semana assim são fonte garantida de novas pérolas pro blog.

Me botei a cozinhar. Lá pelas tantas, a Lorena entra na cozinha e pede colo.

Lidi: "Mas Lorena, o papai tá cozinhando agora, não pode te pegar no colo. Vem aqui no colo da mãe!"

Lorena: "Não, mamãe, eu não vou no seu colo, a sua barriga tá cheia!"

Lidi: "cheia de que, Lorena?"

Lorena: "cheia de Aurora!"


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Domingo à noite seria a abertura do simpósio. A Lidi não quis ir, e combinamos que eu iria com a Ruti.
Estava escolhendo uma camisa pra ir na abertura, e a Lorena na minha volta, mexendo nas gavetas.

De repente ela puxa o uniforme do time de futebol, com aquele número 11 nas costas, e solta essa:

"Papai, essa camisa combina!"

Medos & amizades


 Em uma postagem anterior, falei de como os bebês interagem pouco entre si até os dois anos de idade. Não é que não interajam: de alguma forma eles gostam de estar no meio do povo, e especialmente no meio de outras crianças. Mas as brincadeiras em geral são cada um por si.
Pois na semana passada a Lorena completou dois anos e meio, e como as coisas mudam em meio ano! Nesse aspecto mudaram muito: ela agora tem amigos, que ela reconhece, convida pra brincar e inventa brincadeiras a dois. É muito legal de ver. De novo, a escolinha ajuda muito nesse aspecto. Às vezes chego pra buscá-la e ela está sentada frente a frente com um colega, os dois com as pernas abertas formando um quadrado, jogando uma bolinha de um pro outro. Simples, né? mas um passatempo bacana. Brincar de boneca a dois também pode ocupá-la por um bom tempo. E dar de comer pras galinhas do pátio da escola é menos amedrontador com outra criança ao lado.
É legal perceber como ela também desenvolve mais afinidade com determinados colegas. É a personalidade dela se desenvolvendo, ela escolhendo as próprias companhias... 
E ela faz questão de ressaltar pra todo mundo as amizades dela: "a Helena é minha amiga!", "o Vini é meu amigo"; assim mesmo, com ênfase no pronome possessivo.

Por outro lado, um sentimento que também desenvolveu nesse meio tempo foi o medo. Antes, o desconhecido pra Lorena era apenas isso: algo desconhecido, que ela observava com alguma curiosidade. Agora, quase tudo que foge um pouco do script tem causado crises de choro. Outro dia, por exemplo, teve festinha de aniversário de um colega na escola, a qual foi devidamente "animada" por dois camaradas fantasiados de Buzz e Woody (de Toy Story). Ah, essa guria se apavorou... passou a festa inteira no colo da professora.
Acordar de madrugada no escuro também tem causado medo nos últimos meses. Tem um filme da Cinderela, de 1950, que ela tem olhado frequentemente, sobre o qual ela declarou ter medo da Madrasta, do gato Lúcifer, dos ratinhos e da própria Cinderela! Somente o castelo do príncipe ela não descartou a possibilidade de visitar.
 E a última foi quando fomos fazer compras no supermercado perto de casa, que em meados de novembro já está com decoração natalina: uma decoração pesada, meio excessiva. Ao ver aquela árvore espinhenta no meio de onde ela costumava me ajudar a escolher as laranjas e outras frutas, ela declarou:
"eu tenho medo do Natal!"


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Curtinhas

A Lorena tem um brinquedo que é o jogo de chá: uma bandeja, duas xícaras com pires, duas colheres, uma jarra e um açucareiro, tudo de plástico cor de rosa, com uns adornos assim, digamos, "provençais".
Às vezes descemos pro parquinho e fazemos aquele chá de folha de aroeira-mansa, adoçado com terra das floreiras. As bonecas bebem, é uma festa.
Outro dia vi ela brincando e perguntei:
"E esse chá, é de quê, minha filha?"
"Esse chá é... chá de fralda. Da Aulola"


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Da série "coisas estranhas que te dizem no supermercado":
A Lorena senta no carrinho de compras quando vai no mercado conosco. Como em geral vamos à noitinha, ela já está com fome e acabamos tendo que dar uma coisinha pra comer.
Já que vai comer algo, que pelo menos não seja besteira. Bem na entrada do supermercado tem um freezer com aquelas mini-cenouras, lavadas e limpas, que são bem docinhas e crocantes.
Embora ela ande meio ruim pra comer saladas ("eu não gosto de alface!!"), essa solução funcionou: por várias vezes, ela foi conosco bem tranquila, roendo uma cenourinha atrás da outra.
Ontem, ao vê-la com o pacotinho na mão, mastigando a cenoura, uma pessoa me vem com essa:
"Olha, fulana, que linda, comendo cenoura, como se fosse... como se fosse uma coisa boa!"

KKKK, não levei a mal. A pessoa era bem simples e não conseguiu se expressar muito bem. Acho que o que ela quis dizer foi "como se fosse um doce" ou "como se fosse uma guloseima".
Mas que foi engraçado, foi.


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 Na hora do aconchego, antes de dormir, olhamos um pouco de TV, a Lorena gosta de companhia pra comentar os programas.
Pra pedir que a gente faça companhia, ela inventou uma expressão nova:
"Ô papai, vamos olhar a Peppa. Senta no meu perto, papai! Senta no perto da Lolena."

Acho que está certo né? Afinal, "senta no meu lado", "senta no meu colo"... nada mais natural que senta no meu perto também seja válido.



sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Milestones

Os bebês vão crescendo e superando etapas (alimentação, caminhar, falar ,etc). Gosto do termo em inglês milestones, que dá uma idéia de marcos de desenvolvimento, quase como se tivéssemos um bebê antes e outro depois.
Neste momento estamos vivendo um desses milestones, com o desfralde da Lorena. Eventualmente comentarei a respeito em uma próxima postagem.
Outro marco foi o abandono da chupeta (pépi), que aconteceu na última Páscoa. Eu estava bem em dúvida se ela conseguiria largar, pois tinha menos de dois anos na época. Além disso, os pais não foram os melhores exemplos: a Lidi diz que usou chupeta até uns 7 anos. Já eu larguei a chupeta com 3 anos, um episódio que é uma das minhas lembranças mais remotas.
A estratégia que usaram comigo foi ir até a ponte do rio Taquari em Lajeado e deixar a chupeta cair no rio.
Supostamente, muitos peixes se alegrariam brincando com aquele artefato. Além disso, havia a expectativa de que a chupeta flutuaria pelo Taquari até o rio Jacuí, de onde desaguaria no Guaíba em Porto Alegre, onde moravam minhas irmãs.
(secretamente eu alimentava a esperança de que uma delas talvez resgatasse minha querida chupeta)

Relutantemente soltei o bico e fiquei vendo ele até desaparecer na água.
Desconfio que essa estratégia (jogar a chupeta no rio) não é mais aceitável hoje em dia.

Pois bem, no caso da Lorena, simplesmente acertamos uma troca com o coelhinho da páscoa: ele levaria a pépi e eventualmente daria alguma guloseima em troca. Criamos uma expectativa prévia e funcionou. Durante a semana seguinte, ela por vezes pareceu se arrepender da negociação. Mas depois disso nunca mais se interessou pela chupeta.
Por isso estamos confiantes que o desfralde também vai ser bem-sucedido. Já limpamos um bocado de xixi no chão, mas o progresso nos últimos dias foi bem grande. Como falei, talvez valha uma postagem futura.



Curtinhas


Uma turma de crianças de 2 anos pode ser um ambiente bem selvagem às vezes.
Outro dia, pegamos a Lorena na escola e perguntamos como foi, o que ela fez, etc.
"e aí Lorena, como foi seu dia? com quem brincou, o que comeu? foi legal?"
"Foi legal. Brinquei com o Nicolas, comi arroz e feijão, a Giovana me mordeu, eu mordi a Giovana..."


Assim, como se fosse uma atividade cotidiana como qualquer outra.

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Mais recentemente, a Lidi tava com dores nas costas, com dificuldade de pegar a Lorena no colo.
"Lorena, a mamãe não vai te pegar tá? A mamãe tá um pouco dodói."
"Que foi mamãe, o coleguinha te mordeu?"
 
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Essa semana viajei por três dias. Na véspera da volta, liguei no whatsapp e falei um pouquinho com ela. Disse que estava com saudade, que logo voltava.
Depois que desligamos, a Lidi perguntou se ela estava com saudade.
"Tô."
"Eu também tou com saudade do papai."
"Não, você não!"
"Mas como, Lorena? Só você pode ter saudade do papai?"

"Não, você não. Papai é só minha"



quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Período de silêncio

Amigos, estive um tempo sem escrever. Além de termos tido dias mais corridos, e os preparativos pra chegada da Aurora, também tivemos a viagem pra Lajeado no feriado de 7/9, para os 80 anos da vó Oma.
Acho que acontece com todo blog: primeiro, a empolgação com a idéia, aquele jorro de textos; depois tem uma certa estabilidade, toda semana uma postagem básica; e lá pelas tantas a coisa vai perdendo o fôlego. Felizmente, esse blog tem uma fonte aparentemente inesgotável de novidades e frases de impacto, chamada Lorena. É como eu costumo dizer: a autora do blog é ela; eu sou só o veículo, o canal de divulgação.
Como preparativo pro parabéns da Oma, passamos alguns dias ensaiando com ela aquele Parabéns Gaúcho ("Parabéns/ saúde, felicidade/ que tu colhas sempre todo dia/paz e alegria na lavoura da amizade"). Não tinha certeza de que ela cantaria quando fosse pra valer, pois ela às vezes fica encabulada com essas coisas. Mas não é que ligamos pelo skype e ela cantou pra vó, a plenos pulmões? Deixou a vó feliz e o pai orgulhoso!
Em ocasiões como essa, também dá pra dar uma sossegada, pois sempre tem um tio ou primo pra brincar com a Lorena. A Erika ficou bastante com ela nos balanços e na caixa de areia, logo depois do almoço. Mais tarde, algumas pessoas fizeram menção de sair pra arrumar as coisas da festa, e a Lorena olhou pra Erika e disse, em tom de comando:
"Você não vai!"

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Tem algumas expressões novas que a Lorena tem experimentado nas construções frasais dela. Uma delas é "hoje de manhã". Pelo que sei, a noção de passado e futuro não está muito clara pra crianças de 2 anos e pouco, nem a distância no tempo em que algo aconteceu/acontecerá. Em resumo, eles são muito ligados no presente. Mas "hoje de manhã" tem sido usado pra relatar fatos ocorridos no passado, seja de fato hoje de manhã, ou ontem, ou semana passada, ou há alguns minutos atrás.

A outra é "sabe por quê?", dito em um tom levemente professoral, como se ela detivesse um conhecimento bem exclusivo.
"Sabe por quê?" tem sido usado para encadear duas orações apenas muito vagamente relacionadas. Outro dia vi ela saindo com uma frase assim: "Eu brinquei com o Gustavo na escolinha. Sabe por quê? Porque o Gustavo machucou a perna na cama elástica". Ou seja, não há muita relação entre as duas coisas, a não ser o fato de que o Gustavo participou de ambas. Mas é divertido ver como ela arrisca usar novos termos à medida em que observa outras pessoas (nesse caso, provavelmente as professoras) falarem.

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Nesse período sem escrever lembrei de uma história mais antiga, mas bem engraçada.
Tem acontecimentos que são tão marcantes que todo mundo se lembra exatamente o que estava fazendo no dia em que aconteceu. Um deles é o 11 de setembro. Pergunte pra qualquer pessoa e ela vai contar em detalhes onde estava, o que comeu, o que fazia, etc.
Outro evento desses é o dia do 7x1 da Alemanha. No meu caso, marcamos de assistir o jogo na casa do Márcio e Luciana, padrinhos da Lorena. Ela ainda não caminhava na época, mas já engatinhava e se levantava segurando nos móveis.
A Lidi tinha mandado fazer umas camisetas amarelas pra torcida, com números e nome nas costas. Chegamos lá um pouco antes do jogo, aquela animação, um monte de comida e bebida, todo mundo fazendo bolão do placa...
Quando o jogo começou, e a Alemanha foi socando gols, a animação foi murchando. Depois de 20minutos, quando já estava 4x0, a cena era de miséria. Estavam todos estáticos, olhando pra TV com ar distante, a cerveja quente pelos cantos...
A Lorena, como que percebendo que aquele programa não tinha futuro, engatinhou até a TV, se ergueu agarrada no móvel e PUF! desligou a TV.
Foi muito engraçado. Era como se ela dissesse: "chega disso, vamos mudar de programa".
Ao invés de ouvi-la, religamos a TV pra ver o resto do massacre.


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

curtinhas

Há um mês atrás, conseguimos dois ingressos pra um balé russo que ia se apresentar, por meio de uma promoção do Correio Braziliense. Como foi tudo meio de última hora, resolvemos levar a Lorena junto. O balé começava tarde (21h) e ela dormiria no nosso colo, esse era o plano.
Lá pro fim do Lago dos Cisnes, ela acordou com os aplausos. Mas ficou queitinha no colo da mãe, vidrada no balé: no cenário (com um castelo no fundo), no príncipe, no fechar e abrir das cortinas...
Depois disso foram umas duas semanas de fixação no balé: vimos vários vídeos no youtube, e as bonecas também tiveram que fazer seu pas-de-deux.
De lá pra cá, o entusiasmo aparentemente tinha diminuído. Mas numa manhã dessas, ela acordou, desceu sozinha da cama e veio pro nosso quarto nos chamar. Eu levantei e fui com ela pra sala pra fazer a mamadeira. Na passada, apaguei a luz do corredor que tinha ficado acesa durante a noite.
Ela protestou: "não acende a luz, papai!" (querendo dizer pra eu não apagar).
Eu disse: "mas minha filha, agora nós vamos levantar, vamos pra sala, abrir a cortina pro sol entrar"
e ela: "abrir a cortina?"
e pensou um pouco: "igual ao balé?" 



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Com um pouco de atraso, queria dizer que passei um dia dos pais especial com minha filhota. Começou antes mesmo do domingo, com a homenagem na escolinha da Lorena, na sexta-feira. Na verdade começou até antes disso, pois a Lorena não se conteve e "vazou" a música da apresentação "surpresa" - ela já vinha cantando a música pelos corredores da casa algumas semanas antes.
Isso foi ótimo, pois assim pude ouvir a música, já que no dia da apresentação pra valer ela ficou muda com aquele monte de pais e câmeras fotográficas na frente dela. Aí vai a letra:
"Não é o super-homem
Não é o homem-aranha
Ele é o meu papai
Que me cuida e me ama

Papai, meu herói
Papai, meu amigão
Eu te amo e tu vives dentro do meu coração"

Que tal hein? Me senti o paizão!

E no domingo resolvemos ir de última hora pra praia do Lago Paranoá. Que boa iniciativa tiveram! Colocaram uma areia bem clarinha na beira, umas cadeiras e guarda-sóis, e cobravam um ingresso que podia ser convertido em consumação pra comer alguma coisa no local. Em 8 anos de Brasília, nunca tinha tomado banho no lago (uma vergonha pra alguém que se diz hidrólogo). A água, logo que a gente se afasta da beira, é clarinha, e a temperatura é no ponto, refrescante mas não gelada.
E a Lorena? Ferveu né, lógico. Tinha uns escorregadores pra dar aquele tchibum na água, e levamos uns potinhos pra mexer na areia. No fim, na hora do sol mais forte, ela ainda descobriu um tesouro: um pula-pula! O brinquedo favorito dela.
Ficamos das 10h até umas 14h30. Quando sentou na cadeirinha do carro pra ir embora, ela ainda disse: "foi legal" - e dormiu logo que viramos a esquina.
Um dia dos pais especial.

escolha do parto

Esse é um assunto sobre o qual eu nem deveria estar escrevendo. Minha opinião é que a escolha do tipo de parto é uma decisão extremamente íntima da mãe, e nosso papel como pai/companheiro é apoiar irrestritamente o caminho que for tomado¹. Até porque o pessoal que estuda neurociência descobriu que a preferência por um ou outro parto tem a ver com a quantidade de hormônios (testosterona) no organismo da mulher. E, bom, todo marido sabe que hormônios em uma mulher são uma coisa muito perigosa de se enfrentar. Portanto, melhor concordar mesmo.
E outra: o corpo é da mulher, ela tem que saber se quer se sujeitar a uma cirurgia (que sempre causa um certo calafrio) ou a correr o risco de ficar um tempo maior em trabalho de parto, com possibilidade de dor (além dos vários outros dilemas que essa escolha coloca).
Por isso, tudo o que eu escrever daqui pra frente deve ser solenemente ignorado, pois é a opinião de um homem, que nunca passará pelo processo e não tem autoridade no assunto. Já tem muita gente escrevendo sobre isso e acho que as mulheres ficam pressionadas e culpadas nessa guerra de opinião.






Bom, já que você se dispôs a continuar lendo, vou colocar minhas impressões sobre o assunto.
Primeiro, eu acho que a escolha do parto é um aspecto meio supervalorizado no processo de se ter um filho. Às vezes eu leio uns textos em que parece que o tipo de parto vai determinar se o seu filho vai ser o futuro prêmio Nobel ou um delinquente em potencial. O parto tem um caráter simbólico muito grande, mas ele é somente um instante. Muitos cuidados diários posteriores, de caráter continuado e permanente, têm menos glamour. Procure, por exemplo, por "musicalização infantil", ou "natação infantil" no google; o número de resultados é muito inferior ao de uma busca por "parto normal", que só perde para campeões como "amamentação" e "alimentação infantil".

Existe uma certa crítica, velada ou não, à cesariana, sob o argumento de que não é a maneira que a natureza quer. Acho que isso coloca uma pressão muito grande sobre a mãe, que muitas vezes fica frustrada se o bebê não vem de parto normal. Como se isso fizesse dela "menos mãe", ou uma mãe pior, o que absolutamente não é verdade.
Eu, pessoalmente, não me uno aos que condenam o parto cesáreo. A cesariana é um procedimento seguro, que já salvou milhões de vidas. Não se pode ser contra o desenvolvimento da medicina.

"Ah, Bruno, mas as estatísticas mostram que mais crianças morrem em partos cesáreos do que em partos normais".
Hmm, eu desconfio que esse é um caso típico de mau uso de estatísticas: a escolha equivocada do grupo de controle, e a confusão entre correlação e causalidade. Ora, para comparar estatísticas de dois grupos (crianças nascidas em parto normal e crianças nascidas por cesariana), é necessário que todas as demais características dos dois grupos (peso, renda dos pais, ocorrência de doenças, bebê prematuro ou não) sejam as mesmas. E essa condição não é atendida nesse caso, visto que mulheres com gravidez de risco quase sempre precisam de cesariana. Mesmo aceitando que muitos bebês nascem por cesariana por opção dos pais, é seguro afirmar que uma boa parte deles requer o procedimento por conta de algum problema real. A cesariana não é a causa do risco, e sim uma consequência.

"Ah Bruno, mas então porque nos outros países do 1º mundo a taxa de cesarianas é muito menor?"
A razão disso é que o Brasil tem um número muito menor de médicos per capita, e quase todos estão sobrecarregados. Todo pai que acompanha sua mulher ao obstetra sabe disso, os consultórios estão cheios. Então, feliz ou infelizmente, esses caras têm que otimizar o tempo deles. Fazer um parto normal significa cancelar um dia inteiro (ou mais) de consultas. Alguns acham essa forma de encarar excessivamente comercial, ou desumana; eu acho racional.
E outra: quando se mora longe dos avós e demais familiares, que dão um baita apoio no início, a gente precisa se organizar. Nesse caso, saber a data do nascimento é uma mão na roda: dá pra comprar passagem com antecedência, organizar uma escala, se planejar direitinho. Isso é importante!

Outra coisa interessante que li, que também depõe a favor da cesariana: os bebês da atual geração estão nascendo significativamente maiores do que as gerações anteriores, devido à melhor assistência pré-natal, alimentação da mãe, etc. Uma boa notícia, mas que tem um lado menos positivo: como o diâmetro do canal continua mais ou menos o mesmo, isso significa que a passagem é mais apertada.

Por outro lado, crianças nascidas por cesariana têm cólicas com mais frequência. Ninguém ainda conseguiu explicar por quê, mas parece que estatisticamente já foi demonstrado.
E outra vantagem: a recuperação mais rápida da mãe. Essa sim é uma vantagem indiscutível: justo na hora em que a criança mais precisa da mãe, ela está inteira, sem dores de cirurgia, sem pontos pra tirar...

Em resumo, acho que existe muito maniqueísmo nesse assunto. No fim, o tipo de parto não importa tanto assim. O principal é que a mulher tenha o direito de escolha - com a devida orientação.



¹A menos de eventuais exageros, como mulheres que insistem em um determinado procedimento mesmo contra a recomendação médica. Mas vou supor que se tratem de mães racionais, por isso a premissa é válida.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Curtinhas

Tem um desenho na TV que todo pai de meninas de 2 anos conhece, o Backyardigans. Bacaninha, bem musical e tudo mais. Até onde eu sei, a Lorena nem assiste muito, mas ela tem uma toalha de um dos personagens, a Uniqua, que, a julgar pelas antenas, deve ser uma espécie de formiga.
Dia desses, olhando na TV, ela começou a recitar o nome dos outros: "Pabo, Tyrone, Austin... e como é o nome dessa, mamãe?"
"é a Tasha, minha filha"
"a Taaaasha. Muito bem mamãe. Você sabe!"

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Pelo jeito essa guria tem uma memória tri boa. Ou é bem observadora. Ou ambos.
Nos contaram que, no fim da tarde, quando os pais começam a chegar na escolinha pra buscar as crianças, a Lorena fica no portãozinho da sala e cumprimenta todos eles. E detalhe: sabe quem é pai de quem, e chama o colega pelo nome e sobrenome.
Pra completar ainda conta as novidades:

"O papai do Nicolas! O Gustavo Cintra fez um dodói!"
"óia! a mamãe do Henrique Oliveira chegou! A minha mamãe tem um bebezinho na baiga."
"oi mamãe da Letícia Cardoso! O nome da minha irmãzinha é Aulola"
E por aí vai...

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Em posts anteriores falei da natação e das nossas idas na feira.
Pois bem, agora a Lorena inventou que a nossa cama de casal é a piscina, e que o berço onde ela dormia é a feira do Vicente Pires.
Na "piscina" ela bota todas as bonecas em roda e faz elas mergulharem, dar tchibum e bater palmas ao som das músicas da aula de natação.
Pra ir na "feira", ela bota todas as bonecas amontoadas no carrinho e compra tudo que está em falta, na opinião dela: batata-doce, brócolis, bergamota...
E nisso são horas brincando e fantasiando... muito legal!





comida (2)


Dos vários livros que falam sobre alimentação infantil, tem um que eu li, chamado "Crianças francesas comem de tudo". É o sucessor do "Crianças francesas não fazem manha", que já mencionei aqui, porém voltado pra alimentação. A autora é uma canadense cujas filhas estão acostumadas a beliscar a todo momento e relutam em comer mais saudável. Ela se muda pra França e, com muito esforço,  muda os hábitos das duas, que terminam comendo foie gras, peixe fresco da vila próxima, legumes orgânicos e tudo mais.
Esse livro não é tão divertido quanto o anterior, e sinceramente, dá uma canseira de pensar em cozinhar todas as coisas que ela propõe ali. A Lidi teorizou que é simplesmente impossível de transpor as dicas desse livro pra nossa realidade, sem morar na França. Pois não é só a comida em si; tem uma série de fatores que conspiram a favor: cultura, legislação, segurança... pensa: a mulher morava em uma cidadezinha pequena, a poucos minutos do mar, comprava peixe fresco, os avós moravam virando a esquina, traziam vegetais da horta, etc. Bem que eu gostaria, mas em Águas Claras não temos essas "barbadas".
E outra, não sei se é realmente necessário ser tão diversificado e "francês". Pode me chamar de básico, mas eu acho que no Brasil a gente tem uma base excelente sobre a qual ensinar as crianças a comer bem: é a dupla arroz&feijão. Tudo vai bem com eles. Tendo arroz e feijão, dá pra fazer a criança comer qualquer outra comida: carne, legumes, batata, qualquer coisa. Fora que alimenta bem, dá energia pro dia todo. E dá pra cozinhar bastante uma vez só, depois congela e vai fazendo. Eu mesmo digo que redescobri o feijão, pois passamos a cozinhar com menos sal por causa da Lorena. Num primeiro momento parece sem graça, mas aos poucos a gente vai sentindo o verdadeiro gosto do feijão (em paralelo a gente se dá conta como exagerava no sal).
Li alguma vez que o consumo per capita de feijão tem caído no Brasil. Uma pena, é uma riqueza nossa.

Comida

Li alguma vez que os bebês a partir de 3 meses já são capazes de manipular os pais. Talvez a palavra manipular seja meio forte. Mas o fato é que eles logo percebem oportunidades de barganha e usam o irresistível charme que possuem pra conseguir o que querem. Não sei se é tão cedo assim; em todo o caso, acho que é na alimentação que os bebês mais exercem esse poder. Rapidinho eles percebem o valor que os pais colocam em uma alimentação regular e saudável, e de vez em quando jogam com isso: se fazem de difíceis, fecham a boca, viram pro lado oposto do prato... é uma regra prática: a pior técnica de negociação é demonstrar muito que se quer algo.
No caso dos bebês, o que eles ganham com isso? Mais do que tudo, atenção: ter um pai e uma mãe na volta, falando babababababbabababa aaaaaaabre a boquinhaaaaaa e outras macaquices. E eventualmente ganham outras coisas: algum brinquedinho ou o direito de ver televisão enquanto come. Maus hábitos, mas que às vezes entram na barganha.
Não quero me gabar, mas a Lorena nesse quesito vai relativamente bem. Raramente deu trabalho pra comer. A creche ajuda bastante nisso: ver os colegas comendo é um estímulo muito maior do que ter o seu pai chato dizendo pra comer mais um pouco.
Até o brócolis, que pro Marcos Piangers é um símbolo da "comida que eu gostaria que meu filho comesse" (e da dificuldade de ver isso acontecer), é um dos favoritos da Lorena. Tão favorito que não pode ir pra mesa junto com o resto da comida, senão ela não come mais nada. Brócolis é sobremesa!
Tem outras comidas que eu e a Lidi em um determinado período nos habituamos a mencionar em código, pois se citadas em voz alta, na língua portuguesa, poderiam desencadear uma obsessão incontrolável, só contida quando o tal alimento aparecesse: melancia, milho, batata-doce, uva passa, bergamota e chocolate.


Outra coisa que ajudaria seria ver de onde vêm os alimentos, ter uma hortinha e tal. Mas isso é difícil, morando em um apartamento em Águas Claras. Então o que tenho feito é ir a cada dois sábados na feira do Vicente Pires com a Lorena. Já virou hábito: ela no canguru, eu abro a sacola e ela vai escolhendo as laranjas, o feirante dá um abacaxi pra provar, tá docinho? Na outra banca tem uma prova de queijo minas, um palitinho com um pedaço de manga, e assim vai. A Lorena já está conhecida por lá: outro dia fui sozinho e um feirante me perguntou "cadê a menina?".
Ultimamente temos colocado uma cesta de frutas na mesa, com banana, bergamota e maçã, ou alguma outra fruta que tenha em casa. Isso funciona que é uma beleza: lá pelas tantas a guria passa por ali, dá um jeito de subir na mesa, cata uma fruta, descasca e sai comendo. Acho que é mais fácil se é a criança que toma a iniciativa.
Agora, o que mais ajuda mesmo é dar o exemplo: acho que dificilmente uma criança vai comer frutas e vegetais se os próprios pais não gostam. Eu gosto de chegar em casa do trabalho e limpar uma cenoura, ou uma maçã, ou até um pimentão, e ficar roendo aquilo antes da janta/lanche. De tanto ver aquilo, a Lorena já pede: "que tá comendo, papai?" - e acaba provando (e gostando) dessas coisas. O pimentão mesmo foi uma febre recente.
Mas como disse, não dá pra se gabar muito, até porque já me alertaram que essas coisas mudam: o fato de ter experimentado o máximo de alimentos quando pequeno não garante que esses gostos não mudam depois.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

cromossomos

A genética é uma coisa curiosa.  Alguns traços, físicos ou comportamentais, herdamos do nosso pai. Outros da nossa mãe. Alguns traços não são transmitidos, se perdem ao longo das gerações. De acordo com Darwin, grosseiramente, se algum traço nos dá uma vantagem na competição pela sobrevivência, esse traço tende a prevalecer nas gerações seguintes. Talvez por razões que nem compreendamos no momento: somente no futuro, olhando em retrospectiva, os pesquisadores entenderão porque uma determinada característica "pegou" na espécie. É o caso do sorriso, por exemplo, um traço exclusivo da espécie humana. Quando, pela primeira vez, um bebê pré-histórico sorriu para seus pais, eles não devem ter entendido direito a razão daquilo, mesmo sentindo uma vontade inexplicável de afofar o pequeno. Só hoje entendemos que o sorriso é uma estratégia infalível de criar empatia e com isso, angariar atenção, alimento e proteção.

Digo isso porque eu tenho um traço que muitos acham engraçado: sempre que me concentro em alguma tarefa, ponho a língua pra fora e faço uma leve pressão com os lábios. Me lembro de uma audição musical na 1a série do fundamental, em que eu toquei um instrumento de percussão que só existe em Lajeado: o coco (na verdade são duas metades de um coco seco: batendo um hemisfério no outro, produz-se um som seco, próprio para acompanhamento de audições musicais).
Pois bem, esse acompanhamento exigia grande noção de ritmo, e que eu batesse o coco no momento exato de cada compasso. De modo que naturalmente pus a língua pra fora durante toda a execução da peça, na frente de boa parte da cidade.
Muitos vieram me cumprimentar, não tanto pela música em si, mas por toda a platéia ter, visivelmente, reconhecido minha concentração.
Pelo que soube, muitos dos meus parentes próximos, irmãos e sobrinhos, também têm o mesmo hábito.

Pois bem, na aula de natação que faço com a Lorena, tem dois tipos de atividades: uma mais preliminar, com músicas, pra criança ir se acostumando ao meio líquido, e depois alguns exercícios mais "radicais": pular da borda, engatinhar sobre um tapete de EVA sobre a água, mergulhar, pendurar-se sobre a água até cair, etc. A Lorena fica bem concentrada quando faz essas atividades mais intensas, e adivinhem? Coloca a língua pra fora e pressiona com os lábios, antes do tchibum apoteótico.
Resolvi observar as outras crianças fazendo a mesma atividade. Afinal, talvez seja uma coisa da idade, todos fazem o mesmo.
Mas não, nenhuma outra põe a língua pra fora e pressiona com os lábios quando está concentrada. Só a Lorena.
Todo pai fica orgulhoso de reconhecer em seus filhos características que lhe são comuns. Mesmo que aparentemente não tenham função nenhuma, ou até sejam um pouco pitorescos, como esse. Mas suspeito que, um dia, ainda vamos descobrir que pôr a língua pra fora e pressionar com os lábios quando concentrado propicia algum tipo de vantagem: libera alguma substância estimulante do cérebro, distrai as pessoas ao redor, emagrece, sei lá...

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Curtinhas

Na nossa rua tem uma Kombi "lava-jato", que para todos os fins-de-semana pra tirar um troco limpando essa poeira vermelha que invariavelmente se acumula nos carros em Brasília. Passo em frente todos os sábados e domingos, quando levo a Lorena no parquinho da Dona de Casa, um supermercado que tem a umas 3 quadras.
De primeira a Lorena tinha um pouco de receio de passar perto daquela Kombi. "Barulho", ela dizia, referindo-se ao aspirador. Mas ela foi se acostumando.
Confesso que acho aquilo meio errado: aquela água suja de terra e sabão descendo pela rua, e ainda utilizando um espaço público. Mas o cara tem que ir atrás do pão dele, então a gente sempre acaba relevando. Juro que nunca manifestei em voz alta nenhuma contrariedade com aquilo.
Mas no domingo passado, passamos por ali, e bem na frente dos dois "proprietários" do lava-jato, ela me sai com essa:
"Não faz meleca, titio!"

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Acho que a Lorena não se encantou muito pelo nome da irmã que vai chegar. Ela foi junto na ecografia pra ver o sexo. Ficou um pouco preocupada com aquele tio passando gel na barriga da mamãe ("é hidratante, filhinha" - aí ela se acalmou).
Na saída do consultório, perguntamos ela sobre a preferência do nome. Estávamos em dúvida entre Aurora e Beatriz.
"e aí Lorena, qual vai ser o nome da sua maninha?"
"o nome?"
"é, qual você prefere: Aurora? Ou Beatriz?"
pensou um pouquinho...
"qual mais??"

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Nessa idade que a Lorena está, praticamente todo dia tem uma frase, uma expressão nova que nos deixa boquiabertos, ou totalmente derretidos. São coisinhas simples, que não renderiam por si só uma postagem completa.
Agora, por exemplo, ela está com uma estratégia de terminar todos os pedidos com um "tá bom?", ou "tá legal?" ou então a melhor de todas: "combinado?". Como por exemplo: "papai, agora nós vamos no parquinho, tá legal? Combinado?". Isso aliado a um olhar, assim, misturado de inocência, autoconfiança e doçura.
Acho que ela percebeu que isso é totalmente irresistível. Eu, pelo menos, já vou chamando o elevador pra descer pro parquinho, toda vez que ela me vem com essa. É automático, como hipnose.



blogs de pai

Andei lendo uns blogs de pais e outros textos que me indicaram. Tem o Paizinho, vírgula, que é muito rico em detalhes sobre educação positiva, algo que eu eu (da minha forma atrapalhada) tenho tentado pôr em prática, mesmo sem saber que o nome era esse. Depois que minha prima Rosvita me deu a dica, percebi que muita gente que eu conheço lê esse blog com frequência.
Gostei muito do Eu com elas, que foi indicação da Helene. É uma espécie de diário no facebook, de um pai de duas filhas que é separado da mãe. É bem emocionante o relato de quando ele fica sabendo que as meninas vão morar nos EUA com a mãe, de como ele vai sofrer com a distância.
 Fiquei positivamente surpreso com o livro do Marcos Piangers, "Papai é pop". Surpreso porque eu sempre associei o cara àquele programa "pretinho básico", que, convenhamos, é algo meio descartável (ri na hora, logo depois já esqueceu). O livro de crônicas, que foi recentemente lançado, não se lê, se devora: eu li o meu em meia hora. É bem-humorado, bem-sacado. Ele consegue captar muito bem a espontaneidade e franqueza que toda criança tem.
Tem esse texto da Martha Medeiros, que fala sobre os pais, que confesso que não consigo mais descobrir quem me mandou. A Lidi concordou 100% com o texto (ela volta e meia diz que já tem dois filhos pra criar), já eu nem tanto.
Essa semana li outro texto, também bacana: Minha pessoa favorita.
Curioso que quase todos os pais que escrevem blogs e textos têm meninas. Dos que eu mencionei, só o Paizinho, Vírgula tem um guri. Porque será? Será mesmo que os pais têm uma conexão diferente com as filhas, e ficam tão encantados com suas princesas que não conseguem guardar essas alegrias só pra si, tendo a necessidade de expressar isso em texto? Ou será que os pais de meninos estão tão cansados de conter aquela testosterona toda e correr atrás de seus moleques, que não conseguem parar pra escrever a respeito da paternidade?
Mas voltando ao Piangers: o real motivo de estar escrevendo sobre o livro dele é que uma das filhinhas dele, a mais nova, chama-se Aurora.
Bonito nome, não? Sim, é um lindo nome.




terça-feira, 21 de julho de 2015

Curtinhas (3)

Da série "Coisas que se ouve quando sai com a filha no canguru":

"Ela não vai cair daí?"

"Não está arranhando o rostinho dela?"

"Ela não está sufocando??"

(Vontade de responder: "Sim dona, está sufocando. É um caso perdido, veja como a pele já está azulada").

E outro dia ouvi uma assim: "Olha lá filha, é assim que andam com os bebês nos Estados Unidos!"

kkkkkk


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A Lorena viu comigo um pedaço do jogo entre Brasil e Paraguai na última Copa América. Como o jogo não empolgava, contei pra ela aquela piada:
"Yo soy paraguayo, e vengo aca para matarte!"
 "Para que??"
"Paaara-guayo!!!"

Ela adorou!! Não a piada em si, claro, mas aquele "Paaaraguayo" no final, dito pausadamente, com um olhar cínico e um sotaque portunhol.
Depois disso ela soltava um "Paaaraguayo!!", de vez em quando, mas foi esquecendo da história. Era o que parecia, pelo menos.
Mas domingo passado fomos num restaurante mexicano na asa sul. Tinha um doce de leite de sobremesa que a Lorena chegou a revirar os olhinhos quando comeu. Lá pela terceira colherada, ensinei pra ela o clássico brinde mexicano (arriba, abajo, al centro e adentro), que ela devia fazer com a colher antes de pôr na boca.
"Vai lá Lorena: arriba, abajo, al centro e adentro!"
E ela, percebendo que a sonoridade era parecida, não teve dúvida:
"Paaaraguayo!!"



Dinheiro (3)

Finalizando as postagens sobre esse tópico, tem um outro aspecto que também tem relação com esse assunto: o trabalho. Acho que a nossa relação com o emprego muda depois de ter um filho. Eu, pelo menos, era mais empolgado com o meu antes da Lorena nascer. Mais do que isso, queria que as coisas saíssem do meu jeito. Tem um colega que diz que eu costumo "bater na mesa" quando meu ponto de vista não prevalece.
Atualmente, estou encarando o trabalho mais como uma fonte de financiar o pequeno conforto da minha família. Claro, não estou sendo negligente, mas a fase de achar que ia mudar o mundo com meu suor já passou há tempo. Hoje em dia, estou convicto de que, se meus filhos se tornarem cidadãos decentes, já vou ter dado uma baita contribuição pro planeta.

Outro dia, encontrei um ex-colega do mestrado que atualmente tem uma empresa em Campo Grande e dá aula na universidade. Ele tem uma filha mais velha, de seis anos, e tem um ponto de vista diferente sobre o assunto. Ele disse mais ou menos assim: "Bruno, as pessoas se angustiam muito com dinheiro quando vão ter filhos. Mas pelos filhos, a gente FAZ dinheiro, se precisar."

A Lidi tem um colega de serviço que disse pra ela: "filhos são prosperidade". Acho que é por aí mesmo.

Dinheiro (2)

Bem, voltando ao tema, acho que é normal os pais (homens) ficarem mais angustiados com o custo de um filho. E é correto isso, acho que alguém tem que fazer esse papel mesmo. Não que as mulheres não saibam administrar dinheiro, não é isso. Mas a verdade é que durante a gravidez, a mãe fica muito envolvida emocionalmente com aquele bebê e acaba achando todo resto, inclusive o preço, um pouco irrelevante. Com a Lidi, tive algumas vezes o seguinte diálogo:
"Bruno, temos que comprar um (carrinho? bercinho? bebê-conforto? babá eletrônica? ...). Tem a marca "A", que é boa e custa X, mas tem essa marca aqui "Top das galáxias" que custa 3X. Que achas?"
hmm. A marca é boa e custa 3 vezes menos? Não tem nem dúvida né?
 "Melhor a marca "A", é mais barata né?" - respondo eu


"Mas Alemão, tu não quer o bem da tua filha???"

Quem pode com um argumento desses? Fiquei desconcertado e até acho que cedi uma vez a essa chantagem. Mas depois de algumas vezes, decidi que, sempre que alguém usasse o "tu não quer o bem da tua filha?", perderia a discussão.

Mas, fora essas coisinhas, acho essa coisa do custo meio exagerada, como já disse. No meu caso, depois que a Lorena nasceu, em muitos aspectos passei a economizar, e não gastar mais. Primeiro que, durante a licença-maternidade da Lidi, almoçávamos em casa todo dia (e comer na rua está caro!). Além disso, de modo geral, deixamos de ir em barzinhos e reduzimos muito as idas no cinema. Nos fins-de-semana temos almoçado quase sempre em casa, que é mais tranquilo pra Lorena comer o papá dela. O resultado é que por um bom tempo minha fatura do cartão de crédito ficou 20% menor do que antes.

 Pra completar, outro dia a Lorena não queria dormir e fui dar uma volta com o carrinho (sonífero infalível!). Não é que achei uma nota de 20 reais na rua enquanto passeava? Essa guria só me traz coisa boa!




quinta-feira, 16 de julho de 2015

Curtinhas (2)

Pelo que aprendi sobre crianças, até uns dois anos de idade os bebês não interagem muito com outras crianças. Dificilmente fazem alguma brincadeira mais coordenada, como esconde-esconde (ou pique-esconde, como chamam aqui no DF). Eu percebo que só agora a Lorena está começando a brincar de forma mais interativa com os colegas.
Mas mesmo sem essa interação mais forte, dá pra ver que as crianças curtem estar no "meio do tumulto", com outras crianças em volta. Outro dia fomos no parque de Águas Claras. Ali o piso dos parquinhos é de areia, então dá pra balançar, brincar na areia, escorregar, tudo no mesmo local... é bem gostoso. No dia, tinha bastante crianças, aquele burburinho, e a Lorena lá, escorregando e mexendo na areia.
De repente ela olha pra mim e suspira, com aquele brilho no olhar: "Ahhh, paquinho..."



******************


Tem aqueles fins-de-semana em que estamos mais relaxados em casa, sem visitas, e acaba que deixamos a porta aberta na hora de fazer xixi. Numa dessas, a Lorena vem observar o que o pai dela faz ali no banheiro, saber a razão daquele barulhinho de água correndo.
"que é isso, papai?"
"é o tico do papai, minha filha"
"papai tem tico??"
"tem, meu filhote"

 Observa mais um pouco, olha para o próprio púbis. Hm, por aqui tudo ainda é igualzinho.
 Pelo que soube, da última vez que visitou os avós dela em Rio Grande, também foi dar um conferes enquanto o vovô fazia xixi.

No outro dia, invade o banheiro enquanto a mãe está saindo do banho.
"que é isso, mamãe?"
"é a perereca da mamãe"

Coloca a mãozinha em cima da dita cuja, e diz "hmmm, perereca fofinha".
Agora, volta e meia ela começa a recitar a genitália da família toda. Pra nosso constrangimento, às vezes na frente de estranhos: "Lorena tem perereca, papai tem tico, tia Lou tem perereca, vovô João tem tico. E a mamãe tem perereca fofinha!!"

 



Dinheiro!

Um dos motivos pelos quais as pessoas têm cada vez menos filhos é o custo. Antes da Lorena nascer, lembro de ter lido uma vez uma estimativa de que criar um filho até os 18 anos custaria mais de um milhão de reais. Naturalmente, esses números assustam um pouco. Mas eu não gosto de valorizar em demasia esse aspecto. Nem antes da Lorena nascer eu ficava muito noiado com isso. Claro, o fato de ter um emprego estável ajuda. Mas de um jeito ou de outro, sempre se coloca um cidadão no mundo. Nossos antepassados deram à luz um número muito maior de descendentes, geralmente com menos recursos do que nós temos hoje.
"Ah ", alguém há de dizer, "mas hoje as coisas são diferentes". E de fato são. Antigamente, principalmente no interior do RS, de onde venho, o fato de ter muitos filhos ajudava a família a ter um número maior de braços pra trabalhar. Hoje, o trabalho braçal não tem mais tanto peso, e o diferencial de uma prole passa a ser a educação. E investir em educação custa caro.
Outro fator é o seguinte: embora algumas pessoas acreditem no contrário, há algumas gerações atrás, o risco de um filho não chegar à vida adulta era bem maior do que hoje. Assim, tenho a suspeita de que as pessoas tinham um número maior de filhos pra não correr o risco de ficar sozinhas: garantir que pelo menos alguns filhos lhes desses netos, "perpetuassem a espécie" e, se possível, ainda dessem um suporte na maior idade.
Hoje, como esse risco é menor, é possível investir mais em um único filho, com alguma segurança de que esse retorno vai se pagar.
Essa é uma visão "darwiniana", claro, e tem um paralelo interessante disso com o mundo animal e as estratégias evolutivas de diferentes espécies. Eu tenho um colega que é biólogo com doutorado em ictiologia, o estudo dos peixes. Ele me explicou que na amazônia tem dois tipos de peixes: os de água "branca", com muita argila (nutriente) em suspensão e portanto pouco transparente, e os de água "clara", com pouco nutriente e muito transparente. No primeiro caso, a estratégia predominante é colocar o maior número de ovos possível, mesmo que cada ovo tenha recebido pouca energia (e consequentemente uma menor chance de sobrevivência). Os filhotes são deixados mais à própria sorte, e o peixe aposta na grande quantidade de alimento disponível e no fato de que os predadores terão dificuldade em enxergar a prole. Já no segundo caso, predominam peixes cuja estratégia é colocar um número reduzido de ovos, cada ovo com uma grande quantidade de energia alocada. Nesse caso, os pais também cuidam das larvas por mais tempo.

Nesse paralelo, nossa geração seria a dos peixes de água clara, enquanto nossos avós e bisavós eram os peixes de água branca. E nisso não quero deixar nenhuma crítica, pelo contrário, gosto muito da abordagem dos peixes de água branca, de fomentar a independência dos filhos. E todo mundo sabe que o excesso de cuidado e mimos com a prole traz sérios problemas.

Bom, com mais essa pérola da série "Sociologia de botequim", acabei me alongando e novamente fugi um pouco do tema. Vou continuar na próxima postagem.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Curtinhas

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A Lorena continua com as experimentações verbais. 
Outro dia, na mesa do café, pegou aquela colher cata mel de madeira e deu umas lambidas no mel que tinha restado nos frisos da madeira.
Olhou pra mim e disse: "Quer lambar, papai? Eu já lambei!"

A 1ª conjugação ela já domina.


 *****

Sou um pai desnaturado. Marquei uma viagem a trabalho na semana em que a Lorena estava de aniversário. Como íamos fazer uma festinha no fim-de-semana, não me antenei que a viagem cairia no dia 19 de maio, uma terça-feira.
Quando me dei conta, fiquei me achando o pior pai do mundo. Mas paciência, já tinha marcado; além disso me convenceram de que ela não ficaria traumatizada, pela pouca idade e também pelo fato de que eu certamente estaria presente no dia da festinha.
Na noite do 19, a Lidi fez um happy lá em casa, pros dindos e alguns amigos que não estariam no dia da festa. O pessoal foi chegando em casa e sentando na sala.
Como a Lidi ainda tava terminando as coisas na cozinha, não podendo dar muita atenção pras visitas, a Lorena resolveu assumir o papel de anfitriã e puxa um assunto:
"Meu papai tá viajando!"
Pronto, quebrou o gelo da festinha.

****







XX ou XY?

A notícia de uma nova gravidez sempre traz à tona a questão da eventual preferência dos pais pelo sexo do bebê. Hoje em dia, em que a maioria dos casais têm no máximo 2 filhos, é quase um clichê querer um casalzinho. Ou seja, se o primeiro foi menino, é comum desejar uma menina na 2ª gravidez, e vice-versa.
Mas de modo geral, ainda existe um certo viés de expectativa por meninos, secreta ou explicitamente. Acho que aqui em Brasília isso é mais forte do que no RS. Quando saio com a Lorena e digo pras pessoas que estamos esperando outro bebê, muitas pessoas me dizem "ah, mas agora você deve estar querendo um menino, né?"
Acho que também é comum não revelar um eventual desejo, mesmo que ele exista lá no fundo, pra não criar expectativa e pressão. Mas eu me fiz essa pergunta algumas vezes e vou falar com toda franqueza: não tenho preferência, o que vier será muito bem-vindo!
Confesso que na 1ª gravidez eu imaginava que seria mais fácil pra mim ter um menino primeiro. Não chegava a ser uma preferência, somente algo que eu conseguia ver o processo com mais clareza, digamos.
Mas logo que soubemos que era uma Lorena, já me apaixonei pela idéia de ser pai de uma menina. E está sendo muito bom. Tão bom que às vezes fico inclinado a desejar outra menina, pelo carinho que recebo daquela guriazinha e pela delícia de imaginar como seria se fosse tudo em dobro. Também acho que outra menina faria uma companhia melhor pra Lorena. Em muitos aspectos ela é o estereótipo de uma menininha: gosta de roupas, de hidratantes, de dar atenção pros bebês dela (não me entendam mal: claro que ela é muito mais do que isso; mas essa parte, digamos, feminina, ela também tem). Se fosse outra menina, acho que elas brincariam melhor juntas. Talvez um menino, com aquela energia toda, sei lá... poderia dar conflito.

Por outro lado, claro que a gente fica curioso pra saber como é ser pai de um guri. E tem "ene" casos de casais de irmãos que se dão muito bem (e irmãs que não se dão). Então é difícil tentar ter essa "bola de cristal".
Pensando em tudo isso, descobri que realmente não tenho preferência.

Tem outra coisa interessante sobre as meninas: na gravidez da Lorena, quando contei ao meu antigo chefe que teria uma menina, ele me falou uma coisa que nunca me esqueci: "Bruno, meus parabéns, ter filha mulher é muito bom: você ganha filhos". Fiquei sem entender num primeiro momento, até porque esse chefe, apesar de ser meu amigo, era uma figura pra lá de machista.
Mas depois, observando os casais que conheço, vejo que esse é um fenômeno real: depois de casar e, principalmente, de ter filhos, os casais se voltam com mais frequência aos avós maternos, em busca de apoio, do que aos paternos. Caricaturando, o marido é "perdido" pela sua família de sangue, e passa a ser "incorporado" pela família da mulher.

Acho que é natural: por melhor que uma mãe se dê com a sogra, sempre vai ter mais facilidade de entendimento com a sua própria mãe.

Não é uma regra, claro. Até acho que no caso da Lorena não dá pra fazer essa distinção muito claramente. Mas achei a idéia interessante.
Li um pouco sobre isso em um livro chamado "O banqueiro do sertão", que conta sobre a fundação da cidade de São Paulo, tomando como ponto de partida a miscigenação dos espanhóis e portugueses com os índios no interior da América do Sul. Nas sociedades guaranis, ao casar o marido passava a morar com a família da esposa, responsável por abrir roças pro sogro, etc.
Não lembro de ter constatado esse fenômeno quando morei na Alemanha durante a faculdade (provavelmente, meu olhar sociológico estava direcionado pra outras coisas, como as vizinhas do Wohnheim*). Mas na minha sociologia de botequim, talvez a herança índia do Brasil explique a frase do meu chefe.



* casa do estudante

quarta-feira, 1 de julho de 2015

dois ponto zero

E em breve vai começar tudo de novo... sim, porque em janeiro nossa família vai aumentar e a Lorena vai se tornar irmã mais velha!! Tivemos a confirmação da gravidez no dia 6 de maio. Gozado, sempre ouvi falar que a emoção com o 2º filho é mais contida, que já não é mais tanta novidade... no meu caso, acho que a alegria foi a mesma ou até maior. Talvez porque, ao contrário da gravidez da Lorena, dessa vez demorou alguns meses de tentativa pra engravidar. Ou talvez porque um filho, independente de ser o primeiro ou o sétimo, seja um presentão de Deus mesmo!
Inicialmente, pensávamos em engravidar novamente quando a Lorena tivesse lá por uns 3 anos. Na verdade, antes da Lorena nascer tínhamos até dúvida se teríamos mais de um filho. O combinado era que, se ela fosse boazinha e não desse muito trabalho, pensaríamos em ter mais um. Bem, ela se comportou bem, e aí está!
Abre parênteses: já me alertaram que a vida prega desses truques, e que provavelmente o 2º filho vai ser um foguetinho e nos dar baile todas as noites, pra compensar a relativa tranquilidade que tivemos com a Lorena;
Abre parênteses 2: por outro lado, se levarmos esse raciocínio do "se não der muito trabalho, teremos mais um" ao pé da letra, poderíamos ter o 3º, o 4º...

Enquanto esperávamos o resultado do exame de gravidez no hospital, ficamos de papo com duas irmãs, de uns 4 e 2 anos, que estavam com o pai na sala de espera, enquanto a mãe estava na sala de parto, tendo o irmãozinho mais novo. A família era de Barreiras (BA) e morava em Águas Claras, em um apto de 2 quartos, desde o início do ano. Dava pra ver que tinham saído meio às pressas de casa e que o pai as tinha arrumado, pois estavam de chinelinho em uma manhã fresquinha de outono. Mas foi um momento tão legal, aquelas crianças eram bem espontâneas. Perguntei onde o irmãozinho ia ficar, e a mais velha respondeu, com um sotaque característico: "vai dormir mais eu e minha irmã no quarto", como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Apesar do descuido nos calçados, o pai era paciente e carinhoso com as meninas. Aquela família fez o tempo de espera passar leve, agradável. Pareceu mesmo um presságio da notícia boa que logo iríamos receber.

Na semana passada, fomos consultar com o obstetra, o mesmo que fez o parto da Lorena. Ele é um mineiro gente boa, sossegadíssimo, e às vezes faz piada de gaúcho pra cima de mim.
Durante a gestação da Lorena, falando do RS, ele mencionou que gostava de salame e produtos coloniais. Pensei pra mim: hmm, a vida da minha família inteirinha tá nas mãos desse cara, melhor agradar. E não tive dúvida, numa das idas a Lajeado, passei na feira do produtor e comprei lombo defumado, salame e outras iguarias. Ah, ganhei o cara né... na consulta seguinte, perguntei se ele tinha gostado. Ele respondeu que tinha convidado um amigo pra casa dele e comido tudo de uma vez só!

Pois bem, nessa consulta da semana passada, conversa vai, conversa vem, a Lidi mencionou da viagem dela ao RS, pra cidade dela, Rio Grande.
E o médico: "é na sua região do Rio Grande do Sul que tem aqueles salames, aqueles produtos coloniais?"

Ok, Doutor. Entendi seu recado.





sexta-feira, 26 de junho de 2015

Instinto

Como disse, li alguns livros sobre gravidez, criação de filhos, rotina, etc durante a gestação da Lorena. Pensei o seguinte: como não temos família por perto pra dar (permanentemente) aquele apoio pra gente aprender na prática, vou tentar estar o mais preparado possível, pelo menos na teoria. Sou um tipo mais racional, por isso não acredito que somente o "instinto materno" possa dar, repentinamente, onisciência pra resolver todos os impasses que surgem quando passamos a ter um recém-nascido em casa.

Abre parênteses:
O que não quer dizer que instinto materno não seja fascinante e muito útil em alguns casos. Pra mim, por mais envolvido que um pai (homem) seja, ele nunca vai ter a compreensão orgânica que a mãe tem do filho. Trocar fralda, por exemplo: acho que o homem aprende aquilo de forma mais mecânica, como uma sequência de procedimentos a ser seguidos pra se atingir o sucesso (um bebê limpo). Com a mãe é diferente: quando a Lidi troca a Lorena, observa se ela tem alguma marca, algum machucadinho, inspeciona cada centímetro quadrado do corpinho dela. Parece que a mãe tem uma visão mais... completa, mais abrangente.
A Lidi sempre percebe as coisas que se passam com a Lorena muito antes de qualquer outro. Já teve vezes em que ela olhou pra ela e disse: "tem algo errado com a minha filha". E quando ia ver, dito e feito, tinha alguma ferida na boca (sapinho) que irritava na hora de se alimentar, ou alguma gripe chegando.
Fecha parênteses

Por outro lado, também não adianta ler demais, porque tem muitas "correntes" sobre o assunto, principalmente sobre o estabelecimento (ou não) de uma rotina pro bebê, e às vezes o excesso pode confundir. Lá pelas tantas, os pais têm que abraçar uma estratégia com convicção e segui-la até funcionar.
Como falei, um dos livros que lemos foi "A encantadora de bebês", que no nosso caso ajudou muito a estabelecer uma rotina bem clara pra Lorena. Acho que a colocação em prática dessa rotina foi um dos fatores que ajudou ela a "cumprir as noites" (dormir a noite toda) desde muito cedo, desde os 2 meses. Devo voltar a esse assunto no futuro.
Gostei muito do "Crianças francesas não fazem manha". Além de ser bem divertido de ler, ele também dá boas dicas sobre como fazer a criança "cumprir as noites", sobre alimentação...
Mas achei que o livro generaliza um pouco. Estou certo que existem bons exemplos de criação nos EUA e no Brasil, assim como deve haver crianças birrentas na França (pelo que soube, até já escreveram o "Crianças francesas fazem manha, sim!").
Um livro que comprei e praticamente não li chama se "Why have kids?". Achei o argumento bem interessante: às vezes, pinta-se um quadro em que um bebê vai trazer toda a felicidade do mundo pros pais, e que tão logo ele vier à luz, haverá uma identificação imediata entre mãe e bebê, que se conectarão espiritualmente. Porém, a verdade é que nem sempre é assim: muitas vezes, os pais não se reconhecem de imediato naquela criança, ou a felicidade acaba sendo diminuída pelo cansaço em excesso. E a frustração é ainda maior por não corresponder àquela expectativa da sociedade por conexão e identificação.
Achei legal porque desmistifica e reduz a pressão sobre nós, pais. Mas a verdade é que o livro de resto é um pouco deprimente, e acabei não passando das primeiras páginas.
Durante a gestação, fiquei com essa dúvida na cabeça: e agora, quando ela nascer, será que vou me reconhecer de imediato naquela criança? Entre dezenas de bebês na maternidade, serei capaz de apontar pra Lorena e dizer "essa é minha filha, eu simplesmente sei que é"?
Ou será que vou ser como o pai de "Why have kids", que não reconhece e estranha seu filho?

No meu caso, não foi nenhuma coisa nem outra. Quando a Lorena nasceu, peguei ela no colo e pensei: "essa é minha filha, é a filha que a vida me deu. Não sei se ela se parece comigo, não estou sentindo uma conexão mágica. Mas é minha filha e vou dar o meu melhor pra cuidar dela".
Não sei se consigo me fazer entender, mas não foi uma coisa mágica, instintiva. Foi uma necessidade de cuidar da prole, algo mais pro lado da evolução, animal mesmo, como se estivesse na savana e as feras estivessem à espreita.
Talvez, no fim, seja tudo a mesma coisa.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Gravidez

Quando a marquinha do exame de farmácia ficou azulzinha, há quase 3 anos atrás, minha cabeça ficou um turbilhão. Minha reação foi: "e agora? o que faço? vou fugir correndo!"
A Lidi disse que eu não fugiria de jeito nenhum. Eu devia ficar e ajudá-la com o bebê.
E isso que nós queríamos engravidar, estávamos tentando. Mas na hora em que vira realidade, sempre dá um friozinho na espinha.
Eu acompanhei a gravidez da Lorena assim: curtindo, me preparando, mas o tempo todo com aquela angústia: será que eu dou conta?
Minha maior dúvida sempre foi se teríamos a sabedoria de achar a dose certa, pra tudo. Até algumas gerações atrás, criar bebês era feito de forma autoritária, com uso da violência se necessário. Aparentemente isso não é mais bem-visto hoje em dia, e os pais dão bem mais liberdade pros filhos. Pelo que sei, porém, liberdade em excesso também não funciona, faz com que os pais sejam dominados pelos filhos, que, sem uma diretriz clara, acabam infelizes.
Tudo bem, sabemos o que não fazer. Na teoria, muito simples. Mas na prática, como isso funciona?? Como achar esse ponto ideal entre repressão e liberdade? Se pesar um pouco para um lado, vou criar um rebelde. Se relaxar demais, vou criar um ditadorzinho.
Esse dilema me angustiava.
Quando a Lorena nasceu, dormimos uma noite no hospital, eu meio improvisado no sofá do quarto. Claro, foi uma noite em que pouco dormimos, nossa filha estava aprendendo a viver fora da barriga, e nós aprendendo juntos.
Não tive exatamente um sonho, foi mais uma imagem que criei na minha mente, naquela mistura de adrenalina, alegria, tensão e cansaço: estava eu no Himalaia, com uma picareta na mão, e minha missão era britar todo o Monte Everest! À mão.
Assim me parecia a tarefa de criar um filho: uma tarefa enorme, pra vida toda, que exigiria paciência e perseverança dia após dia, e para a qual eu estava pobremente equipado.

Agora, depois de dois anos, me acalmei bastante. Cheguei à seguinte conclusão: dando atenção, dando carinho pro filho, uns 90% já estão resolvidos, e o resto vem quase que naturalmente. Não vou dizer que acertamos em cheio o ponto de equilíbrio, ou que a Lorena é um exemplo de boas maneiras (nesse exato momento enquanto escrevo, ela está fugindo da mãe no aeroporto de Campinas, em conexão de volta pra Brasília - antes disso ela deu piti pra amarrar o cinto na hora de pousar, e com a freada foi parar embaixo do assento da frente).
Mas com paciência e carinho vamos achando o caminho certo.




segunda-feira, 22 de junho de 2015

A descoberta do pudor

Todo mundo sabe que bebês não têm vergonha da própria nudez. Afinal, vêm ao mundo pelados, assistidos por um monte de adultos, muitas vezes fotografados, filmados... quando são pequenos, tomam banho de mar peladinhos, numa boa.
Mas em algum momento ao longo do crescimento, eles devem se dar conta de que ficar nu é algo para poucos momentos e poucos olhares. Afinal, todo mundo anda sempre vestido, isso deve ter alguma razão de ser.
No feriado de 1º maio, nossos amigos Petry e Teresa (tia Teteresa, como diz a Lorena) vieram almoçar lá em casa com o filhinho deles, o Vinícius.
Temos que fazer uma pausa aqui, pra que vocês entendam o que o Vini representa pra Lorena. Imagine que você é uma menininha de 2 anos de idade.
Pois bem, o Vini é um MENINO.
Ele é mais velho, tem 3 anos e meio. TRÊS anos e meio!
Ele imita animais legais, como tigres e leões.

Ele sabe tudo sobre dinossauros.
Ele é carinhoso com a Lorena: quando ambos vão no pula-pula, ele toma todo cuidado pra não radicalizar demais.


A Lorena suspira por ele, juro. Dá pra ver como ela suspira.

Pois bem, depois do almoço, os dois estavam brincando juntos no tapete, quando a Lorena parou e veio me falar, baixinho, que estava cocô.
Creio que não percebi, naquele momento, o desejo dela por discrição. Falei: "tá bom, o pai vai trocar a fralda".
O Vini, que já tinha estranhado a interrupção repentina da brincadeira, logo entendeu o que se passava. Mas a Lorena cortou ele:  "fica aí, Vini".
Não teve jeito: ele nos seguiu até o quarto, e ficou analisando a anatomia da Lorena enquanto eu limpava o cocô. E a Lorena, muito constrangida: "vai pra sala Vini, vai pra sala!".

Tadinha. Claramente, ela sentiu sua intimidade invadida. E logo em um momento não tão favorável. E logo por quem: pelo VINI! Desde então, tenho tomado mais cuidado. Se tem gente em casa, fecho a porta, ou se estou em público, sempre trato de achar um lugar mais sossegado pra trocar.











domingo, 21 de junho de 2015

Saudades

Faz alguns dias que não vejo a Lorena. Apareceu uma viagem a trabalho pra Lidi na terra dos pais dela, e ela resolveu levar a guria junto, pra rever os avós. Vão ser 8 dias no total. Durante a semana, foi mais fácil, pois estava trabalhando e não senti tanto. Mas ontem e hoje ficou mais melancólico por aqui.
Sempre gostei de viajar a trabalho, principalmente quando tem trabalho de campo. É uma oportunidade pra conversar com as pessoas, entender suas motivações, ver a realidade do país. 
Mas desde que a Lorena nasceu, não tenho mais a mesma pilha. Viajei algumas vezes, pra vários estados, até pra Roraima eu fui nesse meio tempo. Mas muitas vezes, fico com uma ansiedade, querendo voltar logo, várias vezes acabei fazendo as coisas correndo, pra antecipar a volta.
A 1ª viagem foi quando ela tinha uns 2 meses, pro norte de MG, fiquei uns 4 dias fora. Me lembro bem da saudade que senti então: era uma coisa física, uma vontade de pegá-la no colo, como se estivesse faltando algum membro do corpo. Uma saudade diferente. Acho que isso tem a ver com o fato de que os bebês ficam muito no colo nessa idade, a gente acaba acostumando.
Agora, a saudade é de outro tipo. Tudo está tão silencioso, a casa está tão arrumada... Sinto falta do barulho, do blablabla dela mexendo nos brinquedos, das músicas que ela canta, até do choro eventual. Saudade dela chamando às 6h de domingo, daquele cansaço bom que dá no fim do dia, depois de correr atrás dela e levá-la na garupa o dia todo.

Hoje de manhã conversei com a ela no Whatsapp. A Lidi me contou que comprou uma massinha de modelar pra ela se ocupar no carro. Mas era meio dura e farelenta, a Lorena não conseguiu brincar de primeira com aquilo. Ela começou a reclamar, e disse: "A Lorena não funciona, mamãe, a Lorena não funciona".
Ela se comunica, essa guria. Do jeito dela, mas se comunica.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

escrever um blog

Ufa! parece que "quebrei o gelo" e consegui começar de verdade a escrever um blog.
Principalmente a primeira postagem foi mais difícil de escrever. Além de ser mais emocional, fiquei o tempo todo me perguntando se essa decisão é certa, se não estou expondo em excesso minha família... escrevia uma frase, voltava atrás, apagava, lia, relia...
Aos poucos, parece que vai ficando mais natural. Depois das primeiras duas postagens, já fiquei cheio de idéias, tive que anotar todas pra não esquecer. Outro dia custei a dormir, lembrando das peripécias daquela guria sapeca e pensando em como registrá-las de uma forma atraente.
Além disso, escrever um blog é uma experiência diferente pra mim, não pelo fato de escrever em si, mas pelo estilo. No meio acadêmico, há um certo rigor na estrutura que o texto deve seguir: introdução, revisão bibliográfica, metodologia, resultados e conclusões. No meu trabalho, também escrevemos muito. Nossas decisões são documentadas e justificadas em pareceres, que também têm uma lógica parecida: se A é maior que B, então sugiro que se tome a decisão C.
Um blog tem um ritmo diferente, a escrita é mais livre, dá pra abrir uns parênteses mais longos. A gente vai se lembrando das coisas e escrevendo. Nesses dias escrevendo, lembrei da minha preparação pro vestibular, em que o pecado mais fatal que alguém poderia cometer na redação era  "fugir do tema". Pois bem, ao escrever um blog, dá pra fugir do tema de vez em quando, voltar mais na frente (foi o que aconteceu comigo nas postagens do canguru - aquilo não foi planejado), escrever de forma não-linear, indo e voltando no tempo. Também não há a necessidade de se chegar a uma conclusão no final do texto. Além da possibilidade de usar elementos que são raros na escrita mais formal, como diálogos e humor.
O site que hospeda o blog tem um bocado de estatísticas sobre quem acessou. Com um total de 187 visualizações, o blog já é de longe o meu texto mais lido de todos os tempos, ganhando de longe da minha tese (4 leitores), dos meus artigos (uns 10 leitores, talvez) e dos meus pareceres (nenhum leitor). Dá pra saber um bocado de coisa a mais, como o browser usado pra acessar o blog, o link de onde partiu o acesso, e o país em que foi lido. Tem várias visualizações dos EUA, além de duas na Grécia e uma na Polônia! Será que não foi por engano?? Quem será? Prezado amigo grego, gostaria de se identificar?

Bom, mas esse blog é pra falar da Lorena, e não sobre escrever blogs. Então aí vai uma tirada recente dela: procurando o nosso carro no estacionamento (uma Duster verde), ela vai passando de carro em carro dizendo "esse não é o caho do papai, esse não é o caho do papai". Até chegar no nosso carro: "tá aqui, o caho do papai!". E a Lidi pergunta: "que cor é o carro do papai? É verde?".
E ela: "é verde não! é mahom!"

hmmm. Talvez seja hora de lavar o caho. Um abraço




Papai, o gatinho tá dormindo?

No fim de abril desse ano, minha irmã Erika e o Renato, marido dela, vieram do RS passar um fim-de-semana conosco. A Erikinha tem muito jeito com crianças (foi uma das minhas "mãezinhas", conforme postagem anterior). A Lorena sempre vai fácil no colo dela, mesmo sem vê-la tão frequentemente.
Ainda era o fim do período de chuvas em Brasília, não deu pra fazer muita coisa fora de casa. Mas no domingo de tarde deu uma estiada e fomos de bicicleta no Parque de Águas Claras, eu com a Lorena na cadeirinha e a Erika na bike da Lidi.

A Lorena se amarra em andar de bicicleta (devo voltar a esse assunto no futuro).
Já o Renato ficou em casa vendo o Gre-Nal (sobre esse assunto não gostaria de falar mais, obrigado).

Bem, o fato é que íamos pela avenida do Parque, e pouco antes da entrada, passei um gato branco atropelado na rua. O pobre bicho tinha virado um tapete, coitado.
Apesar de ter sido rápido, a Lorena não deixou de perceber e reconhecer naquilo um gato, apesar do estado.
Seguimos pedalando, e ela disse "um gatinho, papai?".
Respondi que sim.
Mais um tempinho, e ela: "o gatinho tá dormindo, papai?".

hmmm, menina esperta. E agora, o que responder?

"Está, minha filha... pode-se dizer que sim"
Mais umas pedadaladas, e ela solta essa:
"o gatinho não vai acordar, né papai?"

Quase parei de pedalar com essa! Minha filhinha de menos de dois anos tinha acabado de compreender algo totalmente abstrato: a morte. Mesmo sem saber a palavra pra isso.
I-m-p-r-e-s-s-i-o-n-a-n-t-e.

Respondi que sim, que ele não ia acordar mais.
Que momento. Essa história acho que nem precisaria registrar no blog, pois provavelmente nunca vou esquecê-la.
A Erika ficou bem impressionada também, tanto com a cena do gato quanto com o insight da Lorena.

No outro dia, fomos levar os dois no aeroporto, e tentando botar pilha na Lorena pra dar tchau pros tios, conversar alguma coisa, mas ela, meio sonolenta ainda, não tava muito pra falar.

E a Lidi: "fala alguma coisa, minha filha! O que foi, o gato comeu sua língua?"

E ela: "o gatinho tá dormindo!"







quinta-feira, 18 de junho de 2015

Canguru! (3)

Agora sim! Nesse post hei de falar do canguru!

Como pai envolvido, me propus a cuidar da Lorena após o fim da licença da Lidi. Em comparação com a maioria das mães de Águas Claras, que em geral são servidoras públicas (6 meses de licença) ou não trabalham, a Lidi teve menos tempo pra se dedicar exclusivamente à filha. Quatro meses de licença, é a regra pra celetista. Mais alguns dias de férias, e chegaria o dia dela voltar ao trabalho.
Desde o início nossa idéia a longo prazo era colocar a Lorena em uma creche, e não com uma babá (volto ao assunto no futuro). Mas colocar na creche com 4 meses é de apertar o coração, né? Eu não tinha noção, mas nessa idade, um mês ou dois fazem uma baita diferença. A Lorena, com quatro meses, ainda nem sentava sozinha! E olha que sentar, por incrível que pareça, é uma tremenda conquista, representa uma baita independência, tanto para o bebê quanto pra quem cuida dele.

Assim, nossa idéia era ficar com ela em casa por mais um tempo, até uns 7-8 meses, e só então colocá-la na escolinha. Pra isso, fizemos um super cronograma de revezamento, que consistia basicamente em "importar" as avós do RS pra cuidar dela, cada uma por um período. E eu acabei pegando um mês de férias também, pra ficar com ela, quando ela tinha por volta dos 5 meses.
Será que dou conta?? Ficar o dia inteiro sozinho com a guria, tentando entender as necessidades dela, a razão do seu choro, botando pra dormir, etc etc??
(na realidade não era beeem o dia inteiro, pois a Lidi voltava pra almoçar em casa quase todos os dias, e aproveitava pra dar de mamar. Mas ainda assim, o normal era sair às 8h30 e chegar umas 19h).

Deu tudo certo. No fim da primeira semana cuidando dela, minha mãe me ligou toda orgulhosa, dizendo que eu era o primeiro Haussmann ("dono-de-casa") na família.
Mas depois de um tempo (e acredito que isso seja verdade pra outros pais e até mães), o grande desafio de cuidar de um bebê pequeno passa a ser vencer o tédio, que uma hora ou outra acaba tomando conta. Principalmente morando em apartamento. Principalmente quando se tem "bicho-carpinteiro", como é o meu caso.
(acho que não preciso pintar um mundo cor-de-rosa e posso ser bem franco aqui: o tédio também faz parte de criar um filho)
Aí é que entra o canguru. Como gosto de caminhar, pensei que seria legal preencher o tempo entre uma mamadeira e outra com uma boa volta pela cidade. E assim fizemos. Caminhávamos pelo parque, a Lorena no canguru. Íamos no hortifruti, a Lorena no canguru. Fomos em uma exposição de origami, no minizôo do La Salle, na exposição da renascença que teve no CCBB... Todos os dias, saía pra caminhar de manhã e de tarde, caminhadas de uma ou até duas horas.
A Lorena normalmente dormia nesses passeios, às vezes até duas sonecas por caminhada. Mas ela nunca reclamava: quando estava acordada, ficava olhando o mundo à volta, balbuciava algo, estava sempre em paz. No livro "O rastro dos cantos", em que documentou suas andanças entre os aborígenes australianos (que já li duas ou três vezes), o escritor Bruce Chatwin veio com uma teoria que gostei muito: por mais urbanos e sedentários (no sentido de não migrar) que sejamos, bem lá no fundo dos nossos genes ainda existe algo do nosso antepassado nômade, caçador-coletor, que nos impele a estar em movimento, e isso explica porque os bebês em geral ficam relaxados com um leve balanço, ou andando no carro. Acho que isso também explica a tranquilidade da Lorena nesses momentos.
 
Enfim, foi nesse período que me apaixonei por esse utensílio. Minha dica para os pais: usem muito o canguru, é uma forma excelente de criar um vínculo com seu filho.
(será que essa satisfação tem a ver com alguma frustração mal resolvida dos pais, decorrente do fato de que somente as mães carregam o filho no ventre? psicólogos, entrem em cena!)
Na época, tinha um canguru de uma conhecida marca italiana. Depois, quando a Lorena ficou mais pesada, as alças começaram a ralar minhas costas e troquei para um ergobaby, seguindo a dica da minha prima Rosvita. Já meu amigo Tiago Ruschel, pelo que sei, é fã dos slings, que eu nunca usei. Acho que todos são válidos.
Um abraço





Canguru! (2)

Como disse no post anterior, me considero um pai envolvido. Troco fralda, botava pra arrotar, boto pra dormir, dou comida, troco de roupa, levo no parquinho, lavo a louça, cozinho... confesso que uma pessoa que me motivou muito a agir dessa forma foi meu colega e amigo Luciano Meneses, que tem uma filha pouco mais de um ano mais velha do que a Lorena. O Luciano é um cara tão empolgado, mas tão empolgado com a paternidade, que cativa sabe? E pense num baiano que fala, viu... quando ele começa a falar da Helena, pode procurar um assento pois certamente virão boas histórias. Ele pode falar uma tarde inteira da pequena dele.
O fato é que, quando a Helena nasceu, o Luciano contava das primeiras noitadas com ela, e explicou como eles faziam quando ela acordava de noite: a esposa dele ficava na cama, enquanto ele levantava, trocava a fralda e levava pra mãe na cama pra dar de mamar. Depois da refeição, ele pegava novamente a menina, botava pra arrotar (pelo menos 10 minutos de pezinho, batendo suavemente nas costas) e depois botava pra dormir, enquanto a mãe voltava pro seu merecido e necessário descanso. A única coisa que ele não fazia, naturalmente, era amamentar. Luciano, meu ídolo!
Eu mesmo nunca cheguei a esse ponto, pelo menos não regularmente. É certo que fiz de tudo um pouco, e na maioria das vezes acordava junto com a Lidi pra ajudar de alguma forma. Muitas vezes também fiquei botando a Lorena pra arrotar enquanto a Lidi voltava pra cama, mas o fato é que no nosso caso isso nunca foi muito sistemático.
De qualquer forma, eu me envolvia em tudo. E, pra mim, o motivo pra termos adotado esse arranjo sempre foi muito claro: é o mais justo. Pois ambos trabalhamos, temos mais ou menos a mesma qualificação, temos salários parecidos, pegamos a EPTG congestionada todo dia... é absolutamente justo que dividamos também as tarefas de casa e os cuidados dos filhos, em todos os aspectos em que isso é possível.
Porém, por mais justo que seja, será que esse arranjo é o melhor para os filhos? Será que um sistema onde os dois pais fazem de tudo, sem uma divisão clara de tarefas, não pode criar confusão na cabeça da criança? Será que o bebê precisa de referências bem distintas do papel de cada pai?
Acho que esse tipo de questionamento é típico de quem passou um tempo na pesquisa científica, como eu. É natural que gastemos algum esforço testando nossas hipóteses, questionando nossas verdades. Talvez se minha formação fosse outra, mergulharia com mais convicção no caminho escolhido, sem ficar constantemente avaliando seus prós e contras.
Minha mãe, que como falei anteriormente, criou os filhos em outro esquema, e nunca reclamou dele, disse uma vez que esse o meu envolvimento é um pouco uma coisa de "moda". Achei divertido, não me importo com o comentário dela, acho que criar filhos é uma coisa tão complexa que temos que considerar todo tipo de experiências e conhecimentos dos outros, principalmente dos pais, pra compor nossa própria "colcha de retalhos".
Minha opinião? Estou muito satisfeito com os resultados até aqui. Participei intensamente da vida da minha filha, acredito que conheço ela muito bem, e sinto que ela retribui com muito carinho a minha dedicação.

P.S. O preâmbulo continua e ainda não entrei no assunto "canguru". Vamos chegar lá!

Canguru!

Como disse na postagem anterior, nada contra os múltiplos arranjos que um casal faz pra "dar água pros seus passarinhos" nem contra o estilo de cada pai. Meu pai mesmo foi um pai mais "tradicional", que focou muito no trabalho e delegou o dia-a-dia com os 7 filhos (isso mesmo!) para a minha mãe (ufa) e para minhas irmãs mais velhas, que lá pelas tantas já estavam ajudando a cuidar dos moleques mais novos. E nem por isso minha admiração pelo meu pai é menor (volto a falar disso no futuro).
Mas a verdade é que eu me considero um pai "que participa". Desde a gravidez tentei me envolver com a vinda da Lorena. Pintei o quarto dela, ajudei a escolher utensílios, li a bibliografia no assunto* e fiz o curso de gestante junto com a Lidi. 
Decidi que ia ajudar a trocar fraldas. Aliás, esse parece ser um divisor de águas: muitas pessoas perguntam se o pai também troca fraldas, e olham com respeito se a resposta for positiva. Aparentemente algumas pessoas acham essa uma tarefa repugnante.
Pois bem, depois de  aproximadamente 2600 trocas de fraldas (sim, pois a Lorena tem uns 750 dias de vida, com uma média de 7 fraldas por dia, sendo que eu devo ter trocado metade das vezes), minha conclusão é que há um exagero nisso. Em primeiro lugar, não é tão repugnante assim: quando o bebê é bem pequeno, o cocô não tem cheiro nenhum, e só à medida em que alimentos sólidos são introduzidos (uns 6 meses, digamos) é que ele passa a ter o cheirinho característico. Assim, a gente vai se acostumando gradativamente ao processo.
Em segundo lugar, não é trabalhoso: trocar fraldas é algo mecânico, se aprende muito facilmente. Existem diversos outros cuidados do bebê que dão bem mais trabalho e exigem um conjunto maior de habilidades. Colocar pra dormir, por exemplo, requer paciência, delicadeza e autocontrole, pois os bebês têm uma "anteninha" pra captar tensões no ar, e um eventual nervosismo dos pais nessa hora pode ser fatal.
Dar de comer, cuidar quando está doente, ter uma rotina disciplinada, todas essas também são atividades mais difíceis do que trocar fraldas, na minha opinião. Volto a elas no futuro.
Porém, essa conclusão eu obtive agora, do alto da minha vaaaasta experiência como pai**. Antes da Lorena nascer (influenciado pelo mito da troca de fraldas), eu tinha sérias dúvidas se teria capacidade de realizar essa tarefa.
Foi por isso que compramos a Lorenilda.
A Lorenilda é uma boneca do tamanho de um bebê de meio ano, mais ou menos (ver foto). A idéia era treinar a troca de fraldas com ela durante a gestação, para estarmos plenamente capacitados quando fosse pra valer.




Claro que isso se revelou uma ideia de jerico, ou como dizem em Lajeado, uma "ideia de girino". A Lorenilda não tem nada a ver com um bebê de verdade: as pernas dela são pouco flexíveis, não há necessidade de amparar a cabeça, a sujeira que ela faz é de "faz-de-conta", ela não faz nenhum movimento imprevisível...
Trocamos a fralda dela uma vez, mas eu logo senti que aquilo tinha me ajudado pouco. Era como tomar cerveja sem álcool, ou leite de soja, como se aquilo não fosse genuíno.
Foi com as boas orientações da Lidi e com a prática que aprendi a trocar fraldas de verdade.
Mas a Lorenilda não foi em vão. Hoje ela é um dos bebês favoritos da Lorena, que chama ela de "Lalaluda".
Bem, vocês devem estar se perguntando a relação do texto dessa postagem com o seu título. Na verdade, ia falar sobre canguru (o utensílio de transporte de bebês, não o animal), mas o preâmbulo do texto acabou ficando longo e criou vida própria. Falo do canguru na próxima.






*What to expect when you are expecting
*Crianças francesas não fazem manha
*A encantadora de bebês

** isso foi uma ironia viu? resolvi avisar pois, como sou considerado "um cara sério", às vezes as pessoas não entendem quando faço ironia.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Papai, quero quebrar!

O nome desse blog, que também intitula a 1a postagem, é uma frase que minha filhinha Lorena, atualmente com 2 anos, soltou há uns 3 meses atrás.
Antes que pensem que ela é um pequeno capeta (não é!), deixem-me explicar: a Lorena ganhou um quebra-cabeça de 24 peças da turma do ursinho Puff, bem colorido, que ela ADORA! No início ela não montava muito, apenas colocava uns ovinhos com pequenos elementos da imagem por cima do quebra-cabeça já montado (ver foto). Mas rapidamente isso ficou aborrecido pra ela, e hoje ela monta super bem!  Ultimamente a primeira atividade ao acordar era montar o tal quebra-cabeça.

Pois bem, numa dessas manhãs, ela sentou na mesinha, olhou para as peças soltas, e disse: "Papai, eu quero... ", pensou um pouco e completou: "Papai, eu quero quebrar!".
Achei fantástico o raciocínio dela. De alguma forma, ela entendeu a estrutura da nossa língua e percebeu que, pra expressar o que ela desejava, precisaria de um verbo. Mas qual é o verbo que se aplica à brincadeira de quebra-cabeça? Quebrar, oras! Se o verbo do pula-pula é pular, e do escorregador é escorregar, é lógico que o do quebra-cabeça é... quebrar!
Desde então, assim como a Lorena achou um jeito de transmitir suas vontades, tenho pensado em escrever esse blog, para expressar um pouco das minhas experiências e opiniões sobre a paternidade, relatar essas pequenas descobertas que fazemos diariamente quando temos um filho pequeno.
E escrever do ponto de vista do pai, que é um personagem com um papel às vezes confuso, cujo envolvimento pode variar desde o "intenso" (trocar fraldas/dar comida/brincar de boneca/limpar a casa/trabalhar) até um estilo mais "provedor" ou "estratégico", com uma divisão clara de tarefas  (com diversas gradações entre esses dois estilos).
(quero deixar claro que nessa rotulação não tem nenhuma crítica, velada ou explícita, a um "estilo" ou outro. Cada lar é uma realidade e cada casal tem um arranjo ideal pra criar seus filhos)
Além disso, acho que não é muito comum os pais escreverem sobre sua condição. Certamente que há blogs de pais (e vou achar um tempo para lê-los também), mas aqui em Águas Claras onde moramos (e onde tem muitos casais jovens com crianças pequenas), vejo que a maioria dos relatos na internet é escrita pelas mães.
Pelo que minha esposa Lidiane me disse, um blog pode até virar coisa séria! Aparentemente, tem até gente que ganha $$ pra fazer blog (com merchandising, algo como "as assaduras do bebê estavam me deixando louco, até que usei a Fralda XXXX e meus problemas acabaram"). Não pretendo ir assim tão longe: não tenho a expectativa de grande audiência, provavelmente vou enviar o link para alguns parentes e amigos verem o que acham, mas a principal razão é mesmo relatar as pequenas descobertas da minha pequena. Até para registrar esses momentos, marcar as datas em que determinados "pontos notáveis" foram atingidos, etc, e quem sabe um dia, daqui a uns 15 anos, a sentar com a Lorena e ler todas as postagens (provavelmente ela vai achar que isso é "mó mico", mas tudo bem).
Volto em breve. Um abraço